Não é novidade: há cada vez mais crianças com excesso de gordura corporal - "pneus" na cintura e rosto, braços e pernas demasiado acolchoados. Embora o estilo de vida sedentário e os maus hábitos alimentares, que começam cada vez mais cedo, contribuam para esta epidemia, pensa-se que, tal como no adulto, também aqui existe uma forte componente hereditária. Mas quais são os factores genéticos que predispõem uma criança, à partida saudável, a tornar-se obesa ainda na infância?
Tirando os casos de obesidade infantil devida a doenças raras, a genética da esmagadora maioria dos casos - ditos de obesidade infantil "comum" - ainda está por desvendar. Struan Grant, do Hospital Pediátrico de Filadélfia, e colegas do consórcio internacional EGG (Early Growth Genetics) descobriram agora dois genes e publicaram ontem os resultados na revista Nature Genetics.
Diga-se, antes de mais, que as bases genéticas da obesidade do adulto também têm sido esquivas. Estima-se que, no adulto, entre 40% e 70% da variabilidade do IMC (índice de massa corporal) depende de factores genéticos. Mas, até agora, apesar de ter sido identificada uma série de variantes genéticas associadas ao IMC nos adultos obesos, isso não chega sequer para explicar 2% da variabilidade do IMC. Ainda tem de haver uma multidão de factores genéticos desconhecidos.
Voltando à genética da obesidade infantil, até aqui, diz Grant num comunicado do seu hospital, "os estudos centravam-se nas formas mais extremas de obesidade, sobretudo associadas a síndromes raras". Mas, com base no novo estudo, "o maior de sempre ao nível de todo o genoma (...), conseguimos identificar claramente e caracterizar uma predisposição genética para a obesidade infantil comum".
Os cientistas reuniram 14 estudos anteriores - totalizando 5530 casos de obesidade infantil e 8300 crianças não obesas, todos de origem europeia. "Para termos dados suficientes, que fornecessem a potência estatística necessária para revelar novos sinais genéticos", explica ainda Grant, "foi preciso (...) combinar os resultados de estudos semelhantes vindos do mundo inteiro".
Conseguiram assim identificar duas variantes genéticas claramente associadas à obesidade infantil: uma situada na proximidade de um gene chamado OLFM4, no cromossoma 13, e outra num gene chamado HOXB5, no cromossoma 17. E também duas outras, embora menos claramente associadas.
O papel que estes genes desempenham no organismo poderá dar novas pistas para a compreensão da doença. "O que sabemos da biologia de três dos genes sugere que o intestino poderá estar envolvido [na genética da doença]", salienta Grant, "embora ainda se desconheça o papel funcional preciso desses genes na obesidade". Para ele, "ainda é preciso muito trabalho, mas estes resultados poderão um dia ajudar a desenvolver futuras intervenções preventivas e tratamentos para as crianças com base no seu genoma individual".
Para Pedro Teixeira, da Faculdade de Motricidade Humana, perto de Lisboa, "um longo caminho ainda resta percorrer até podermos aplicar este conhecimento ao diagnóstico de risco em indivíduos". "Estou certo que esse dia ficará cada vez mais próximo e há muitas linhas promissoras, nomeadamente na interacção entre genes, ambiente e estilo de vida", diz ao PÚBLICO. Contudo, "a prudência nesta matéria deve ser a norma neste momento", acrescenta. "Não na investigação, mas nas expectativas que podem ser criadas."
Fonte: Público
Tirando os casos de obesidade infantil devida a doenças raras, a genética da esmagadora maioria dos casos - ditos de obesidade infantil "comum" - ainda está por desvendar. Struan Grant, do Hospital Pediátrico de Filadélfia, e colegas do consórcio internacional EGG (Early Growth Genetics) descobriram agora dois genes e publicaram ontem os resultados na revista Nature Genetics.
Diga-se, antes de mais, que as bases genéticas da obesidade do adulto também têm sido esquivas. Estima-se que, no adulto, entre 40% e 70% da variabilidade do IMC (índice de massa corporal) depende de factores genéticos. Mas, até agora, apesar de ter sido identificada uma série de variantes genéticas associadas ao IMC nos adultos obesos, isso não chega sequer para explicar 2% da variabilidade do IMC. Ainda tem de haver uma multidão de factores genéticos desconhecidos.
Voltando à genética da obesidade infantil, até aqui, diz Grant num comunicado do seu hospital, "os estudos centravam-se nas formas mais extremas de obesidade, sobretudo associadas a síndromes raras". Mas, com base no novo estudo, "o maior de sempre ao nível de todo o genoma (...), conseguimos identificar claramente e caracterizar uma predisposição genética para a obesidade infantil comum".
Os cientistas reuniram 14 estudos anteriores - totalizando 5530 casos de obesidade infantil e 8300 crianças não obesas, todos de origem europeia. "Para termos dados suficientes, que fornecessem a potência estatística necessária para revelar novos sinais genéticos", explica ainda Grant, "foi preciso (...) combinar os resultados de estudos semelhantes vindos do mundo inteiro".
Conseguiram assim identificar duas variantes genéticas claramente associadas à obesidade infantil: uma situada na proximidade de um gene chamado OLFM4, no cromossoma 13, e outra num gene chamado HOXB5, no cromossoma 17. E também duas outras, embora menos claramente associadas.
O papel que estes genes desempenham no organismo poderá dar novas pistas para a compreensão da doença. "O que sabemos da biologia de três dos genes sugere que o intestino poderá estar envolvido [na genética da doença]", salienta Grant, "embora ainda se desconheça o papel funcional preciso desses genes na obesidade". Para ele, "ainda é preciso muito trabalho, mas estes resultados poderão um dia ajudar a desenvolver futuras intervenções preventivas e tratamentos para as crianças com base no seu genoma individual".
Para Pedro Teixeira, da Faculdade de Motricidade Humana, perto de Lisboa, "um longo caminho ainda resta percorrer até podermos aplicar este conhecimento ao diagnóstico de risco em indivíduos". "Estou certo que esse dia ficará cada vez mais próximo e há muitas linhas promissoras, nomeadamente na interacção entre genes, ambiente e estilo de vida", diz ao PÚBLICO. Contudo, "a prudência nesta matéria deve ser a norma neste momento", acrescenta. "Não na investigação, mas nas expectativas que podem ser criadas."
Fonte: Público
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