É o equivalente odorante da luz branca e do ruído branco. Ao que dizem os que o cheiraram, não é nem agradável, nem desagradável - e não se parece com nenhum cheiro natural.
Quando um número suficiente de cores do arco-íris se misturam, vemos luz branca. Quando muitas frequências sonoras se sobrepõem, acabamos por ouvir sempre o mesmo distintivo ruído "branco" (aquela crepitação irritante que sai dos altifalantes do auto-rádio quando estacionamos o carro no piso -3 de um parque subterrâneo). Mas que odor sentiríamos se cheirássemos uma mistura de muitos componentes odoríferos diferentes?
Será que existe também um cheiro "branco"? Segundo resultados publicados na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por uma equipa de cientistas israelitas, tudo indica que sim. Basta misturar um número suficiente de odores de igual intensidade e que abrangem todo o "espectro olfactivo" para o nosso nariz achar, a dada altura, que qualquer um dos cheiros assim obtidos é, por assim dizer, o mesmo cheiro. Noam Sobel e colegas, do Instituto Weizmann de Ciência (Israel), designam este cheiro de "branco olfactivo".
Para realizar o estudo, estes cientistas partiram de uma variedade de 86 moléculas odoríferas - cheiros agradáveis como o das rosas, desagradáveis como o da transpiração, cheiros que costumam estar associados a substâncias comestíveis ou pelo contrário a produtos tóxicos. Diluíram as moléculas para nivelar a sua intensidade e com esses ingredientes de base prepararam uma série de misturas. Pediram então a um grupo de participantes, entre os quais um profissional dos perfumes, para avaliar as diferenças ou semelhanças entre os cheiros das diversas misturas.
"Constatámos", escrevem os investigadores na PNAS, "que à medida que fazíamos aumentar o número de componentes independentes (...), as misturas se tornavam cada vez mais semelhantes entre si, apesar de não terem entre elas qualquer componente em comum". A partir de 20 componentes, a distinção olfactiva entre as misturas tornava-se difícil e, "com cerca de 30 componentes, a maioria das misturas tinham o mesmo cheiro".
Mas então, perguntam, "por que é que, no mundo real, misturas com inúmeros componentes, tais como o vinho, o café ou as rosas não cheiram todos igual, todos a branco?" Um primeiro elemento de resposta é que o leque de cheiros que compõem o odor das substâncias reais é muito estreito. Um segundo elemento é que os componentes dos cheiros naturais não costumam ter intensidades uniformes: por exemplo, o característico cheiro a rosas deve-se na realidade ao esmagador contributo (98%) de uma única molécula: o álcool beta-feniletílico. Por isso, apesar de poder haver uma multiplicidade de outros cheiros envolvidos - que nos casos reais podem atingir as centenas -, nada ultrapassa a predominância desse único cheiro distintivo. Aquilo que é a essência do "branco olfactivo" - igual intensidade de todos os componentes e uma distribuição por todo o espectro olfactivo - não se verifica com os cheiros reais.
"A que cheira o branco olfactivo?", perguntam ainda os cientistas. Segundo os voluntários que participaram no estudo, trata-se de um cheiro que não é nem agradável, nem desagradável, nem imponente de mais, nem parecido com nada de conhecido. Os cientistas especulam aliás que, mesmo a existir na natureza, a sua ocorrência é provavelmente "um evento extremamente raro". E por isso propõem, na versão online do seu artigo, uma lista de "receitas" artificiais de branco olfactivo.
Seja como for, pensam que este inédito cheiro possa vir a ser utilizado para perceber melhor a neurobiologia do olfacto, que permanece em parte misteriosa. A teoria mais consensual descreve este sentido com uma espécie de máquina de detectar moléculas odorantes, explica um comunicado do Instituto Weizmann, mas o estudo agora publicado sugere, pelo contrário, que o nosso sistema olfactivo apreende os cheiros no seu conjunto e não os odores individuais que os compõem. "Os resultados", diz Sobel, citado no mesmo documento, "dizem respeito aos princípios mais básicos subjacentes ao nosso sentido do olfacto e levantam algumas questões em relação às ideias feitas sobre o tema".
E houve outras surpresas ainda: numa das experiências, o branco olfactivo mostrou-se capaz de neutralizar outros cheiros. Como explica no seu site a revista Nature, "quando as [quatro] moléculas-chave do cheiro a rosas foram combinadas com uma mistura de branco olfactivo, o cheiro a rosas foi ocultado - demonstrando-se assim que poderia vir a ser utilizado para mascarar odores", por exemplo nas casas de banho públicas...
Fonte: Público
Quando um número suficiente de cores do arco-íris se misturam, vemos luz branca. Quando muitas frequências sonoras se sobrepõem, acabamos por ouvir sempre o mesmo distintivo ruído "branco" (aquela crepitação irritante que sai dos altifalantes do auto-rádio quando estacionamos o carro no piso -3 de um parque subterrâneo). Mas que odor sentiríamos se cheirássemos uma mistura de muitos componentes odoríferos diferentes?
Será que existe também um cheiro "branco"? Segundo resultados publicados na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) por uma equipa de cientistas israelitas, tudo indica que sim. Basta misturar um número suficiente de odores de igual intensidade e que abrangem todo o "espectro olfactivo" para o nosso nariz achar, a dada altura, que qualquer um dos cheiros assim obtidos é, por assim dizer, o mesmo cheiro. Noam Sobel e colegas, do Instituto Weizmann de Ciência (Israel), designam este cheiro de "branco olfactivo".
Para realizar o estudo, estes cientistas partiram de uma variedade de 86 moléculas odoríferas - cheiros agradáveis como o das rosas, desagradáveis como o da transpiração, cheiros que costumam estar associados a substâncias comestíveis ou pelo contrário a produtos tóxicos. Diluíram as moléculas para nivelar a sua intensidade e com esses ingredientes de base prepararam uma série de misturas. Pediram então a um grupo de participantes, entre os quais um profissional dos perfumes, para avaliar as diferenças ou semelhanças entre os cheiros das diversas misturas.
"Constatámos", escrevem os investigadores na PNAS, "que à medida que fazíamos aumentar o número de componentes independentes (...), as misturas se tornavam cada vez mais semelhantes entre si, apesar de não terem entre elas qualquer componente em comum". A partir de 20 componentes, a distinção olfactiva entre as misturas tornava-se difícil e, "com cerca de 30 componentes, a maioria das misturas tinham o mesmo cheiro".
Mas então, perguntam, "por que é que, no mundo real, misturas com inúmeros componentes, tais como o vinho, o café ou as rosas não cheiram todos igual, todos a branco?" Um primeiro elemento de resposta é que o leque de cheiros que compõem o odor das substâncias reais é muito estreito. Um segundo elemento é que os componentes dos cheiros naturais não costumam ter intensidades uniformes: por exemplo, o característico cheiro a rosas deve-se na realidade ao esmagador contributo (98%) de uma única molécula: o álcool beta-feniletílico. Por isso, apesar de poder haver uma multiplicidade de outros cheiros envolvidos - que nos casos reais podem atingir as centenas -, nada ultrapassa a predominância desse único cheiro distintivo. Aquilo que é a essência do "branco olfactivo" - igual intensidade de todos os componentes e uma distribuição por todo o espectro olfactivo - não se verifica com os cheiros reais.
"A que cheira o branco olfactivo?", perguntam ainda os cientistas. Segundo os voluntários que participaram no estudo, trata-se de um cheiro que não é nem agradável, nem desagradável, nem imponente de mais, nem parecido com nada de conhecido. Os cientistas especulam aliás que, mesmo a existir na natureza, a sua ocorrência é provavelmente "um evento extremamente raro". E por isso propõem, na versão online do seu artigo, uma lista de "receitas" artificiais de branco olfactivo.
Seja como for, pensam que este inédito cheiro possa vir a ser utilizado para perceber melhor a neurobiologia do olfacto, que permanece em parte misteriosa. A teoria mais consensual descreve este sentido com uma espécie de máquina de detectar moléculas odorantes, explica um comunicado do Instituto Weizmann, mas o estudo agora publicado sugere, pelo contrário, que o nosso sistema olfactivo apreende os cheiros no seu conjunto e não os odores individuais que os compõem. "Os resultados", diz Sobel, citado no mesmo documento, "dizem respeito aos princípios mais básicos subjacentes ao nosso sentido do olfacto e levantam algumas questões em relação às ideias feitas sobre o tema".
E houve outras surpresas ainda: numa das experiências, o branco olfactivo mostrou-se capaz de neutralizar outros cheiros. Como explica no seu site a revista Nature, "quando as [quatro] moléculas-chave do cheiro a rosas foram combinadas com uma mistura de branco olfactivo, o cheiro a rosas foi ocultado - demonstrando-se assim que poderia vir a ser utilizado para mascarar odores", por exemplo nas casas de banho públicas...
Fonte: Público
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