No filme O Despertar da Mente (Eternal Sunshine of the Spotless Mind), as personagens interpretadas por Jim Carrey e Kate Winslet decidem apagar das suas mentes todas as recordações do outro. Já não se amam e querem ver-se livres dessa parte da sua vida. Para isso, submetem-se a um procedimento não cirúrgico capaz de limpar “cirurgicamente” a memória.
Agora a sério: se quisesse bloquear, reprimir, esquecer algo muito desagradável que viveu ou presenciou, se se propusesse apagar essa má recordação da sua cabeça, como acha que faria? Diversos estudos realizados ao longo da última década sugerem que existem pelo menos duas maneiras de suprimir deliberadamente uma má recordação. E agora, pela primeira vez, uma equipa de cientistas britânicos concluiu não apenas que esses dois mecanismos funcionam mesmo, mas que cada um deles se processa através de um circuito cerebral diferente. “Este estudo mostra pela primeira vez a existência de dois mecanismos que conduzem ao esquecimento intencional”, diz em comunicado Roland Benoit, da Universidade de Cambridge, que liderou o estudo, publicado numa das últimas edições da revista Neuron.
As duas estratégias que permitem esquecer, “com o controlo da mente”, por assim dizer, aquela gaffe monumental que cometemos no jantar do outro dia — ou, num registo mais sombrio, aquela cena de violência que nos deixou tão perturbados — são, no fundo, opostas uma da outra. A primeira consiste simplesmente em obrigarmo-nos a bloquear a memória funesta quando surge; a segunda, em fomentar a sua substituição por outra, mais agradável, de cada vez que a recordação indesejável nos acossa. Em ambos os casos, o objectivo é não deixar a má recordação tornar-se consciente.
Para ver o que acontecia no cérebro durante a utilização de cada uma destas abordagens, os cientistas recorreram à técnica de ressonância magnética funcional, que permite visualizar as zonas que se activam no cérebro das pessoas, enquanto elas efectuam uma dada tarefa. Neste caso, os participantes no estudo, que tinham começado por memorizar certas associações entre pares de palavras, tentavam a seguir esquecer essas associações quer através do seu bloqueio, quer da sua substituição.
Os investigadores puderam assim observar que cada uma das estratégias, que se revelaram ser igualmente eficazes — tanto uma como a outra resultaram efectivamente num esquecimento —, activava circuitos neuronais distintos. Durante a supressão de uma memória, o córtex pré-frontal dorsolateral inibia a actividade do hipocampo, estrutura cerebral essencial à rememoração de acontecimentos passados (é no córtex, a “casca” do cérebro humano, onde residem as nossas funções cognitivas mais sofisticadas). Mas durante a substituição por outra memória, a actividade verificava-se em duas outras regiões: no córtex pré-frontal caudal e no córtex pré-frontal mesoventrolateral, “ambas envolvidas em fazer uma memória entrar na nossa consciência mesmo quando outras memórias estão a desviar a nossa atenção”, explica o comunicado.
“Uma melhor compreensão destes mecanismos e dos seus componentes”, diz Benoit, “poderá um dia ajudar-nos a perceber as perturbações da regulação das memórias, tal como o stress pós-traumático.” Segundo o investigador, o facto de saber quais são os processos neurais que contribuem para o esquecimento pode ser útil do ponto de vista terapêutico, porque talvez haja pessoas que têm mais jeito para pôr em prática uma das estratégias do que a outra.
Fonte: Público
Agora a sério: se quisesse bloquear, reprimir, esquecer algo muito desagradável que viveu ou presenciou, se se propusesse apagar essa má recordação da sua cabeça, como acha que faria? Diversos estudos realizados ao longo da última década sugerem que existem pelo menos duas maneiras de suprimir deliberadamente uma má recordação. E agora, pela primeira vez, uma equipa de cientistas britânicos concluiu não apenas que esses dois mecanismos funcionam mesmo, mas que cada um deles se processa através de um circuito cerebral diferente. “Este estudo mostra pela primeira vez a existência de dois mecanismos que conduzem ao esquecimento intencional”, diz em comunicado Roland Benoit, da Universidade de Cambridge, que liderou o estudo, publicado numa das últimas edições da revista Neuron.
As duas estratégias que permitem esquecer, “com o controlo da mente”, por assim dizer, aquela gaffe monumental que cometemos no jantar do outro dia — ou, num registo mais sombrio, aquela cena de violência que nos deixou tão perturbados — são, no fundo, opostas uma da outra. A primeira consiste simplesmente em obrigarmo-nos a bloquear a memória funesta quando surge; a segunda, em fomentar a sua substituição por outra, mais agradável, de cada vez que a recordação indesejável nos acossa. Em ambos os casos, o objectivo é não deixar a má recordação tornar-se consciente.
Para ver o que acontecia no cérebro durante a utilização de cada uma destas abordagens, os cientistas recorreram à técnica de ressonância magnética funcional, que permite visualizar as zonas que se activam no cérebro das pessoas, enquanto elas efectuam uma dada tarefa. Neste caso, os participantes no estudo, que tinham começado por memorizar certas associações entre pares de palavras, tentavam a seguir esquecer essas associações quer através do seu bloqueio, quer da sua substituição.
Os investigadores puderam assim observar que cada uma das estratégias, que se revelaram ser igualmente eficazes — tanto uma como a outra resultaram efectivamente num esquecimento —, activava circuitos neuronais distintos. Durante a supressão de uma memória, o córtex pré-frontal dorsolateral inibia a actividade do hipocampo, estrutura cerebral essencial à rememoração de acontecimentos passados (é no córtex, a “casca” do cérebro humano, onde residem as nossas funções cognitivas mais sofisticadas). Mas durante a substituição por outra memória, a actividade verificava-se em duas outras regiões: no córtex pré-frontal caudal e no córtex pré-frontal mesoventrolateral, “ambas envolvidas em fazer uma memória entrar na nossa consciência mesmo quando outras memórias estão a desviar a nossa atenção”, explica o comunicado.
“Uma melhor compreensão destes mecanismos e dos seus componentes”, diz Benoit, “poderá um dia ajudar-nos a perceber as perturbações da regulação das memórias, tal como o stress pós-traumático.” Segundo o investigador, o facto de saber quais são os processos neurais que contribuem para o esquecimento pode ser útil do ponto de vista terapêutico, porque talvez haja pessoas que têm mais jeito para pôr em prática uma das estratégias do que a outra.
Fonte: Público
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