Peter Jäger, aracnólogo do Instituto de Investigação de Senckenberg, em Frankfurt, viajou até ao Laos para participar nas gravações de um programa televisivo, em Abril deste ano. A história acabaria aqui, se o cientista não tivesse ido apanhar aranhas e se, entre os exemplares, não estivesse um certo opilião, que já bateu o recorde das patas mais compridas para estes animais.
Confundidos muitas vezes com aranhas, os opiliões não segregam seda, não fazem teias, nem produzem veneno. São conhecidos por terem pernas muito grandes em comparação com o resto do corpo. Chamam-se vulgarmente "cavaleiros", porque parecem cavalgar quando são perturbados. Este andar bamboleante pode ser uma maneira de confundirem os predadores, que assim não percebem exactamente onde está a parte central do corpo.
Apesar de haver opiliões com patas curtas e robustas, aquele que foi descoberto no Laos é dos pernilongos. "Entre filmagens, apanhei aranhas em grutas no Sul da província de Khammouan", conta Peter Jäger, num comunicado do seu instituto. "Numa das grutas descobri um opilião absolutamente gigante."
Até agora, o maior opilião conhecido, o Mitobates triangulus, foi encontrado na Mata Atlântica brasileira. As suas pernas medem 34,2 centímetros. O "novo" opilião bate esse recorde, como mostra a fotografia dele esticado por cima de uma régua. A sua espécie ainda não está identificada, mas o género sim, é o Gagrella.
No Laos, têm sido encontrados, aliás, vários artrópodes gigantes: há uma aranha caçadora com patas que chegam aos 30 centímetros (Heteropoda máxima); um escorpião com um corpo de 26 centímetros (Typopeltis magnificus); e uma centopeia com quase 40 (Thereuopoda longicornis). O opilião pernilongo junta-se ao grupo, fazendo do Laos um mundo de artrópodes gigantes.
Para tentar descobrir a sua espécie, Peter Jäger procurou a ajuda da investigadora brasileira Ana Lúcia Tourinho, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia e que se encontra agora no Instituto de Senckenberg. Ao PÚBLICO, Ana Lúcia Tourinho conta que os opiliões, além de viverem em grutas, são animais nocturnos e preferem refúgios húmidos. O seu corpo perde água com muita facilidade, o que os torna dependentes dos habitats húmidos.
Geralmente, os opiliões são predadores e, enquanto as aranhas só ingerem alimentos líquidos, eles conseguem comer pequenos pedaços sólidos. Chegam a alimentar-se de outros opiliões, já mortos. "Possuem hábitos alimentares muito variados", refere Ana Lúcia Tourinho. Outra característica que os distingue das aranhas é a fecundação ser interna. Os opiliões são o único grupo de aracnídeos com um verdadeiro pénis.
Para se defenderem, produzem um líquido que é tóxico para insectos mais pequenos, mas que nos humanos, se forem picados, causa apenas uma ligeira comichão. Quando se sentem ameaçados, podem picar o inimigo ou perder uma das patas. Mesmo depois de já não estar presa ao corpo, essa pata continua com movimento. Assim, esperam distrair os predadores, que incluem sapos, grilos e outros aracnídeos.
As suas longas patas têm várias funções. Com quatro pares, o primeiro e o segundo, normalmente maior do que os outros, têm uma função sensorial, funcionando mais ou menos como uma antena. É com elas que os opiliões identificam o espaço à volta, captando os sinais físicos e químicos do ambiente. O terceiro e o quarto pares de patas têm apenas a função de locomoção.
Mas, durante os rituais de acasalamento, as patas servem para mostrar à fêmea as suas habilidades e tentar assim conquistá-la. "Nalgumas espécies, o macho oferece alimento à fêmea, que o deverá aceitar para poderem acasalar", explica o biólogo Pedro Sousa, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, no Porto.
O maior de Portugal
Vivem muitas espécies de opiliões em Portugal, com grande diversidade de formas, tamanhos e cores do corpo. "Existe em Portugal o maior opilião europeu, a espécie Gyas titanus", diz Pedro Sousa.
Este opilião, que se encontra principalmente no Norte do país, tem o corpo negro com linhas prateadas transversais, os olhos escuros com uma linha branca ao centro e faz parte do grupo dos que têm as pernas compridas. O corpo atinge, no máximo, 12 milímetros de comprimento e é uma espécie adaptada para viver num ambiente com muita água. E um dos opiliões mais pequenos de Portugal, cuja identificação está por fazer, vive no parque de Monsanto, paredes meias com a cidade de Lisboa, conta Sérgio Henriques, conservador no Museu de História Natural de Londres. "Além de ser endémica, esta pequena espécie cor de laranja é uma relíquia. Conseguiu sobreviver às alterações climáticas que Portugal sofreu nos últimos milhões de anos", diz Sérgio Henriques. "Este endemismo ainda não tem nome e faz parte de uma parceria internacional para ser descrito."
Para Pedro Cardoso, outro biólogo português, conservador do Museu de História Natural da Universidade de Helsínquia, na Finlândia, o opilião mais especial em Portugal é o Iberosiro distylos: é cavernícola e conhecido numa única gruta da serra de Montejunto. Foi descoberto em 1941, pelo aracnólogo português António de Barros Machado, que não o conseguiu identificar e permaneceu assim esquecido. "Só foi descrito em 2004, por uma equipa da Universidade de Harvard, o que demonstra o pouco que em Portugal se faz neste campo da ciência", diz Pedro Cardoso.
Fonte: Público
Confundidos muitas vezes com aranhas, os opiliões não segregam seda, não fazem teias, nem produzem veneno. São conhecidos por terem pernas muito grandes em comparação com o resto do corpo. Chamam-se vulgarmente "cavaleiros", porque parecem cavalgar quando são perturbados. Este andar bamboleante pode ser uma maneira de confundirem os predadores, que assim não percebem exactamente onde está a parte central do corpo.
Apesar de haver opiliões com patas curtas e robustas, aquele que foi descoberto no Laos é dos pernilongos. "Entre filmagens, apanhei aranhas em grutas no Sul da província de Khammouan", conta Peter Jäger, num comunicado do seu instituto. "Numa das grutas descobri um opilião absolutamente gigante."
Até agora, o maior opilião conhecido, o Mitobates triangulus, foi encontrado na Mata Atlântica brasileira. As suas pernas medem 34,2 centímetros. O "novo" opilião bate esse recorde, como mostra a fotografia dele esticado por cima de uma régua. A sua espécie ainda não está identificada, mas o género sim, é o Gagrella.
No Laos, têm sido encontrados, aliás, vários artrópodes gigantes: há uma aranha caçadora com patas que chegam aos 30 centímetros (Heteropoda máxima); um escorpião com um corpo de 26 centímetros (Typopeltis magnificus); e uma centopeia com quase 40 (Thereuopoda longicornis). O opilião pernilongo junta-se ao grupo, fazendo do Laos um mundo de artrópodes gigantes.
Para tentar descobrir a sua espécie, Peter Jäger procurou a ajuda da investigadora brasileira Ana Lúcia Tourinho, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazónia e que se encontra agora no Instituto de Senckenberg. Ao PÚBLICO, Ana Lúcia Tourinho conta que os opiliões, além de viverem em grutas, são animais nocturnos e preferem refúgios húmidos. O seu corpo perde água com muita facilidade, o que os torna dependentes dos habitats húmidos.
Geralmente, os opiliões são predadores e, enquanto as aranhas só ingerem alimentos líquidos, eles conseguem comer pequenos pedaços sólidos. Chegam a alimentar-se de outros opiliões, já mortos. "Possuem hábitos alimentares muito variados", refere Ana Lúcia Tourinho. Outra característica que os distingue das aranhas é a fecundação ser interna. Os opiliões são o único grupo de aracnídeos com um verdadeiro pénis.
Para se defenderem, produzem um líquido que é tóxico para insectos mais pequenos, mas que nos humanos, se forem picados, causa apenas uma ligeira comichão. Quando se sentem ameaçados, podem picar o inimigo ou perder uma das patas. Mesmo depois de já não estar presa ao corpo, essa pata continua com movimento. Assim, esperam distrair os predadores, que incluem sapos, grilos e outros aracnídeos.
As suas longas patas têm várias funções. Com quatro pares, o primeiro e o segundo, normalmente maior do que os outros, têm uma função sensorial, funcionando mais ou menos como uma antena. É com elas que os opiliões identificam o espaço à volta, captando os sinais físicos e químicos do ambiente. O terceiro e o quarto pares de patas têm apenas a função de locomoção.
Mas, durante os rituais de acasalamento, as patas servem para mostrar à fêmea as suas habilidades e tentar assim conquistá-la. "Nalgumas espécies, o macho oferece alimento à fêmea, que o deverá aceitar para poderem acasalar", explica o biólogo Pedro Sousa, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, no Porto.
O maior de Portugal
Vivem muitas espécies de opiliões em Portugal, com grande diversidade de formas, tamanhos e cores do corpo. "Existe em Portugal o maior opilião europeu, a espécie Gyas titanus", diz Pedro Sousa.
Este opilião, que se encontra principalmente no Norte do país, tem o corpo negro com linhas prateadas transversais, os olhos escuros com uma linha branca ao centro e faz parte do grupo dos que têm as pernas compridas. O corpo atinge, no máximo, 12 milímetros de comprimento e é uma espécie adaptada para viver num ambiente com muita água. E um dos opiliões mais pequenos de Portugal, cuja identificação está por fazer, vive no parque de Monsanto, paredes meias com a cidade de Lisboa, conta Sérgio Henriques, conservador no Museu de História Natural de Londres. "Além de ser endémica, esta pequena espécie cor de laranja é uma relíquia. Conseguiu sobreviver às alterações climáticas que Portugal sofreu nos últimos milhões de anos", diz Sérgio Henriques. "Este endemismo ainda não tem nome e faz parte de uma parceria internacional para ser descrito."
Para Pedro Cardoso, outro biólogo português, conservador do Museu de História Natural da Universidade de Helsínquia, na Finlândia, o opilião mais especial em Portugal é o Iberosiro distylos: é cavernícola e conhecido numa única gruta da serra de Montejunto. Foi descoberto em 1941, pelo aracnólogo português António de Barros Machado, que não o conseguiu identificar e permaneceu assim esquecido. "Só foi descrito em 2004, por uma equipa da Universidade de Harvard, o que demonstra o pouco que em Portugal se faz neste campo da ciência", diz Pedro Cardoso.
Fonte: Público
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