Até aqui, os especialistas pensavam que o glioblastoma multiforme, o mais comum e agressivo cancro do cérebro nos seres humanos, tinha a sua origem nas células da glia, aquelas que asseguram a coesão do tecido cerebral. Mas agora, resultados obtidos pela equipa de Inder Verma, do Instituto Salk, EUA, vêm demonstrar algo de inesperado: que este tumor pode ser gerado por outros tipos de células nervosas — e nomeadamente pelos próprios neurónios —, quando elas regridem para um estado “infantil”. Os resultados, publicados esta sexta-feira na revista Science, permitem perceber o alto nível de reincidência deste cancro e sugerem novos alvos potenciais para o tratar, explica um comunicado daquela instituição californiana.
Apesar de relativamente raro nos países ocidentais, onde anualmente atinge duas a três pessoas em cada cem mil, o diagnóstico de glioblastoma multiforme constitui quase sempre uma sentença de morte: os doentes não sobrevivem para além de dois anos. E os tratamentos aplicados — quimioterapia, cirurgia, radioterapia — são antes de mais paliativos. Nada parece conseguir travar este cancro de crescimento rápido — e na imensa maioria dos casos não há tratamento que o impeça de voltar.
Os cancros (em geral) costumam ter origem num punhado de células — ou mesmo numa única célula — que de repente começa proliferar descontroladamente. A teoria actualmente mais consensual é a de que existem, nos tumores malignos, “células estaminais cancerígenas” ou “células iniciadoras dos tumores”. Tal como as células estaminais normais dos embriões (que são capazes de dar origem a todos os tecidos do organismo), estas células conseguem dividir-se vezes sem conta e pensa-se que é delas que descendem todas as células de um dado cancro.
Só que ninguém sabe de onde vêm estas células estaminais cancerígenas. Não é muito claro se elas resultam de uma transformação maligna de células estaminais adultas (que existem normalmente no organismo, incluindo no cérebro) ou de células já diferenciadas que regrediram e ganharam características das células estaminais.
No caso do glioblastoma, só muito recentemente (no Verão) é que a equipa de Luis Parada, da Universidade do Sudoeste do Texas, nos EUA, identificou as células estaminais cancerígenas (ver “Há cada vez mais provas de que o cancro nasce de células estaminais”, PÚBLICO de 03/08/2012).
Inder Verma e colegas quiseram determinar a origem dessas células. Para isso, utilizaram vírus modificados de forma a conseguirem inactivar dois genes ditos “supressores de tumores”, que regulam a divisão celular: o célebre p53, também conhecido como “guardião do genoma”; e um outro, o NF1. Ambos estão implicados em cancros como o glioblastoma, quando sofrem mutações que impedem o seu normal funcionamento.
Os cientistas injectaram directamente os vírus em vários tipos de células do cérebro de ratinhos, e em particular em neurónios do córtex cerebral. E descobriram que, quando estas células nervosas adultas eram alteradas pelos vírus, tornavam-se capazes de formar gliomas malignos.
“Os resultados”, diz Dinorah Friedmann-Morvinski, autora principal do trabalho, “sugerem que, quando dois genes críticos são inactivados, [vários tipos de] células maduras, diferenciadas, adquirem a capacidade de se ‘desdiferenciar’, voltando para um estado semelhante ao das células progenitoras (...) e podendo a seguir dar origem a todos os tipos de células observadas nos gliomas malignos.”
O trabalho “permite explicar a taxa de recorrência dos gliomas após o tratamento”, diz Verma. E indica ainda que não basta eliminar as células estaminais cancerígenas para conseguir travar este cancro, “porque qualquer célula do tumor que não for erradicada poderá continuar a proliferar e a induzir a formação de tumores, perpetuando o ciclo”.
Fonte: Público
Apesar de relativamente raro nos países ocidentais, onde anualmente atinge duas a três pessoas em cada cem mil, o diagnóstico de glioblastoma multiforme constitui quase sempre uma sentença de morte: os doentes não sobrevivem para além de dois anos. E os tratamentos aplicados — quimioterapia, cirurgia, radioterapia — são antes de mais paliativos. Nada parece conseguir travar este cancro de crescimento rápido — e na imensa maioria dos casos não há tratamento que o impeça de voltar.
Os cancros (em geral) costumam ter origem num punhado de células — ou mesmo numa única célula — que de repente começa proliferar descontroladamente. A teoria actualmente mais consensual é a de que existem, nos tumores malignos, “células estaminais cancerígenas” ou “células iniciadoras dos tumores”. Tal como as células estaminais normais dos embriões (que são capazes de dar origem a todos os tecidos do organismo), estas células conseguem dividir-se vezes sem conta e pensa-se que é delas que descendem todas as células de um dado cancro.
Só que ninguém sabe de onde vêm estas células estaminais cancerígenas. Não é muito claro se elas resultam de uma transformação maligna de células estaminais adultas (que existem normalmente no organismo, incluindo no cérebro) ou de células já diferenciadas que regrediram e ganharam características das células estaminais.
No caso do glioblastoma, só muito recentemente (no Verão) é que a equipa de Luis Parada, da Universidade do Sudoeste do Texas, nos EUA, identificou as células estaminais cancerígenas (ver “Há cada vez mais provas de que o cancro nasce de células estaminais”, PÚBLICO de 03/08/2012).
Inder Verma e colegas quiseram determinar a origem dessas células. Para isso, utilizaram vírus modificados de forma a conseguirem inactivar dois genes ditos “supressores de tumores”, que regulam a divisão celular: o célebre p53, também conhecido como “guardião do genoma”; e um outro, o NF1. Ambos estão implicados em cancros como o glioblastoma, quando sofrem mutações que impedem o seu normal funcionamento.
Os cientistas injectaram directamente os vírus em vários tipos de células do cérebro de ratinhos, e em particular em neurónios do córtex cerebral. E descobriram que, quando estas células nervosas adultas eram alteradas pelos vírus, tornavam-se capazes de formar gliomas malignos.
“Os resultados”, diz Dinorah Friedmann-Morvinski, autora principal do trabalho, “sugerem que, quando dois genes críticos são inactivados, [vários tipos de] células maduras, diferenciadas, adquirem a capacidade de se ‘desdiferenciar’, voltando para um estado semelhante ao das células progenitoras (...) e podendo a seguir dar origem a todos os tipos de células observadas nos gliomas malignos.”
O trabalho “permite explicar a taxa de recorrência dos gliomas após o tratamento”, diz Verma. E indica ainda que não basta eliminar as células estaminais cancerígenas para conseguir travar este cancro, “porque qualquer célula do tumor que não for erradicada poderá continuar a proliferar e a induzir a formação de tumores, perpetuando o ciclo”.
Fonte: Público
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