Arqueólogos descobriram num sítio maia, na Guatemala, a estrutura arquitectónica mais antiga da que é a marca de água das futuras cidades maias, as praças e as pirâmides.
A questão é sobre pirâmides e cerimónias, mas é principalmente sobre origens. Viaje-se no tempo e no espaço até à América Central, na actual região da Guatemala, ao ano 1000 a.C.. Estava-se então no início daquilo a que os arqueólogos chamam "período pré-clássico médio". Naquela região existia uma constelação de povoações. As famílias, depois de séculos a viverem da agricultura, agregaram-se em grupos mais complexos onde as classes sociais começaram a germinar. No meio desta efervescência, nasceram as primeiras praças e pirâmides, que mais tarde seriam a marca de água das cidades-estado da cultura maia. Os arqueólogos descobriram agora no local arqueológico maia de Ceibal que estas estruturas nasceram dois séculos mais cedo do que se conhecia, revela um artigo publicado na Science.
Estas praças e pirâmides fazem parte de um complexo construído em conjunto e são expressões arquitectónicas de uma mudança social que existiu, por esta altura, desde o Sul da Guatemala até ao golfo do México. Já se sabia que o aparecimento da civilização maia como a conhecemos esteve ligada a este desenvolvimento, mas os autores defendem no artigo que os maias participaram nessa mudança regional. "Há esta ideia da origem da civilização maia como um acontecimento interno e isolado, e há esta outra ideia de que foi uma influência externa que desencadeou a complexidade social da civilização maia. Agora, estamos a pensar que o que se passou não é nem preto nem branco", diz Victor Castillo, um dos autores do artigo que pertence à Faculdade de Antropologia na Universidade de Arizona, nos Estados Unidos.
Foi no período clássico, entre 250 e 900 d.C., que as cidades mais espectaculares da civilização maia prosperaram, como Tikal, situada a norte de Ceibal, já no início da península de Iucatão. Mas, durante os séculos anteriores, verificou-se a ascensão e a queda de cidades e de outras civilizações como a olmeca, que é outra das personagens desta história.
A civilização olmeca englobava cidades situadas na costa do golfo do México, centenas de quilómetros a norte de Ceibal. Centros como o de San Lorenzo, no istmo de Tehuantepec, atingiram o auge antes de 1200 a.C.. Mas as prospecções arqueológicas feitas até hoje ainda não revelaram em San Lorenzo as estruturas arquitectónicas de praças e pirâmides que se tornaram depois presentes nos maias. Contudo, La Venta, o grande centro olmeca que floresceu por volta dos 800 anos a.C., após o esvaziamento de San Lorenzo, já apresentava estes complexos.
Os académicos sempre debateram a influência dos olmecas no desenvolvimento da sociedade maia das terras baixas [no Norte da Guatemala e na península de Iutacão]", lê-se no artigo da Science. "Alguns viam-nos como a cultura-mãe: a fonte de todas as inovações culturais, a partir de onde as artes e o sistema centralizado de política se espalharam para os maias e para outros grupos na América Central."
Há, contudo, quem defenda que os grupos maias que se estavam a desenvolver a sul eram pouco influenciados pelos olmecas e que estariam mais ou menos isolados. Mas a existência das praças e pirâmides em La Venta é um forte argumento a favor da força dos olmecas como cultura-mãe. Só que o novo trabalho põe em causa a tese de que os olmecas serviram de inspiração à cultura dos maias.
Takeshi Inomata, da mesma universidade de Victor Castillo, e outros colegas que trabalham nos Estados Unidos e no Japão fizeram prospecções arqueológicas em algumas estruturas de Ceibal, que fica na Guatemala, na fronteira sul da província de Petén, e descobriram que no ano 1000 a.C. já existiam estes complexos cerimoniais, apesar de serem muito menos sofisticados e grandes. As estruturas mais antigas de pirâmides e praças que se conheciam na cidade olmeca de La Venta eram 200 anos mais novas do que estas.
"O principal complexo em Ceibal é feito por uma praça, a oeste dela está uma plataforma ou pirâmide e, a leste, está um monte [aplanado]", explica Inomata. "Esta estrutura é genericamente conhecida por 'Estrutura do Grupo E', e pode-se encontrar por todo o Sul da América Central", acrescenta.
Os autores defendem que as pirâmides e praças de La Venta, datadas dois séculos mais tarde do que as que agora foram descobertas em Ceibal, pertencem ao mesmo tipo de estruturas. "Provavelmente, os seus usos eram similares", defende Inomata. "Os rituais eram muito importantes para estas civilizações, e há uma série de depósitos associados a rituais na praça de Ceibal. Encontraram-se machados feitos de jade, que eram depositados como uma espécie de oferta", descreve.
Portanto, esta novidade põe em causa o lugar dos olmecas na cultura maia. “Há uma mudança social profunda a acontecer desde as terras baixas dos maias, passando pela região de Chiapas [região no Sul do México, junto ao Pacífico, colada à Guatemala] até ao sul do golfo do México”, argumenta o investigador. "Esta nova ordem social não emergiu só de um centro, como o do golfo do México dos olmecas, mas através de muitas interacções entre diversos grupos, incluindo os maias."
Fonte: Público
A questão é sobre pirâmides e cerimónias, mas é principalmente sobre origens. Viaje-se no tempo e no espaço até à América Central, na actual região da Guatemala, ao ano 1000 a.C.. Estava-se então no início daquilo a que os arqueólogos chamam "período pré-clássico médio". Naquela região existia uma constelação de povoações. As famílias, depois de séculos a viverem da agricultura, agregaram-se em grupos mais complexos onde as classes sociais começaram a germinar. No meio desta efervescência, nasceram as primeiras praças e pirâmides, que mais tarde seriam a marca de água das cidades-estado da cultura maia. Os arqueólogos descobriram agora no local arqueológico maia de Ceibal que estas estruturas nasceram dois séculos mais cedo do que se conhecia, revela um artigo publicado na Science.
Estas praças e pirâmides fazem parte de um complexo construído em conjunto e são expressões arquitectónicas de uma mudança social que existiu, por esta altura, desde o Sul da Guatemala até ao golfo do México. Já se sabia que o aparecimento da civilização maia como a conhecemos esteve ligada a este desenvolvimento, mas os autores defendem no artigo que os maias participaram nessa mudança regional. "Há esta ideia da origem da civilização maia como um acontecimento interno e isolado, e há esta outra ideia de que foi uma influência externa que desencadeou a complexidade social da civilização maia. Agora, estamos a pensar que o que se passou não é nem preto nem branco", diz Victor Castillo, um dos autores do artigo que pertence à Faculdade de Antropologia na Universidade de Arizona, nos Estados Unidos.
Foi no período clássico, entre 250 e 900 d.C., que as cidades mais espectaculares da civilização maia prosperaram, como Tikal, situada a norte de Ceibal, já no início da península de Iucatão. Mas, durante os séculos anteriores, verificou-se a ascensão e a queda de cidades e de outras civilizações como a olmeca, que é outra das personagens desta história.
A civilização olmeca englobava cidades situadas na costa do golfo do México, centenas de quilómetros a norte de Ceibal. Centros como o de San Lorenzo, no istmo de Tehuantepec, atingiram o auge antes de 1200 a.C.. Mas as prospecções arqueológicas feitas até hoje ainda não revelaram em San Lorenzo as estruturas arquitectónicas de praças e pirâmides que se tornaram depois presentes nos maias. Contudo, La Venta, o grande centro olmeca que floresceu por volta dos 800 anos a.C., após o esvaziamento de San Lorenzo, já apresentava estes complexos.
Os académicos sempre debateram a influência dos olmecas no desenvolvimento da sociedade maia das terras baixas [no Norte da Guatemala e na península de Iutacão]", lê-se no artigo da Science. "Alguns viam-nos como a cultura-mãe: a fonte de todas as inovações culturais, a partir de onde as artes e o sistema centralizado de política se espalharam para os maias e para outros grupos na América Central."
Há, contudo, quem defenda que os grupos maias que se estavam a desenvolver a sul eram pouco influenciados pelos olmecas e que estariam mais ou menos isolados. Mas a existência das praças e pirâmides em La Venta é um forte argumento a favor da força dos olmecas como cultura-mãe. Só que o novo trabalho põe em causa a tese de que os olmecas serviram de inspiração à cultura dos maias.
Takeshi Inomata, da mesma universidade de Victor Castillo, e outros colegas que trabalham nos Estados Unidos e no Japão fizeram prospecções arqueológicas em algumas estruturas de Ceibal, que fica na Guatemala, na fronteira sul da província de Petén, e descobriram que no ano 1000 a.C. já existiam estes complexos cerimoniais, apesar de serem muito menos sofisticados e grandes. As estruturas mais antigas de pirâmides e praças que se conheciam na cidade olmeca de La Venta eram 200 anos mais novas do que estas.
"O principal complexo em Ceibal é feito por uma praça, a oeste dela está uma plataforma ou pirâmide e, a leste, está um monte [aplanado]", explica Inomata. "Esta estrutura é genericamente conhecida por 'Estrutura do Grupo E', e pode-se encontrar por todo o Sul da América Central", acrescenta.
Os autores defendem que as pirâmides e praças de La Venta, datadas dois séculos mais tarde do que as que agora foram descobertas em Ceibal, pertencem ao mesmo tipo de estruturas. "Provavelmente, os seus usos eram similares", defende Inomata. "Os rituais eram muito importantes para estas civilizações, e há uma série de depósitos associados a rituais na praça de Ceibal. Encontraram-se machados feitos de jade, que eram depositados como uma espécie de oferta", descreve.
Portanto, esta novidade põe em causa o lugar dos olmecas na cultura maia. “Há uma mudança social profunda a acontecer desde as terras baixas dos maias, passando pela região de Chiapas [região no Sul do México, junto ao Pacífico, colada à Guatemala] até ao sul do golfo do México”, argumenta o investigador. "Esta nova ordem social não emergiu só de um centro, como o do golfo do México dos olmecas, mas através de muitas interacções entre diversos grupos, incluindo os maias."
Fonte: Público
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