Há quem defenda que a recente determinação da massa do bosão de Higgs torna possível um cenário de destruição do Universo. Mas também há quem duvide...
"É possível que o Universo em que vivemos seja intrinsecamente instável e que, a dada altura, daqui a dezenas de milhares de milhões de anos, venha de repente a ser varrido sem deixar rasto", afirmou, em Boston, um físico teórico norte-americano, Joseph Lykken, do Fermilab (EUA). O cientista fez esta declaração aos jornalistas na segunda-feira, quase no fim do congresso anual da AAAS (American Association for the Advancement of Science), à margem da sua conferência sobre os mais recentes resultados acerca do bosão de Higgs, noticiou a Reuters.
O fim do Universo não constitui propriamente uma ameaça para nós ou o planeta, visto que a Terra terá desaparecido muito antes, quando o Sol esgotar o seu combustível, daqui a uns 4,5 mil milhões de anos. Porém, isso não tem impedido os especialistas de imaginar uma série de possíveis cenários. E embora o mais provável seja que a expansão e a diluição do Cosmos prossigam sem sobressaltos até nada dele ficar, existem teorias mais apocalípticas, entre as quais se inclui a que foi agora evocada por Lykken.
Lykken falou do fim do Universo no mesmo dia em que o LHC - o grande esmagador de protões do CERN, perto de Genebra, na Suíça, onde o bosão de Higgs foi descoberto no ano passado - fechou por dois anos para uma renovação de fundo. E de facto, a "profecia" deste cientista, que também faz parte da equipa do LHC, tem tudo a ver com a descoberta do Higgs, uma vez que a estimativa da massa desta partícula é hoje muito mais certeira. A massa do bosão de Higgs ronda, sabe-se agora, graças aos dados produzidos pelo LHC, os 126 GeV (giga-electrão-volts).
O bosão de Higgs era a única partícula que faltava detectar para completar o elenco previsto pelo chamado Modelo-Padrão - a teoria que actualmente melhor descreve o mundo das partículas elementares. Teorizado há cerca de 50 anos, o Higgs só existe materialmente durante brevíssimos instantes, quando é criado numa colisão de protões dentro do LHC. No entanto, desempenha um papel no mínimo fundamental: confere massa às outras partículas, sendo por isso directamente responsável pela existência da matéria tal como a observamos todos os dias - nas galáxias, nas estrelas e nos planetas, mas também em nós próprios e em todos as coisas que nos rodeiam.
Mas acontece que, conhecendo-se a massa do bosão de Higgs - e daí, o valor de todos os parâmetros do Modelo-Padrão -, torna-se possível utilizar esse modelo para "calcular" o destino do Universo. Foi o que motivou as declarações de Lykken: "Esse cálculo diz-nos que, daqui a muitas dezenas de milhares de milhões de anos, vai acontecer uma catástrofe", explicou o cientista. "Uma pequena bolha de algo a que poderíamos chamar de universo "alternativo" irá surgir algures, expandir-se e destruir-nos." O fenómeno, que segundo a teoria em causa se verifica ciclicamente devido à instabilidade inerente do vácuo (designado por isso de "falso vácuo") irá desenrolar-se à velocidade da luz, dando origem a outro Universo que nada terá a ver com o actual.
Mas qual é, na realidade, a probabilidade de que as coisas se passem efectivamente dessa maneira? Peter Woit, físico e matemático da Universidade de Columbia (Nova Iorque), acha que se trata de um cenário muito pouco realista. "Para acreditar que este cálculo reflecte a realidade", disse Woit ao PÚBLICO, "seria basicamente preciso acreditar que não existe uma nova física, ainda desconhecida, muito para além dos níveis de energia acessíveis ao LHC. E também seria preciso acreditar que o cálculo [de Lykken] não será afectado pela gravitação quântica, que não percebemos mas que sabemos deve tornar-se importante a níveis de energia muito elevados". É um facto que a generalidade dos físicos acha que o Modelo-Padrão é um modelo incompleto, que está longe de conseguir prever tudo.
"O cenário de que Lykken fala", diz ainda Woit, "deriva de uma extrapolação para níveis de energia milhões de milhões de vezes superiores a tudo o que somos capazes de medir, utilizando um cálculo que temos todas as razões de pensar não é fiável a esses níveis. Portanto, as pessoas podem ficar descansadas..."
Fonte: Público
"É possível que o Universo em que vivemos seja intrinsecamente instável e que, a dada altura, daqui a dezenas de milhares de milhões de anos, venha de repente a ser varrido sem deixar rasto", afirmou, em Boston, um físico teórico norte-americano, Joseph Lykken, do Fermilab (EUA). O cientista fez esta declaração aos jornalistas na segunda-feira, quase no fim do congresso anual da AAAS (American Association for the Advancement of Science), à margem da sua conferência sobre os mais recentes resultados acerca do bosão de Higgs, noticiou a Reuters.
O fim do Universo não constitui propriamente uma ameaça para nós ou o planeta, visto que a Terra terá desaparecido muito antes, quando o Sol esgotar o seu combustível, daqui a uns 4,5 mil milhões de anos. Porém, isso não tem impedido os especialistas de imaginar uma série de possíveis cenários. E embora o mais provável seja que a expansão e a diluição do Cosmos prossigam sem sobressaltos até nada dele ficar, existem teorias mais apocalípticas, entre as quais se inclui a que foi agora evocada por Lykken.
Lykken falou do fim do Universo no mesmo dia em que o LHC - o grande esmagador de protões do CERN, perto de Genebra, na Suíça, onde o bosão de Higgs foi descoberto no ano passado - fechou por dois anos para uma renovação de fundo. E de facto, a "profecia" deste cientista, que também faz parte da equipa do LHC, tem tudo a ver com a descoberta do Higgs, uma vez que a estimativa da massa desta partícula é hoje muito mais certeira. A massa do bosão de Higgs ronda, sabe-se agora, graças aos dados produzidos pelo LHC, os 126 GeV (giga-electrão-volts).
O bosão de Higgs era a única partícula que faltava detectar para completar o elenco previsto pelo chamado Modelo-Padrão - a teoria que actualmente melhor descreve o mundo das partículas elementares. Teorizado há cerca de 50 anos, o Higgs só existe materialmente durante brevíssimos instantes, quando é criado numa colisão de protões dentro do LHC. No entanto, desempenha um papel no mínimo fundamental: confere massa às outras partículas, sendo por isso directamente responsável pela existência da matéria tal como a observamos todos os dias - nas galáxias, nas estrelas e nos planetas, mas também em nós próprios e em todos as coisas que nos rodeiam.
Mas acontece que, conhecendo-se a massa do bosão de Higgs - e daí, o valor de todos os parâmetros do Modelo-Padrão -, torna-se possível utilizar esse modelo para "calcular" o destino do Universo. Foi o que motivou as declarações de Lykken: "Esse cálculo diz-nos que, daqui a muitas dezenas de milhares de milhões de anos, vai acontecer uma catástrofe", explicou o cientista. "Uma pequena bolha de algo a que poderíamos chamar de universo "alternativo" irá surgir algures, expandir-se e destruir-nos." O fenómeno, que segundo a teoria em causa se verifica ciclicamente devido à instabilidade inerente do vácuo (designado por isso de "falso vácuo") irá desenrolar-se à velocidade da luz, dando origem a outro Universo que nada terá a ver com o actual.
Mas qual é, na realidade, a probabilidade de que as coisas se passem efectivamente dessa maneira? Peter Woit, físico e matemático da Universidade de Columbia (Nova Iorque), acha que se trata de um cenário muito pouco realista. "Para acreditar que este cálculo reflecte a realidade", disse Woit ao PÚBLICO, "seria basicamente preciso acreditar que não existe uma nova física, ainda desconhecida, muito para além dos níveis de energia acessíveis ao LHC. E também seria preciso acreditar que o cálculo [de Lykken] não será afectado pela gravitação quântica, que não percebemos mas que sabemos deve tornar-se importante a níveis de energia muito elevados". É um facto que a generalidade dos físicos acha que o Modelo-Padrão é um modelo incompleto, que está longe de conseguir prever tudo.
"O cenário de que Lykken fala", diz ainda Woit, "deriva de uma extrapolação para níveis de energia milhões de milhões de vezes superiores a tudo o que somos capazes de medir, utilizando um cálculo que temos todas as razões de pensar não é fiável a esses níveis. Portanto, as pessoas podem ficar descansadas..."
Fonte: Público
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