À superfície, uma brisa. Mas a 70 quilómetros de altitude os ventos venusianos atingem velocidades muito superiores aos dos furacões na Terra. Pela primeira vez, fez-se uma medição rigorosa desses ventos.
Vénus aparece-nos no céu nocturno sem dificuldade e é o astro mais brilhante depois da Lua. Mas quem quiser conhecê-lo melhor depara-se com uma barreira – uma capa de nuvens que envolve o planeta e reflecte muita luz solar. Uma equipa liderada por cientistas portugueses conseguiu medir, num telescópio na Terra, o movimento dos ventos nesta camada de nuvens, ajudando a compreender melhor a sua atmosfera. "É a primeira vez que se faz um mapa dos ventos de Vénus", realça o astrofísico Pedro Mota Machado, que liderou, com o seu colega David Luz, ambos do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, o estudo publicado na revista científica Icarus.
A equipa usou as lentes do Very Large Telescope (VLT), o complexo de telescópios no cimo de Cerro Paranal, no Chile, que pertence ao Observatório Europeu do Sul. "Já se mediram os ventos de Vénus a partir da Terra seguindo os padrões das nuvens", explica o astrofísico. Este método só pode produzir velocidades médias, mas a equipa conseguiu agora ter uma fotografia da velocidade das partículas que estão em suspensão nas nuvens venusianas, utilizando um espectrógrafo do VLT.
Por estarem juntos, Vénus e a Terra nasceram da agregação de poeira cósmica semelhante. Vénus terá tido água líquida há muito tempo, mas perdeu-a ao longo de milhões de anos. Hoje, os planetas são muito diferentes. A rotação de Vénus é no sentido inverso da da Terra. O planeta demora 243 dias terrestres a dar uma volta sobre si mesmo, apesar de orbitar o Sol em 224 dias. Mesmo com um dia e noite compridos, as condições à superfície do planeta mantêm-se semelhantes.
Vénus é uma espécie de "inferno de Dante", diz Pedro Mota Machado. À superfície, corre apenas uma brisa, mas, para um humano sobreviver lá, teria de aguentar uma temperatura de 450 graus Celsius e uma pressão equivalente à que se sente a um quilómetro de profundidade no mar. Estas condições são provocadas por um intenso efeito de estufa: a atmosfera venusiana é muito densa e está saturada quase só de dióxido de carbono. "Ainda sabemos muito pouco sobre Vénus. Como perdeu a água e chegou a este efeito de estufa?", questiona.
Lançada em 1989, a sonda Magalhães observou Vénus e mostrou que a sua topografia é marcadamente vulcânica. Tem 1600 grandes vulcões, mas nenhum parece estar activo. "Para haver dióxido carbono e enxofre [que produz ácido sulfúrico e chuvas ácidas] na atmosfera, é necessário haver reposição destes gases", diz Pedro Mota Machado.
Vénus aparece-nos no céu nocturno sem dificuldade e é o astro mais brilhante depois da Lua. Mas quem quiser conhecê-lo melhor depara-se com uma barreira – uma capa de nuvens que envolve o planeta e reflecte muita luz solar. Uma equipa liderada por cientistas portugueses conseguiu medir, num telescópio na Terra, o movimento dos ventos nesta camada de nuvens, ajudando a compreender melhor a sua atmosfera. "É a primeira vez que se faz um mapa dos ventos de Vénus", realça o astrofísico Pedro Mota Machado, que liderou, com o seu colega David Luz, ambos do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, o estudo publicado na revista científica Icarus.
A equipa usou as lentes do Very Large Telescope (VLT), o complexo de telescópios no cimo de Cerro Paranal, no Chile, que pertence ao Observatório Europeu do Sul. "Já se mediram os ventos de Vénus a partir da Terra seguindo os padrões das nuvens", explica o astrofísico. Este método só pode produzir velocidades médias, mas a equipa conseguiu agora ter uma fotografia da velocidade das partículas que estão em suspensão nas nuvens venusianas, utilizando um espectrógrafo do VLT.
Por estarem juntos, Vénus e a Terra nasceram da agregação de poeira cósmica semelhante. Vénus terá tido água líquida há muito tempo, mas perdeu-a ao longo de milhões de anos. Hoje, os planetas são muito diferentes. A rotação de Vénus é no sentido inverso da da Terra. O planeta demora 243 dias terrestres a dar uma volta sobre si mesmo, apesar de orbitar o Sol em 224 dias. Mesmo com um dia e noite compridos, as condições à superfície do planeta mantêm-se semelhantes.
Vénus é uma espécie de "inferno de Dante", diz Pedro Mota Machado. À superfície, corre apenas uma brisa, mas, para um humano sobreviver lá, teria de aguentar uma temperatura de 450 graus Celsius e uma pressão equivalente à que se sente a um quilómetro de profundidade no mar. Estas condições são provocadas por um intenso efeito de estufa: a atmosfera venusiana é muito densa e está saturada quase só de dióxido de carbono. "Ainda sabemos muito pouco sobre Vénus. Como perdeu a água e chegou a este efeito de estufa?", questiona.
Lançada em 1989, a sonda Magalhães observou Vénus e mostrou que a sua topografia é marcadamente vulcânica. Tem 1600 grandes vulcões, mas nenhum parece estar activo. "Para haver dióxido carbono e enxofre [que produz ácido sulfúrico e chuvas ácidas] na atmosfera, é necessário haver reposição destes gases", diz Pedro Mota Machado.
A própria camada densa de nuvens de enxofre é um mistério. Na Terra, as nuvens estão a uma altitude máxima de 20 quilómetros. Em Vénus, a camada encontra-se a cerca de 70 quilómetros. Além disso, na região equatorial, esta cortina de nuvens está continuamente em movimento, graças a um vento chamado laminar ou zonal: "Há uma zona de nuvens que se move em uníssono em torno de Vénus e a uma velocidade constante", explica o astrofísico.
Foi esta região que a equipa observou durante Maio e Junho de 2007. Para isso, utilizou o espectrógrafo do VLT para medir os fotões, na parte da luz visível do espectro electromagnético. Estes fotões tinham vindo do Sol e, ao chegarem à atmosfera venusiana, eram desviados consoante a velocidade do movimento das partículas suspensas na camada de nuvens sobre o equador. E o espectrógrafo dava uma leitura imediata das velocidades destas partículas, o que permitia assim obter um perfil dos ventos na região equatorial.
A equipa mediu ventos com velocidades entre os 381 e 457 quilómetros por hora (como termo de comparação, na Terra, os furacões mais fortes têm ventos de 252 quilómetros por hora). "Conseguimos ter dados concretos da circulação dos ventos", sublinha Pedro Mota Machado.
Assim, é possível aperfeiçoar os modelos da circulação atmosférica de Vénus e de planetas com características semelhantes noutros sistemas solares. Mas há um objectivo mais geocêntrico. Apesar de Vénus ser um extremo, não deixa de poder servir como exemplo de estudo sobre um possível futuro da Terra. "Quando Vénus, Terra e Marte se formaram, os valores da concentração de dióxido carbono na atmosfera eram praticamente iguais", diz o cientista.
Na Terra, a vida alterou as condições. O efeito de estufa é muito mais suave do que em Vénus e ajuda a manter uma temperatura amena. Mas estas condições podem mudar. A Terra teve momentos em que tinha mais dióxido de carbono na atmosfera e em que o efeito de estufa era mais intenso. Tudo indica que um fenómeno semelhante está em curso, desta vez com um grande contributo humano. Até ao final do século, a temperatura terrestre pode aumentar em média quatro graus Celsius. "A atmosfera na Terraé muito frágil", refere Pedro Mota Machado.
A equipa detectou ainda a presença de uma "maré solar", que já tinha sido prevista: "A zona que está virada para o Sol recebe mais luz e há uma dilatação da atmosfera", explica.
Neste momento, a equipa procura os ventos meridionais de Vénus. Na Terra, estes ventos produzem células de ar que se movem do equador em direcção aos pólos e transferem assim calor para as regiões frias. Em Vénus, não se sabe se existem estes ventos. "Provavelmente, o novo trabalho vai responder a esta questão."
Fonte: Público
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