Um livro de um famoso escritor de histórias para crianças, um filme da Walt Disney e algumas fórmulas da Física clássica deram origem… a um artigo científico.
Até aqui, pensava-se que a força de umas centenas de gaivotas era suficiente para fazer levantar voo a um pêssego do tamanho de uma casa e conseguir assim levá-lo, pelos ares, para o outro lado do Atlântico. Mas, agora, uma equipa britânica mostrou que essa computação inicial, que remonta a 1961, pode ter sido totalmente irrealista. Os seus resultados, que foram publicados no Journal of Physics Special Topics, talvez venham a dar origem, num futuro mais ou menos próximo, à elaboração de algumas erratas editoriais.
Alto aí! Parem as rotativas! Estamos a falar de gaivotas, de pêssegos gigantes, de uma travessia aérea do Atlântico em condições demenciais! Mas isto mais parece uma história saída de um livro de Roald Dahl, o maravilhoso escritor britânico de histórias para crianças, do que o tema de um estudo científico…
Calma. Na realidade, trata-se das duas coisas ao mesmo tempo. Por um lado, é efectivamente um episódio da história contada por Dahl no seu livro James e o Pêssego Gigante (disponível em Portugal pela Civilização Editora) – uma narrativa mirabolante que mistura fruta, um menino que perdeu os pais e um grupo de insectos de quem se torna amigo e com quem vive momentos mágicos. Mas, por outro lado, também é verdade que esse episódio foi agora alvo de cálculos físico-matemáticos rigorosos, realizados por Emily Watson e seus colegas da Universidade de Leicester (Reino Unido). E que o trabalho lhes valeu uma publicação oficial.
Os quatro autores do artigo em causa (disponível para download em https://physics.le.ac.uk/journals/index.php/pst/article/view/519/340) são todos estudantes de mestrado de Merwyn Roy, do Departamento de Física e Astronomia daquela universidade. E a revista, que é editada pela instituição, funciona “exactamente como uma publicação profissional”, incluindo a chamada peer-review, eventualmente seguida da correcção dos textos submetidos, explica Roy em comunicado. “Os estudantes têm assim a oportunidade de desenvolver todas as competências de que irão precisar quando, mais tarde, tiverem de lidar com revistas de alto nível.”
No artigo, os autores dividiram a viagem transatlântica do pêssego em duas etapas, como no livro – e como também, aliás, no filme homónimo de 1996, produzido pela Walt Disney. Uma primeira etapa aquática e uma segunda etapa aérea.
“Graças a uma análise dos processos de dinâmica dos fluidos envolvidos”, escrevem no seu artigo, os cientistas começaram por confirmar que, desde que o pêssego gigante fosse suficientemente oco (no livro, é dito que o é parcialmente), ele seria efectivamente capaz de ficar à tona da água e de não se afundar. Mais precisamente, considerando que a fruta descomunal tinha um diâmetro de 12 metros (“o tamanho de uma pequena casa”) e que, “como se depreende [do filme], a parte que ficava fora da água tinha uma altura de 5,7 metros”, as fórmulas da hidrodinâmica permitiram-lhes concluir que, para conseguir flutuar, o pêssego precisava de ser composto por uma camada de polpa de 1,24 metros de espessura e um enorme buraco central. Suficiente, portanto, para merecer a designação de peça de fruta. “James teria conseguido navegar no pêssego da forma descrita por Roald Dahl”, escrevem.
Pelo contrário, quando modelizaram a aerodinâmica das gaivotas e estimaram o número dessas aves necessário para levantar o pêssego e arrastá-lo, ao longo de milhares de quilómetros, atrelado à “cordas” excretadas por um bicho-da-seda gigante, perceberam que aí as contas não batiam nada certo. O número de 501 gaivotas avançado por Dahl estava completamente errado. “Não seria possível fazer voar um pêssego com as dimensões calculadas (…) com um número tão diminuto de aves”, concluem. James “teria precisado de atrelar 2.425.907 gaivotas para voar até a América”.
O que deixa em aberto, talvez para futuras investigações, questões como a de saber se o bicho-da-seda e a aranha da história teriam sido capazes de fornecer a quantidade de cordame exigida e dotado da resistência suficiente para não se partir a meio do caminho…
Fonte: Público
Até aqui, pensava-se que a força de umas centenas de gaivotas era suficiente para fazer levantar voo a um pêssego do tamanho de uma casa e conseguir assim levá-lo, pelos ares, para o outro lado do Atlântico. Mas, agora, uma equipa britânica mostrou que essa computação inicial, que remonta a 1961, pode ter sido totalmente irrealista. Os seus resultados, que foram publicados no Journal of Physics Special Topics, talvez venham a dar origem, num futuro mais ou menos próximo, à elaboração de algumas erratas editoriais.
Alto aí! Parem as rotativas! Estamos a falar de gaivotas, de pêssegos gigantes, de uma travessia aérea do Atlântico em condições demenciais! Mas isto mais parece uma história saída de um livro de Roald Dahl, o maravilhoso escritor britânico de histórias para crianças, do que o tema de um estudo científico…
Calma. Na realidade, trata-se das duas coisas ao mesmo tempo. Por um lado, é efectivamente um episódio da história contada por Dahl no seu livro James e o Pêssego Gigante (disponível em Portugal pela Civilização Editora) – uma narrativa mirabolante que mistura fruta, um menino que perdeu os pais e um grupo de insectos de quem se torna amigo e com quem vive momentos mágicos. Mas, por outro lado, também é verdade que esse episódio foi agora alvo de cálculos físico-matemáticos rigorosos, realizados por Emily Watson e seus colegas da Universidade de Leicester (Reino Unido). E que o trabalho lhes valeu uma publicação oficial.
Os quatro autores do artigo em causa (disponível para download em https://physics.le.ac.uk/journals/index.php/pst/article/view/519/340) são todos estudantes de mestrado de Merwyn Roy, do Departamento de Física e Astronomia daquela universidade. E a revista, que é editada pela instituição, funciona “exactamente como uma publicação profissional”, incluindo a chamada peer-review, eventualmente seguida da correcção dos textos submetidos, explica Roy em comunicado. “Os estudantes têm assim a oportunidade de desenvolver todas as competências de que irão precisar quando, mais tarde, tiverem de lidar com revistas de alto nível.”
No artigo, os autores dividiram a viagem transatlântica do pêssego em duas etapas, como no livro – e como também, aliás, no filme homónimo de 1996, produzido pela Walt Disney. Uma primeira etapa aquática e uma segunda etapa aérea.
“Graças a uma análise dos processos de dinâmica dos fluidos envolvidos”, escrevem no seu artigo, os cientistas começaram por confirmar que, desde que o pêssego gigante fosse suficientemente oco (no livro, é dito que o é parcialmente), ele seria efectivamente capaz de ficar à tona da água e de não se afundar. Mais precisamente, considerando que a fruta descomunal tinha um diâmetro de 12 metros (“o tamanho de uma pequena casa”) e que, “como se depreende [do filme], a parte que ficava fora da água tinha uma altura de 5,7 metros”, as fórmulas da hidrodinâmica permitiram-lhes concluir que, para conseguir flutuar, o pêssego precisava de ser composto por uma camada de polpa de 1,24 metros de espessura e um enorme buraco central. Suficiente, portanto, para merecer a designação de peça de fruta. “James teria conseguido navegar no pêssego da forma descrita por Roald Dahl”, escrevem.
Pelo contrário, quando modelizaram a aerodinâmica das gaivotas e estimaram o número dessas aves necessário para levantar o pêssego e arrastá-lo, ao longo de milhares de quilómetros, atrelado à “cordas” excretadas por um bicho-da-seda gigante, perceberam que aí as contas não batiam nada certo. O número de 501 gaivotas avançado por Dahl estava completamente errado. “Não seria possível fazer voar um pêssego com as dimensões calculadas (…) com um número tão diminuto de aves”, concluem. James “teria precisado de atrelar 2.425.907 gaivotas para voar até a América”.
O que deixa em aberto, talvez para futuras investigações, questões como a de saber se o bicho-da-seda e a aranha da história teriam sido capazes de fornecer a quantidade de cordame exigida e dotado da resistência suficiente para não se partir a meio do caminho…
Fonte: Público
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