Um prato de batatas fritas ou meia porção de arroz integral? Talvez a resposta esteja no meio termo para quem quiser ter uma vida comprida: uma alimentação variada e regrada. Desde o início do século XX que se têm feito experiências em vários seres vivos, à procura de uma associação entre um regime alimentar com restrições calóricas e o prolongamento da vida. Embora muitas experiências tenham dado sinais positivos nesse sentido, os resultados de uma investigação com mais de 20 anos em macacos rhesus contrariam essa tendência, diz um artigo na edição online de quarta-feira da revista Nature.
Há mais de duas décadas que o Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos (NIA), em Baltimore, trabalha nesta experiência. Por causa da proximidade evolutiva que tem com o homem, e do ciclo de vida e fisiologia, o macaco rhesus, ou Macaca mulatta, é um modelo por excelência nas experiências científicas. Os resultados publicados agora são fruto de 23 anos de observações.
A equipa de Rafael de Cabo fez duas experiências diferentes. Uma delas em dois grupos de macacos com idades entre um e 14 anos - um dos grupos serviu de controlo e teve uma alimentação normal, enquanto o outro teve um corte de 30% nas calorias, mas sem ficar malnutrido. A outra experiência foi idêntica, só que os macacos começaram as dietas com idades entre os 16 e os 23 anos.
A esperança média de vida em cativeiro dos macacos rhesus é de 27 anos, por isso a experiência nos animais mais jovens ainda não terminou, uma vez que cerca de metade ainda está viva. Mas os resultados obtidos até agora mostraram que a longevidade não aumentou devido à diminuição de alimento. Este resultado contradiz outra experiência feita em macacos rhesus pelo Centro Nacional de Investigação de Primatas de Wisconsin, nos Estados Unidos, que obteve bons resultados na longevidade em grupos que foram submetidos a uma restrição alimentar.
Porém, há uma diferença significativa: na experiência de Wisconsin, o grupo de macacos de controlo podia comer o que quisesse e a alimentação era menos variada.
Para já, é impossível saber qual a influência da variabilidade genética nos resultados destes dois estudos. Mas os macacos dos grupos de controlo do NIA já tinham um peso normal e, em média, sofriam menos de diabetes do que os do Wisconsin.
"Será que a restrição de calorias não é nada mais do que eliminar o excesso de gorduras?", questiona Steven Austad, do Instituto Barshop para a Longevidade e Estudos do Envelhecimento, da Universidade do Texas, num comentário na Nature sobre o novo estudo. "Poder-se-ia concluir isso ao interpretar os resultados dos animais do grupo de controlo no estudo do NIA, porque também tiveram restrições alimentares para ter um peso normal. E as restrições acrescidas que foram impostas ao grupo experimental tiveram poucas consequências na longevidade."
Mas apesar dos novos resultados, a restrição alimentar teve consequências na saúde dos primatas. Houve uma redução na incidência de cancro e, possivelmente, de diabetes. No entanto, houve um ligeiro aumento nas doenças cardiovasculares.
"Há a hipótese de que a restrição de calorias leva a alterações hormonais e a diminuição na hormona do crescimento e no peso de ratinhos", diz-nos João Pedro de Magalhães, investigador principal do grupo de Genómica Integrada do Envelhecimento, da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, e que não está ligado ao novo estudo. "Por isso, as células têm menos estímulos para crescer e isso diminui a probabilidade de os ratinhos desenvolverem cancros e a proliferação de cancros que já existem", explica o cientista português.
Já se fizeram inúmeros estudos sobre a alimentação e a longevidade em leveduras, no verme Caenorhabditis elegans, na mosca-da-fruta ou em ratinhos. Muitas das experiências concluíram haver uma associação entre o prolongamento da vida e as restrições calóricas, mas não todas. Este novo estudo mostra que não há uma resposta definitiva, sobretudo em animais complexos e que vivem mais. "Os mecanismos de restrição calórica ainda não são bem conhecidos", diz João Pedro de Magalhães, acrescentando que é mais seguro apostar numa dieta saudável, variada e no exercício físico.
Fonte: Público
Há mais de duas décadas que o Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos (NIA), em Baltimore, trabalha nesta experiência. Por causa da proximidade evolutiva que tem com o homem, e do ciclo de vida e fisiologia, o macaco rhesus, ou Macaca mulatta, é um modelo por excelência nas experiências científicas. Os resultados publicados agora são fruto de 23 anos de observações.
A equipa de Rafael de Cabo fez duas experiências diferentes. Uma delas em dois grupos de macacos com idades entre um e 14 anos - um dos grupos serviu de controlo e teve uma alimentação normal, enquanto o outro teve um corte de 30% nas calorias, mas sem ficar malnutrido. A outra experiência foi idêntica, só que os macacos começaram as dietas com idades entre os 16 e os 23 anos.
A esperança média de vida em cativeiro dos macacos rhesus é de 27 anos, por isso a experiência nos animais mais jovens ainda não terminou, uma vez que cerca de metade ainda está viva. Mas os resultados obtidos até agora mostraram que a longevidade não aumentou devido à diminuição de alimento. Este resultado contradiz outra experiência feita em macacos rhesus pelo Centro Nacional de Investigação de Primatas de Wisconsin, nos Estados Unidos, que obteve bons resultados na longevidade em grupos que foram submetidos a uma restrição alimentar.
Porém, há uma diferença significativa: na experiência de Wisconsin, o grupo de macacos de controlo podia comer o que quisesse e a alimentação era menos variada.
Para já, é impossível saber qual a influência da variabilidade genética nos resultados destes dois estudos. Mas os macacos dos grupos de controlo do NIA já tinham um peso normal e, em média, sofriam menos de diabetes do que os do Wisconsin.
"Será que a restrição de calorias não é nada mais do que eliminar o excesso de gorduras?", questiona Steven Austad, do Instituto Barshop para a Longevidade e Estudos do Envelhecimento, da Universidade do Texas, num comentário na Nature sobre o novo estudo. "Poder-se-ia concluir isso ao interpretar os resultados dos animais do grupo de controlo no estudo do NIA, porque também tiveram restrições alimentares para ter um peso normal. E as restrições acrescidas que foram impostas ao grupo experimental tiveram poucas consequências na longevidade."
Mas apesar dos novos resultados, a restrição alimentar teve consequências na saúde dos primatas. Houve uma redução na incidência de cancro e, possivelmente, de diabetes. No entanto, houve um ligeiro aumento nas doenças cardiovasculares.
"Há a hipótese de que a restrição de calorias leva a alterações hormonais e a diminuição na hormona do crescimento e no peso de ratinhos", diz-nos João Pedro de Magalhães, investigador principal do grupo de Genómica Integrada do Envelhecimento, da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, e que não está ligado ao novo estudo. "Por isso, as células têm menos estímulos para crescer e isso diminui a probabilidade de os ratinhos desenvolverem cancros e a proliferação de cancros que já existem", explica o cientista português.
Já se fizeram inúmeros estudos sobre a alimentação e a longevidade em leveduras, no verme Caenorhabditis elegans, na mosca-da-fruta ou em ratinhos. Muitas das experiências concluíram haver uma associação entre o prolongamento da vida e as restrições calóricas, mas não todas. Este novo estudo mostra que não há uma resposta definitiva, sobretudo em animais complexos e que vivem mais. "Os mecanismos de restrição calórica ainda não são bem conhecidos", diz João Pedro de Magalhães, acrescentando que é mais seguro apostar numa dieta saudável, variada e no exercício físico.
Fonte: Público
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