Já se sabia que as bolas de estrume transportadas pelos escaravelhos são usadas como alimento, fertilizante e incubadora de ovos. O que não se sabia, e um grupo de cientistas descobriu agora, é que os escaravelhos do estrume também usam as bolas para se refrescarem, como um aparelho de ar condicionado portátil.
Oriundos de regiões onde as temperaturas atingem os 50 graus Celsius, como o Senegal, Moçambique ou Zimbabwe, estes animais desenvolveram técnicas para se manterem frescos e suportarem o calor.
O transporte das bolas de estrume é feito quase sempre pelos machos, que as encaminham até à toca escavada pela fêmea. Ela é importante para a sua sobrevivência, mas a caminhada não deixa de ser uma tarefa difícil, se pensarmos no esforço que têm de fazer para transportar uma bola maior do que eles, de cabeça para baixo e com as patas da frente a tocar o chão, que está muito quente. As bolas chegam a atingir quatro centímetros de diâmetro, enquanto este escaravelho tem três, no máximo.
Usando a técnica de termografia infravermelha, que permite determinar a temperatura de um corpo sem ser necessário tocar-lhe, o grupo de cientistas liderado por Jochen Smolka, da Universidade de Lund, na Suécia, mostrou que os escaravelhos do estrume também usam a sua bola como refugio térmico portátil, subindo para ela quando a temperatura do solo é muito alta.
Feito com escaravelhos da espécie Scarabaeus Lamarcki, o estudo foi dividido em três partes. Na primeira, os cientistas analisaram o comportamento dos escaravelhos a empurrar a bola pelo chão, que atingia primeiro 51,3 graus Celsius e depois 57 graus. Na segunda parte, repetiram a experiência no chão mais quente (com os 57 graus), mas calçaram aos escaravelhos umas botas de silicone, para não sentirem o calor. Na última parte, os escaravelhos foram convidados a empurrar primeiro uma bola de estrume que tinha estado no frigorífico e depois outra que tinha sido aquecida.
No primeiro caso, quando o chão estava menos quente (51,3 graus), os escaravelhos empurraram a bola sem parar, mas quando estava mais quente paravam frequentemente e iam para cima dela. No segundo teste, apesar de a temperatura do chão ser elevada, como os escaravelhos tinham as botas calçadas não sentiam o calor do chão e, por isso, subiram menos vezes para a bola do que quando estavam descalços. Já no terceiro teste, subiam menos para as bolas arrefecidas no frigorífico do que para as que tinham sido aquecidas, porque a evaporação ocorrida nestas bolas ajudava-os a refrescarem-se. Tinham assim uma sauna privada.
Publicado na revista Current Biology, este estudo permitiu concluir que os escaravelhos sobem mais para as bolas, quando o calor aperta, e fazem-no sete vezes mais depressa, quando chão está mais quente. “Os escaravelhos usam a bola para se refrescar, porque aquecem com facilidade a empurrar uma enorme bola de estrume sobre a areia ardente de África”, diz Smolka, num comunicado.
Registadas em vídeo, as imagens do transporte do estrume permitiram ainda ver que os escaravelhos ficam algum tempo a passar as patas pela cara quando sobem para bola, como se estivessem a lavá-la. Para a equipa, este comportamento é semelhante ao das formigas do deserto, que regurgitam um líquido para as patas para as refrescarem.
O caso dos escaravelhos e das suas bolas de estrume mostra, no final, como os seres vivos são versáteis. “Através da evolução, estruturas já existentes adaptam-se a novas finalidades — neste caso, é o uso de uma fonte de alimento para termorregulação”, remata o cientista.
Fonte: Público
Oriundos de regiões onde as temperaturas atingem os 50 graus Celsius, como o Senegal, Moçambique ou Zimbabwe, estes animais desenvolveram técnicas para se manterem frescos e suportarem o calor.
O transporte das bolas de estrume é feito quase sempre pelos machos, que as encaminham até à toca escavada pela fêmea. Ela é importante para a sua sobrevivência, mas a caminhada não deixa de ser uma tarefa difícil, se pensarmos no esforço que têm de fazer para transportar uma bola maior do que eles, de cabeça para baixo e com as patas da frente a tocar o chão, que está muito quente. As bolas chegam a atingir quatro centímetros de diâmetro, enquanto este escaravelho tem três, no máximo.
Usando a técnica de termografia infravermelha, que permite determinar a temperatura de um corpo sem ser necessário tocar-lhe, o grupo de cientistas liderado por Jochen Smolka, da Universidade de Lund, na Suécia, mostrou que os escaravelhos do estrume também usam a sua bola como refugio térmico portátil, subindo para ela quando a temperatura do solo é muito alta.
Feito com escaravelhos da espécie Scarabaeus Lamarcki, o estudo foi dividido em três partes. Na primeira, os cientistas analisaram o comportamento dos escaravelhos a empurrar a bola pelo chão, que atingia primeiro 51,3 graus Celsius e depois 57 graus. Na segunda parte, repetiram a experiência no chão mais quente (com os 57 graus), mas calçaram aos escaravelhos umas botas de silicone, para não sentirem o calor. Na última parte, os escaravelhos foram convidados a empurrar primeiro uma bola de estrume que tinha estado no frigorífico e depois outra que tinha sido aquecida.
No primeiro caso, quando o chão estava menos quente (51,3 graus), os escaravelhos empurraram a bola sem parar, mas quando estava mais quente paravam frequentemente e iam para cima dela. No segundo teste, apesar de a temperatura do chão ser elevada, como os escaravelhos tinham as botas calçadas não sentiam o calor do chão e, por isso, subiram menos vezes para a bola do que quando estavam descalços. Já no terceiro teste, subiam menos para as bolas arrefecidas no frigorífico do que para as que tinham sido aquecidas, porque a evaporação ocorrida nestas bolas ajudava-os a refrescarem-se. Tinham assim uma sauna privada.
Publicado na revista Current Biology, este estudo permitiu concluir que os escaravelhos sobem mais para as bolas, quando o calor aperta, e fazem-no sete vezes mais depressa, quando chão está mais quente. “Os escaravelhos usam a bola para se refrescar, porque aquecem com facilidade a empurrar uma enorme bola de estrume sobre a areia ardente de África”, diz Smolka, num comunicado.
Registadas em vídeo, as imagens do transporte do estrume permitiram ainda ver que os escaravelhos ficam algum tempo a passar as patas pela cara quando sobem para bola, como se estivessem a lavá-la. Para a equipa, este comportamento é semelhante ao das formigas do deserto, que regurgitam um líquido para as patas para as refrescarem.
O caso dos escaravelhos e das suas bolas de estrume mostra, no final, como os seres vivos são versáteis. “Através da evolução, estruturas já existentes adaptam-se a novas finalidades — neste caso, é o uso de uma fonte de alimento para termorregulação”, remata o cientista.
Fonte: Público
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