Fala-se de Paris como a mais romântica das cidades. Mas o que distingue a capital francesa — filmada rua a rua em Antes do Anoitecer e em tantos outros filmes com uma carga romântica tão forte como a interpretada por Ethan Hawke e Julie Delpy — podem afinal ser aspectos arquitectónicos e de design bem mais concretos: a forma e a cor das placas que assinalam as ruas, os tipos de candeeiros de pé distribuídos pela cidade ou as grades que delimitam as varandas das casas.
Cientistas da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, trabalharam dados visuais do Google Street View à procura de características distintivas de 12 cidades, entre as quais a capital francesa. E afinal, O que faz com que Paris se pareça com Paris?, questiona a equipa no título do artigo, publicado na revista ACM Transactions on Graphics. A resposta não é definitiva, mas o trabalho mostra que a análise de imagens pode ajudar a compreender a experiência estilística que se sente quando se está lá.
“O nosso laboratório tem estado interessado no problema da geolocalização, ou seja, em conseguir inferir onde é que uma fotografia foi tirada”, explica-nos Carl Doersch, um dos autores do artigo.
Há uma grande diferença em como as pessoas e os computadores identificam o local onde as imagens foram tiradas. “Se uma pessoa cataloga uma imagem como sendo de Paris, normalmente consegue apontar ‘elementos visuais’: placas com os nomes das ruas ou varandas. Mas, antes do nosso trabalho, os computadores tratavam as imagens como uma colecção de linhas e curvas: uma imagem seria de Paris se tivesse o número certo de linhas no local correcto”, explica Doersch. A equipa, liderada por Alexei Efros, quis mudar isso. Usando um programa informático que está sempre a aprender, os cientistas tentaram identificar os elementos visuais que caracterizam uma região, e que, depois, fazem sentido para as pessoas como elementos distintivos das cidades.
Para isso, utilizaram o Google Street View, um programa onde se podem ver fotografias de alta resolução de muitas regiões do mundo, permitindo fazer autênticas tours virtuais pelas avenidas das grandes metrópoles. Os cientistas escolheram cerca de 10.000 imagens do programa por cada cidade que analisaram: Paris, Londres, Praga, Barcelona, Milão, Nova Iorque, Boston, Filadélfia, São Francisco, São Paulo, Cidade do México e Tóquio.
Depois, procuraram padrões dentro das imagens que ocorressem frequentemente e fossem ao mesmo tempo discriminativos. A Torre Eiffel é uma construção única no mundo, mas nas fotografias de Paris aparece tão raramente que é inútil para identificar a cidade. Pelo contrário, os passeios de Paris são comuns, mas são iguais aos de tantas outras cidades. “O maior desafio é que a esmagadora maioria da informação [nas imagens] é desinteressante. Por isso, encontrar os raros elementos que interessam é como encontrar uma agulha no palheiro”, explica o artigo.
Primeiro, a equipa escolheu milhares de elementos que sobressaíam nas fotografias. Depois, verificou se estes elementos estavam limitados geograficamente ou existiam em todas as cidades. Finalmente, obrigou o programa informático a aprender a agrupar correctamente os elementos interessantes e distintivos de cada cidade. Deste modo, os cientistas determinaram que as placas das ruas eram diferenciadoras de Paris. Que o formato do candeeiro de pé de Londres era diferente do de Paris e que também era diferente do de Praga. Ou que os gradeamentos à frente dos edifícios londrinos eram únicos.
Uma das conclusões é que as cidades europeias têm muito mais características distintivas do que as dos Estados Unidos. Carl Doersch justifica esta diferença devido à mistura cultural na América e, por outro lado, porque os norte-americanos têm aversão a regulamentos que interfiram na liberdade privada. “Cada cidade dos EUA tem muitas diferenças e não há um estilo único dominante.”
Da Grécia a Portugal
Mas o investigador diz que este programa pode vir a influenciar a urbanização. “Um software que for construído a partir do nosso pode ajudar os arquitectos a compreender o estilo das cidades para onde desenham edifícios e levar o público a apreciar o estilo e a história da sua própria região. Nesse caso, os construtores passariam a dar mais atenção ao estilo de uma cidade e a mantê-lo.”
Há também um contexto histórico que os autores defendem que estes resultados podem elucidar. Muitos elementos arquitectónicos que o programa identifica são partilhados entre algumas cidades. De certa forma, este padrão responde à questão de como um lugar acabou por ser como é. “Há uma narrativa estilística que começa na Grécia antiga e que se move tanto no espaço como no tempo, primeiro para Roma, depois para França, Espanha e Portugal, e finalmente para o Novo Mundo”, explica Alexei Efros. Ao identificar esses elementos arquitectónicos partilhados, poderá descobrir-se até a“história de outras influências, subjectivas e difíceis de quantificar, entre estes locais”. E a capital portuguesa, o que a tornará única? “Infelizmente, não estudei Lisboa. Por isso, não consigo adivinhar o que encontraria”, responde Carl Doersch.
Fonte: Público
Cientistas da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, trabalharam dados visuais do Google Street View à procura de características distintivas de 12 cidades, entre as quais a capital francesa. E afinal, O que faz com que Paris se pareça com Paris?, questiona a equipa no título do artigo, publicado na revista ACM Transactions on Graphics. A resposta não é definitiva, mas o trabalho mostra que a análise de imagens pode ajudar a compreender a experiência estilística que se sente quando se está lá.
“O nosso laboratório tem estado interessado no problema da geolocalização, ou seja, em conseguir inferir onde é que uma fotografia foi tirada”, explica-nos Carl Doersch, um dos autores do artigo.
Há uma grande diferença em como as pessoas e os computadores identificam o local onde as imagens foram tiradas. “Se uma pessoa cataloga uma imagem como sendo de Paris, normalmente consegue apontar ‘elementos visuais’: placas com os nomes das ruas ou varandas. Mas, antes do nosso trabalho, os computadores tratavam as imagens como uma colecção de linhas e curvas: uma imagem seria de Paris se tivesse o número certo de linhas no local correcto”, explica Doersch. A equipa, liderada por Alexei Efros, quis mudar isso. Usando um programa informático que está sempre a aprender, os cientistas tentaram identificar os elementos visuais que caracterizam uma região, e que, depois, fazem sentido para as pessoas como elementos distintivos das cidades.
Para isso, utilizaram o Google Street View, um programa onde se podem ver fotografias de alta resolução de muitas regiões do mundo, permitindo fazer autênticas tours virtuais pelas avenidas das grandes metrópoles. Os cientistas escolheram cerca de 10.000 imagens do programa por cada cidade que analisaram: Paris, Londres, Praga, Barcelona, Milão, Nova Iorque, Boston, Filadélfia, São Francisco, São Paulo, Cidade do México e Tóquio.
Depois, procuraram padrões dentro das imagens que ocorressem frequentemente e fossem ao mesmo tempo discriminativos. A Torre Eiffel é uma construção única no mundo, mas nas fotografias de Paris aparece tão raramente que é inútil para identificar a cidade. Pelo contrário, os passeios de Paris são comuns, mas são iguais aos de tantas outras cidades. “O maior desafio é que a esmagadora maioria da informação [nas imagens] é desinteressante. Por isso, encontrar os raros elementos que interessam é como encontrar uma agulha no palheiro”, explica o artigo.
Primeiro, a equipa escolheu milhares de elementos que sobressaíam nas fotografias. Depois, verificou se estes elementos estavam limitados geograficamente ou existiam em todas as cidades. Finalmente, obrigou o programa informático a aprender a agrupar correctamente os elementos interessantes e distintivos de cada cidade. Deste modo, os cientistas determinaram que as placas das ruas eram diferenciadoras de Paris. Que o formato do candeeiro de pé de Londres era diferente do de Paris e que também era diferente do de Praga. Ou que os gradeamentos à frente dos edifícios londrinos eram únicos.
Uma das conclusões é que as cidades europeias têm muito mais características distintivas do que as dos Estados Unidos. Carl Doersch justifica esta diferença devido à mistura cultural na América e, por outro lado, porque os norte-americanos têm aversão a regulamentos que interfiram na liberdade privada. “Cada cidade dos EUA tem muitas diferenças e não há um estilo único dominante.”
Da Grécia a Portugal
Mas o investigador diz que este programa pode vir a influenciar a urbanização. “Um software que for construído a partir do nosso pode ajudar os arquitectos a compreender o estilo das cidades para onde desenham edifícios e levar o público a apreciar o estilo e a história da sua própria região. Nesse caso, os construtores passariam a dar mais atenção ao estilo de uma cidade e a mantê-lo.”
Há também um contexto histórico que os autores defendem que estes resultados podem elucidar. Muitos elementos arquitectónicos que o programa identifica são partilhados entre algumas cidades. De certa forma, este padrão responde à questão de como um lugar acabou por ser como é. “Há uma narrativa estilística que começa na Grécia antiga e que se move tanto no espaço como no tempo, primeiro para Roma, depois para França, Espanha e Portugal, e finalmente para o Novo Mundo”, explica Alexei Efros. Ao identificar esses elementos arquitectónicos partilhados, poderá descobrir-se até a“história de outras influências, subjectivas e difíceis de quantificar, entre estes locais”. E a capital portuguesa, o que a tornará única? “Infelizmente, não estudei Lisboa. Por isso, não consigo adivinhar o que encontraria”, responde Carl Doersch.
Fonte: Público
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