Depois dos implantes mamários, chegam os alertas sobre as próteses da anca de metal-metal. É mais uma polémica que coloca a segurança dos dispositivos médicos no centro das atenções dos especialistas.
Primeiro a explicação: há as próteses da anca que são fabricadas com todos os componentes de metal (com uma haste metálica inserida no fémur que termina numa esfera também metálica e que, por sua vez, se move num acetábulo de metal) e as que usam outros materiais, optando por exemplo pela combinação metal-plástico ou cerâmica. Os alertas que agora se fazem ouvir mais alto na comunidade científica dizem respeito apenas às próteses de metal-metal. De acordo com dois artigos publicados este mês - no British Medical Journal (BMJ) e no The Lancet -, estes dispositivos devem estar sob apertada vigilância. São próteses que precisam de mais revisões e têm uma maior taxa de substituições.
É mais uma polémica no mundo dos dispositivos médicos que levanta dúvidas sobre a actual regulação deste mercado na Europa e que, em número de pessoas potencialmente afectadas, ultrapassa em muito o recente e mediático caso dos implantes mamários. O problema das próteses da anca de metal-metal não é novo - em Agosto de 2010 anunciava-se a retirada do mercado de uma marca específica de próteses da anca feitas de metal por apresentarem "uma necessidade de revisão superior à esperada".
Mas a discussão ganhou outro fôlego com a divulgação de novos estudos que se debruçam sobre os efeitos destes dispositivos no nosso organismo. Ainda que os especialistas avisem que "não há razão para alarme", parece haver motivo para dedicar mais e melhor atenção aos portadores de próteses da anca de metal-metal. Em França e no Reino Unido, as autoridades de saúde recomendam que os portadores destas próteses (mesmo que assintomáticos) devem ser identificados e seguidos anualmente. Em Portugal, a estratégia a adoptar pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) está a ser discutida neste momento.
Entretanto, os estudos publicados parecem apontar para evidentes problemas nestes dispositivos. De acordo com um artigo publicado na semana passada no The Lancet, estas próteses apresentam uma alta taxa de fracasso. Os investigadores concluem mesmo que este tipo de dispositivos médicos não deve ser usado de todo. As taxas de revisão serão quatro vezes superiores nas mulheres, as probabilidades de substituição são três vezes maiores para os homens e, de uma forma geral, os pacientes mais jovens estão mais expostos a riscos com estas próteses, avisam ainda os investigadores da Universidade de Bristol que analisaram informação de mais de 400 mil procedimentos incluídos no registo nacional britânico. Os dados publicados revelam que, de uma forma geral, 6,2 % das próteses de metal-metal falharam num prazo de cinco anos (enquanto as de metal-plástico tinham uma taxa de insucesso de 1,7% e as de cerâmica 2,3%). E, adianta ainda a equipa de investigação de Bristol, o tamanho importa. Os maiores implantes também estão associados a riscos acrescidos, com cada milímetro da "cabeça" (esefera) a significar mais 2% de risco de revisão.
Pedro Granja, investigador do Instituto de Engenharia de Biomédica (INEB) da Universidade do Porto, as próteses de metal-metal tentaram ser uma resposta mais duradoura ao desgaste que se verificava nos dispositivos de metal-plástico. "A resistência do metal ao desgaste é bastante superior, permitindo que o implante dure consideravelmente mais tempo. No entanto, esta estratégia é mais recente e só agora se começam a notar, claramente, os efeitos nocivos dos iões metálicos libertados, que causam problemas inflamatórios, imunológicos e mesmo carcinogénicos", explica Pedro Granja. O especialista conclui: "Em consequência, a recomendação actual parece ser a de manter o sistema metal-plástico, que, apesar de resultar numa inevitável revisão, não causa os danos nocivos provocados pelo sistema metal-metal. Este último, não só parece resultar em taxas de revisão superiores como também numa diminuição da taxa de sucesso das mesmas."
Semanas antes da publicação deste estudo no The Lancet, as autoridades de saúde do Reino Unido tinham já referido que os pacientes com próteses de metal-metal precisariam de fazer anualmente análises ao sangue devido a esta hipótese de contaminação com os iões metálicos. Um trabalho publicado este mês no BMJ também concluiu que há necessidade de acompanhar e vigiar os doentes com próteses da anca de metal-metal, anualmente.
Fonte: Público
Primeiro a explicação: há as próteses da anca que são fabricadas com todos os componentes de metal (com uma haste metálica inserida no fémur que termina numa esfera também metálica e que, por sua vez, se move num acetábulo de metal) e as que usam outros materiais, optando por exemplo pela combinação metal-plástico ou cerâmica. Os alertas que agora se fazem ouvir mais alto na comunidade científica dizem respeito apenas às próteses de metal-metal. De acordo com dois artigos publicados este mês - no British Medical Journal (BMJ) e no The Lancet -, estes dispositivos devem estar sob apertada vigilância. São próteses que precisam de mais revisões e têm uma maior taxa de substituições.
É mais uma polémica no mundo dos dispositivos médicos que levanta dúvidas sobre a actual regulação deste mercado na Europa e que, em número de pessoas potencialmente afectadas, ultrapassa em muito o recente e mediático caso dos implantes mamários. O problema das próteses da anca de metal-metal não é novo - em Agosto de 2010 anunciava-se a retirada do mercado de uma marca específica de próteses da anca feitas de metal por apresentarem "uma necessidade de revisão superior à esperada".
Mas a discussão ganhou outro fôlego com a divulgação de novos estudos que se debruçam sobre os efeitos destes dispositivos no nosso organismo. Ainda que os especialistas avisem que "não há razão para alarme", parece haver motivo para dedicar mais e melhor atenção aos portadores de próteses da anca de metal-metal. Em França e no Reino Unido, as autoridades de saúde recomendam que os portadores destas próteses (mesmo que assintomáticos) devem ser identificados e seguidos anualmente. Em Portugal, a estratégia a adoptar pela Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) está a ser discutida neste momento.
Entretanto, os estudos publicados parecem apontar para evidentes problemas nestes dispositivos. De acordo com um artigo publicado na semana passada no The Lancet, estas próteses apresentam uma alta taxa de fracasso. Os investigadores concluem mesmo que este tipo de dispositivos médicos não deve ser usado de todo. As taxas de revisão serão quatro vezes superiores nas mulheres, as probabilidades de substituição são três vezes maiores para os homens e, de uma forma geral, os pacientes mais jovens estão mais expostos a riscos com estas próteses, avisam ainda os investigadores da Universidade de Bristol que analisaram informação de mais de 400 mil procedimentos incluídos no registo nacional britânico. Os dados publicados revelam que, de uma forma geral, 6,2 % das próteses de metal-metal falharam num prazo de cinco anos (enquanto as de metal-plástico tinham uma taxa de insucesso de 1,7% e as de cerâmica 2,3%). E, adianta ainda a equipa de investigação de Bristol, o tamanho importa. Os maiores implantes também estão associados a riscos acrescidos, com cada milímetro da "cabeça" (esefera) a significar mais 2% de risco de revisão.
Pedro Granja, investigador do Instituto de Engenharia de Biomédica (INEB) da Universidade do Porto, as próteses de metal-metal tentaram ser uma resposta mais duradoura ao desgaste que se verificava nos dispositivos de metal-plástico. "A resistência do metal ao desgaste é bastante superior, permitindo que o implante dure consideravelmente mais tempo. No entanto, esta estratégia é mais recente e só agora se começam a notar, claramente, os efeitos nocivos dos iões metálicos libertados, que causam problemas inflamatórios, imunológicos e mesmo carcinogénicos", explica Pedro Granja. O especialista conclui: "Em consequência, a recomendação actual parece ser a de manter o sistema metal-plástico, que, apesar de resultar numa inevitável revisão, não causa os danos nocivos provocados pelo sistema metal-metal. Este último, não só parece resultar em taxas de revisão superiores como também numa diminuição da taxa de sucesso das mesmas."
Semanas antes da publicação deste estudo no The Lancet, as autoridades de saúde do Reino Unido tinham já referido que os pacientes com próteses de metal-metal precisariam de fazer anualmente análises ao sangue devido a esta hipótese de contaminação com os iões metálicos. Um trabalho publicado este mês no BMJ também concluiu que há necessidade de acompanhar e vigiar os doentes com próteses da anca de metal-metal, anualmente.
Fonte: Público
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