Quando o preço dos alimentos aumentou vertiginosamente, em 2007, e atingiu um pico no fim de 2008, os políticos e a imprensa depreciaram publicamente o seu impacto sobre 1 bilião de pessoas que já passava fome. Dois anos de excelentes condições climáticas para o crescimento de lavouras e boas safras deram alívio temporário, mas os preços atingiram mais uma vez níveis estratosféricos. Desta vez, as pessoas parecem menos atentas.
O público, em geral, tem memória curta quando se trata de problemas que afligem os mais necessitados no mundo, mas os especialistas, até certo ponto, também estão censurando. Os economistas fizeram tanto estardalhaço sobre a complexidade da crise de alimentos que ficou a impressão de que não existe solução imediata para esse caso, transformando-o num daqueles problemas insolúveis, como pobreza e saúde, que são fáceis de ocultar no fundo da
memória. Essa visão está longe de estar correcta.
Reduzir a fome num mundo que terá mais de 9 biliões de pessoas por volta de 2050 é um desafio complexo e requer um amplo espectro de soluções. Mas esse é um problema de longo prazo, independente do rápido aumento no preço dos alimentos. Altos preços do petróleo e o dólar fraco tiveram a sua parte na elevação dos custos de produção, mas não são suficientes para explicar por que o preço de vários alimentos duplicou desde 2004.
O aumento de preços actual reflecte uma deficiência na oferta para atender à demanda. A alta nos lucros do sector agrícola e no preço da terra sustentam essa explicação. Mas qual a razão desse desequilíbrio?
A produção agrícola não está mais lenta: a produção total mundial de grãos no ano passado foi a terceira mais alta da história. Na verdade, ela está a crescer desde 2004 a taxas que, em média, ultrapassam a tendência de longo prazo desde 1980 e ajusta-se aproximadamente às tendências das últimas décadas. Mesmo com o clima desfavorável da Rússia e do norte da Austrália, no ano passado, a produção média global das colheitas foi apenas 1% abaixo do que as tendências indicam: uma baixa modesta.
O problema está, portanto, no crescimento rápido da procura. O senso comum tem apontado a Ásia como a fonte de consumo crescente, mas não é bem assim. A China, de alguma forma, contribuiu para mercados mais fechados nos últimos anos, importando mais soja, e reduziu a exportação de grãos para aumentar os seus stocks, o que poderia servir de alerta para os responsáveis de decisões futuras. É verdade que o consumo na China e na Índia está a aumentar, mas não mais rapidamente quanto nas décadas passadas. De maneira geral, a receita mais alta da Ásia não foi a responsável pelo aumento na procura por alimentos.
Esse papel deve ser atribuído aos biocombustíveis. Desde 2004 esses produtos, que dependem de lavouras, praticamente duplicaram a taxa de crescimento da procura global de grãos e açúcar. E aumentaram a procura anual da produção de óleos vegetais em cerca de 40%. Até a mandioca está a substituir outras lavouras na Tailândia, que a China utiliza na produção de etanol.
A procura crescente de milho, trigo, soja, açúcar, óleos vegetais e mandioca faz com que essas lavouras compitam por maiores áreas de cultivo, pelo menos até os agricultores terem tempo de arar florestas e pastagens, o que significa que a restrição ao mercado de uma lavoura se traduz na restrição a outros mercados. Além disso, a agricultura global pode manter o crescimento da procura se o clima for favorável, mas até a moderadamente fraca estação de crescimento de 2010 foi suficiente para forçar uma queda nos stocks de grãos fora da China, o que fez os stocks globais diminuírem muito. Baixas reservas e procura crescente, tanto para alimentos como para biocombustíveis, aumentam o risco de maior redução nos suprimentos, elevando os preços a níveis estratosféricos.
Os intermediários também costumam juntar todas as fontes de procura de safras sem reconhecer os seus diferentes pesos morais e o seu potencial de controlo. A primeira obrigação deveria ser alimentar quem tem fome. Os biocombustíveis poderão estar a minar aos poucos a capacidade de se fazer isso. Os governos podem abrandar os padrões recorrentes de crises de alimentos revendo suas procurasas cada vez maiores de biocombustíveis.
O público, em geral, tem memória curta quando se trata de problemas que afligem os mais necessitados no mundo, mas os especialistas, até certo ponto, também estão censurando. Os economistas fizeram tanto estardalhaço sobre a complexidade da crise de alimentos que ficou a impressão de que não existe solução imediata para esse caso, transformando-o num daqueles problemas insolúveis, como pobreza e saúde, que são fáceis de ocultar no fundo da
memória. Essa visão está longe de estar correcta.
Reduzir a fome num mundo que terá mais de 9 biliões de pessoas por volta de 2050 é um desafio complexo e requer um amplo espectro de soluções. Mas esse é um problema de longo prazo, independente do rápido aumento no preço dos alimentos. Altos preços do petróleo e o dólar fraco tiveram a sua parte na elevação dos custos de produção, mas não são suficientes para explicar por que o preço de vários alimentos duplicou desde 2004.
O aumento de preços actual reflecte uma deficiência na oferta para atender à demanda. A alta nos lucros do sector agrícola e no preço da terra sustentam essa explicação. Mas qual a razão desse desequilíbrio?
A produção agrícola não está mais lenta: a produção total mundial de grãos no ano passado foi a terceira mais alta da história. Na verdade, ela está a crescer desde 2004 a taxas que, em média, ultrapassam a tendência de longo prazo desde 1980 e ajusta-se aproximadamente às tendências das últimas décadas. Mesmo com o clima desfavorável da Rússia e do norte da Austrália, no ano passado, a produção média global das colheitas foi apenas 1% abaixo do que as tendências indicam: uma baixa modesta.
O problema está, portanto, no crescimento rápido da procura. O senso comum tem apontado a Ásia como a fonte de consumo crescente, mas não é bem assim. A China, de alguma forma, contribuiu para mercados mais fechados nos últimos anos, importando mais soja, e reduziu a exportação de grãos para aumentar os seus stocks, o que poderia servir de alerta para os responsáveis de decisões futuras. É verdade que o consumo na China e na Índia está a aumentar, mas não mais rapidamente quanto nas décadas passadas. De maneira geral, a receita mais alta da Ásia não foi a responsável pelo aumento na procura por alimentos.
Esse papel deve ser atribuído aos biocombustíveis. Desde 2004 esses produtos, que dependem de lavouras, praticamente duplicaram a taxa de crescimento da procura global de grãos e açúcar. E aumentaram a procura anual da produção de óleos vegetais em cerca de 40%. Até a mandioca está a substituir outras lavouras na Tailândia, que a China utiliza na produção de etanol.
A procura crescente de milho, trigo, soja, açúcar, óleos vegetais e mandioca faz com que essas lavouras compitam por maiores áreas de cultivo, pelo menos até os agricultores terem tempo de arar florestas e pastagens, o que significa que a restrição ao mercado de uma lavoura se traduz na restrição a outros mercados. Além disso, a agricultura global pode manter o crescimento da procura se o clima for favorável, mas até a moderadamente fraca estação de crescimento de 2010 foi suficiente para forçar uma queda nos stocks de grãos fora da China, o que fez os stocks globais diminuírem muito. Baixas reservas e procura crescente, tanto para alimentos como para biocombustíveis, aumentam o risco de maior redução nos suprimentos, elevando os preços a níveis estratosféricos.
Os intermediários também costumam juntar todas as fontes de procura de safras sem reconhecer os seus diferentes pesos morais e o seu potencial de controlo. A primeira obrigação deveria ser alimentar quem tem fome. Os biocombustíveis poderão estar a minar aos poucos a capacidade de se fazer isso. Os governos podem abrandar os padrões recorrentes de crises de alimentos revendo suas procurasas cada vez maiores de biocombustíveis.
Fonte: Scientific American