A planta Myriocolea irrorata, que pertence ao grupo das hepáticas, integrante das briófitas, foi descoberta pelo explorador escocês Richard Spruce nas margens do rio Topo, em 1857. Depois, passou despercebida por quase 150 anos. Após anos de pesquisa, os botânicos Rob Gradstein, Noelle Noske e Lou Jost redescobriram-na em 2002, próxima do local em que Spruce a tinha visto, praticamente ao mesmo tempo em que o projeto hidroelétrico da região foi anunciado pela primeira vez.
Não se sabe muito sobre a espécie. É pequena, com cerca de 2,5 cm de diâmetro, e o seu papel na cadeia alimentar da região permanece um mistério. Mas os cientistas podem perder a chance de aprender mais sobre ela, já que o projeto hidroelétrico altera, drasticamente, o seu único habitat.
“O projeto hidroelétrico afetará cerca de 75% a 80% da população”, lamenta Jost, que viveu no Equador durante 13 anos estudando as plantas endémicas da região de Baños. O projeto vai canalizar o rio em uma série de túneis, que removerão 90% da água do seu leito, deixando apenas 10% do fluxo natural. Isso pode não ser água suficiente para a M. irrorata.
O rio Topo fornece um habitat ideal para as plantas hepáticas. Está localizado numa das áreas mais chuvosas do Equador, e a sua bacia de granito e calcário e o baixo gradiente combinam-se para criar um rio que muda de volume ao longo do ano, muitas vezes triplicando ou quadruplicando a largura ao longo de uma hora, permitindo também que a vegetação costeira cresça sem ser arrancada por correntes rápidas.
Esses fatores criam o que Jost chama de “nicho ecológico”, que têm permitido que diversas plantas evoluam para se adequar à área. A M. irrorata “aparentemente deve ser frequentemente coberta por spray d´água. Mas, ao mesmo tempo, requer um leito estável, de modo que se consiga fixar no seu arbusto hospedeiro, a Cuphea,”, explica Jost.
A espécie é bastante comum numa área bem limitada ao redor de uma região de 8 km do rio. O arbusto Cuphea tem uma densidade populacional de 30 plantas por metro quadrado, e Jost diz que cada arbusto poderia conter de 1 a 10 plantas M. irrorata, mas a população dessa briófita cai drasticamente a poucos metros da água. “Não existem plantas a 10 metros de distância do rio”, diz ele. Se o projeto hidroelétrico mudar o fluxo do rio e o spray constante de água desaparecer, a população principal de M. irrorata pode acabar.
Jost diz que os fatores que permitem que a M. irrorata prospere nessa porção minúscula de margem seriam de reprodução muito difícil, tornando o cultivo da planta fora do seu habitat quase impossível.
Embora o Equador tenha escassez de energia elétrica, os moradores da vila El Topo e o seu advogado Oscar Valenzuela passaram anos a lutar contra o projeto nos tribunais (mas perderam), e nos últimos meses várias estradas foram bloqueadas para impedir a entrada de equipamentos de construção na região. Um manifestante disse ao jornal El Comercio, em Junho, que a área de Baños é para turismo, não para eletricidade, mas o presidente da vizinha Rio Negro, Parish, afirmou ao jornal que o projeto vai criar 120 postos de trabalho locais e gerar centenas de milhares de dólares para a região nos próximos 30 anos.
Duas semanas atrás, de acordo com Jost, a polícia entrou na região e removeu à força os manifestantes, a maioria mulheres.
Jost conta que o projeto hidroelétrico vai acabar com a M. irrorata e outras espécies endémicas e fornecer um valor mínimo de energia real. “O município que inclui a vila El Topo já produz mais de 200 MW a partir de outras barragens, e uma única barragem em fase de planeamento no nordeste do Equador vai gerar 1.600 MW”.
Mas, com os manifestantes expulsos e o projeto totalmente apoiado pelo governo do Equador, Jost vê pouca esperança para a pequena planta pela qual ele tem lutado. “O projeto será construído, e a planta recém-redescoberta, provavelmente será extinta.”
Vias de acesso para o projeto hidrelétrico estão já a ser feitas, com a construção prevista para começar já em Janeiro.
E assim o rio do progresso flui...
Não se sabe muito sobre a espécie. É pequena, com cerca de 2,5 cm de diâmetro, e o seu papel na cadeia alimentar da região permanece um mistério. Mas os cientistas podem perder a chance de aprender mais sobre ela, já que o projeto hidroelétrico altera, drasticamente, o seu único habitat.
“O projeto hidroelétrico afetará cerca de 75% a 80% da população”, lamenta Jost, que viveu no Equador durante 13 anos estudando as plantas endémicas da região de Baños. O projeto vai canalizar o rio em uma série de túneis, que removerão 90% da água do seu leito, deixando apenas 10% do fluxo natural. Isso pode não ser água suficiente para a M. irrorata.
O rio Topo fornece um habitat ideal para as plantas hepáticas. Está localizado numa das áreas mais chuvosas do Equador, e a sua bacia de granito e calcário e o baixo gradiente combinam-se para criar um rio que muda de volume ao longo do ano, muitas vezes triplicando ou quadruplicando a largura ao longo de uma hora, permitindo também que a vegetação costeira cresça sem ser arrancada por correntes rápidas.
Esses fatores criam o que Jost chama de “nicho ecológico”, que têm permitido que diversas plantas evoluam para se adequar à área. A M. irrorata “aparentemente deve ser frequentemente coberta por spray d´água. Mas, ao mesmo tempo, requer um leito estável, de modo que se consiga fixar no seu arbusto hospedeiro, a Cuphea,”, explica Jost.
A espécie é bastante comum numa área bem limitada ao redor de uma região de 8 km do rio. O arbusto Cuphea tem uma densidade populacional de 30 plantas por metro quadrado, e Jost diz que cada arbusto poderia conter de 1 a 10 plantas M. irrorata, mas a população dessa briófita cai drasticamente a poucos metros da água. “Não existem plantas a 10 metros de distância do rio”, diz ele. Se o projeto hidroelétrico mudar o fluxo do rio e o spray constante de água desaparecer, a população principal de M. irrorata pode acabar.
Jost diz que os fatores que permitem que a M. irrorata prospere nessa porção minúscula de margem seriam de reprodução muito difícil, tornando o cultivo da planta fora do seu habitat quase impossível.
Embora o Equador tenha escassez de energia elétrica, os moradores da vila El Topo e o seu advogado Oscar Valenzuela passaram anos a lutar contra o projeto nos tribunais (mas perderam), e nos últimos meses várias estradas foram bloqueadas para impedir a entrada de equipamentos de construção na região. Um manifestante disse ao jornal El Comercio, em Junho, que a área de Baños é para turismo, não para eletricidade, mas o presidente da vizinha Rio Negro, Parish, afirmou ao jornal que o projeto vai criar 120 postos de trabalho locais e gerar centenas de milhares de dólares para a região nos próximos 30 anos.
Duas semanas atrás, de acordo com Jost, a polícia entrou na região e removeu à força os manifestantes, a maioria mulheres.
Jost conta que o projeto hidroelétrico vai acabar com a M. irrorata e outras espécies endémicas e fornecer um valor mínimo de energia real. “O município que inclui a vila El Topo já produz mais de 200 MW a partir de outras barragens, e uma única barragem em fase de planeamento no nordeste do Equador vai gerar 1.600 MW”.
Mas, com os manifestantes expulsos e o projeto totalmente apoiado pelo governo do Equador, Jost vê pouca esperança para a pequena planta pela qual ele tem lutado. “O projeto será construído, e a planta recém-redescoberta, provavelmente será extinta.”
Vias de acesso para o projeto hidrelétrico estão já a ser feitas, com a construção prevista para começar já em Janeiro.
E assim o rio do progresso flui...
Fonte: Scientific American
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixe aqui o seu comentário.