As corujas das Filipinas esquivaram-se aos cientistas durante anos. Ao estudarem os chamamentos destas aves de rapina nocturnas, descobriram-se agora diferenças tão grandes entre elas que confirmam a existência de duas espécies novas. Uma delas é a única coruja-gavião conhecida em todo o mundo com olhos azulados e que, como se não bastasse, têm ainda outras cores.
A ornitóloga norte-americana Pamela Rasmussen, especialista em aves do continente asiático, acabou de regressar há dias das florestas das Filipinas. Durante várias noites, palmilhou as pequenas ilhas Camiguin e Cebu à procura das corujas-gavião, que, apesar deste nome, são tímidas. Pouco se sabe sobre estes animais.
Mas esta história começou muito antes e longe das Filipinas. "Quando começámos a estudar estas corujas, já sabíamos que aquela que era considerada há muito tempo uma única espécie - a coruja-gavião-filipina, ou Ninox philippensis - correspondia, na verdade, a três formas diferentes", diz ao PÚBLICO Pamela Rasmussen, da Universidade Estadual do Michigan, nos EUA. Agora, além das duas novas espécies, a sua equipa classificou ainda uma nova subespécie.
Os investigadores procuraram exemplares destas corujas, guardados há anos, nalguns casos mais de um século, em 22 museus de história natural de vários países, desde os Estados Unidos e Filipinas até ao Reino Unido, França e Alemanha. Mediram asas, caudas e garras e observaram padrões de cor das penas. "A partir da sua morfologia, ou seja, características exteriores, descobrimos que havia três formas ainda não descritas para a ciência", conta a ornitóloga.
Mas ainda não tinham a prova definitiva de que aqueles animais eram, na verdade, de espécies distintas. A melhor maneira de distinguir estas aves foi apurar o ouvido. E foi esse estudo inédito que em 2011 se tornou possível. "Recebemos gravações de muito boa qualidade das vocalizações que as corujas utilizam para reconhecer parceiros sexuais ou defender os seus territórios, graças a ornitólogos e guias locais", acrescenta Pamela Rasmussen.
Passaram muitas horas a estudar os sons, como CUR, CUR"r, CUR"ur, que é diferente de KRT-KRT-KRT (escrevem-se com maiúsculas ou minúsculas conforme os sons são mais ou menos altos), e que estão disponíveis numa base de dados do Centro de Vocalizações de Aves da Universidade Estadual do Michigan, em avocet.zoology.msu.edu. "Tornou-se claro que as novas formas de coruja-gavião eram muito diferentes, tendo em conta as suas vocalizações."
Assim se identificaram as duas novas espécies: a coruja-gavião da ilha de Camiguin (Ninox leventisi), que é a da íris azulada, e a coruja-gavião da ilha de Cebu (Ninox rumpeseyi), como lhes chamaram os cientistas no artigo publicado em Agosto, na edição anual da revista britânica Forktail, do Clube de Aves Orientais. Ao contrário de todas as outras corujas-gavião, que têm a íris amarela, a da ilha de Camiguin, além do azulado, pode ainda ter os olhos de outras cores. Os cientistas descrevem-nos também esbranquiçados ou esverdeados.
A terceira nova forma de coruja, que vive na ilha de Tablas, não tem tantas características distintivas, por isso é considerada uma subespécie, com o nome Ninox spilonota fisheri.
Habitat ameaçado
Depois de ter percebido que havia corujas-gavião diferentes pelos sons gravados, Pamela Rasmussen viajou para as Filipinas, onde conseguiu registar os sons das novas espécies.
Por enquanto, diz a investigadora, são conhecidas sete espécies de corujas-gavião nas Filipinas, incluindo já as duas novas. Para Pamela Rasmussen, este estudo mostra que existem mais espécies de corujas naquele arquipélago do que se pensava até agora. "A maioria dos animais vive em ilhas que são pequenas ou mesmo muito pequenas. Para cada espécie, o habitat que ainda lhes resta é muito reduzido, devido à desflorestação. Por isso, em vez de existir uma única espécie com uma boa distribuição e que não está ameaçada, temos sete. Algumas vão estar na lista das espécies ameaçadas em breve. Não há dúvidas quanto a isso."
O destino destas corujas-gavião é incerto. "Há poucos observadores de aves que vão às Filipinas e ainda menos são aqueles que conseguem ver estes animais", diz. "Agora que se conhecem sete espécies mais ornitólogos irão procurar as ilhas de Cebu, Camiguin ou Tablas." E isto pode trazer benefícios para a natureza. "Mais visitantes podem ajudar os guias locais e hotéis a fazer dinheiro com a observação das aves e ajudá-los a perceber a importância da floresta."
Fonte: Público
A ornitóloga norte-americana Pamela Rasmussen, especialista em aves do continente asiático, acabou de regressar há dias das florestas das Filipinas. Durante várias noites, palmilhou as pequenas ilhas Camiguin e Cebu à procura das corujas-gavião, que, apesar deste nome, são tímidas. Pouco se sabe sobre estes animais.
Mas esta história começou muito antes e longe das Filipinas. "Quando começámos a estudar estas corujas, já sabíamos que aquela que era considerada há muito tempo uma única espécie - a coruja-gavião-filipina, ou Ninox philippensis - correspondia, na verdade, a três formas diferentes", diz ao PÚBLICO Pamela Rasmussen, da Universidade Estadual do Michigan, nos EUA. Agora, além das duas novas espécies, a sua equipa classificou ainda uma nova subespécie.
Os investigadores procuraram exemplares destas corujas, guardados há anos, nalguns casos mais de um século, em 22 museus de história natural de vários países, desde os Estados Unidos e Filipinas até ao Reino Unido, França e Alemanha. Mediram asas, caudas e garras e observaram padrões de cor das penas. "A partir da sua morfologia, ou seja, características exteriores, descobrimos que havia três formas ainda não descritas para a ciência", conta a ornitóloga.
Mas ainda não tinham a prova definitiva de que aqueles animais eram, na verdade, de espécies distintas. A melhor maneira de distinguir estas aves foi apurar o ouvido. E foi esse estudo inédito que em 2011 se tornou possível. "Recebemos gravações de muito boa qualidade das vocalizações que as corujas utilizam para reconhecer parceiros sexuais ou defender os seus territórios, graças a ornitólogos e guias locais", acrescenta Pamela Rasmussen.
Passaram muitas horas a estudar os sons, como CUR, CUR"r, CUR"ur, que é diferente de KRT-KRT-KRT (escrevem-se com maiúsculas ou minúsculas conforme os sons são mais ou menos altos), e que estão disponíveis numa base de dados do Centro de Vocalizações de Aves da Universidade Estadual do Michigan, em avocet.zoology.msu.edu. "Tornou-se claro que as novas formas de coruja-gavião eram muito diferentes, tendo em conta as suas vocalizações."
Assim se identificaram as duas novas espécies: a coruja-gavião da ilha de Camiguin (Ninox leventisi), que é a da íris azulada, e a coruja-gavião da ilha de Cebu (Ninox rumpeseyi), como lhes chamaram os cientistas no artigo publicado em Agosto, na edição anual da revista britânica Forktail, do Clube de Aves Orientais. Ao contrário de todas as outras corujas-gavião, que têm a íris amarela, a da ilha de Camiguin, além do azulado, pode ainda ter os olhos de outras cores. Os cientistas descrevem-nos também esbranquiçados ou esverdeados.
A terceira nova forma de coruja, que vive na ilha de Tablas, não tem tantas características distintivas, por isso é considerada uma subespécie, com o nome Ninox spilonota fisheri.
Habitat ameaçado
Depois de ter percebido que havia corujas-gavião diferentes pelos sons gravados, Pamela Rasmussen viajou para as Filipinas, onde conseguiu registar os sons das novas espécies.
Por enquanto, diz a investigadora, são conhecidas sete espécies de corujas-gavião nas Filipinas, incluindo já as duas novas. Para Pamela Rasmussen, este estudo mostra que existem mais espécies de corujas naquele arquipélago do que se pensava até agora. "A maioria dos animais vive em ilhas que são pequenas ou mesmo muito pequenas. Para cada espécie, o habitat que ainda lhes resta é muito reduzido, devido à desflorestação. Por isso, em vez de existir uma única espécie com uma boa distribuição e que não está ameaçada, temos sete. Algumas vão estar na lista das espécies ameaçadas em breve. Não há dúvidas quanto a isso."
O destino destas corujas-gavião é incerto. "Há poucos observadores de aves que vão às Filipinas e ainda menos são aqueles que conseguem ver estes animais", diz. "Agora que se conhecem sete espécies mais ornitólogos irão procurar as ilhas de Cebu, Camiguin ou Tablas." E isto pode trazer benefícios para a natureza. "Mais visitantes podem ajudar os guias locais e hotéis a fazer dinheiro com a observação das aves e ajudá-los a perceber a importância da floresta."
Fonte: Público
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