Em Dezembro de 2010 um vídeo amador com 8 segundos de duração provocou um turbilhão de reacções no mundo científico. A filmagem foi efectuada na região norte da Tasmânia, e mostrava (de uma forma pouco focada) um mamífero de cauda longa a correr. De acordo com o autor do filme, Murray McAllister, o animal era um tigre da Tasmânia.
O tigre da Tasmânia, ou tilacino, é um predador marsupial do tamanho de um lobo, e encontra-se presumivelmente extinto desde que o último espécimen morreu no zoo de Hobart, em 1936. No entanto, desde essa altura têm aparecido centenas de avistamentos do tilacino.
O animal que aparecia na filmagem assimilava-se a uma raposa vermelha. Na altura, McAllister recolheu uma amostra fecal, que após ter sido analisada revelou que realmente se tratava de uma raposa e não de um tigre da Tasmânia.
McAllister tem procurado o tigre da Tasmânia desde 1998. Apesar de não se considerar como tal, é um criptobiólogo, um caçador de mitos, mistérios ou espécies supostamente extintas. Os criptobiólogos são uma classe muito heterogénea, que vai desde cientistas convencionais até indivíduos mais excêntricos, afastados das principais correntes da Biologia. No entanto, todos eles partilham o sonho de descobrirem criaturas desconhecidas ou extintas.
Toda a gente já ouviu falar de criaturas míticas, tais como o monstro Nessie ou o Bigfoot, mas os criptobiólogos procuram, na realidade, um conjunto bem mais amplo de criaturas exóticas, colectivamente designadas por criptidos. Alguns, tal como o tigre da Tasmânia, tiveram uma existência real. Outros, tais como gigantes ou vampiros, apresentam uma existência no mínimo duvidosa.
No entanto, a criptobiologia apresenta também um lado de sucesso. Alguns criptobiólogos, tais como o ecologista tropical David Bickford, da Universidade de Singapura, e Aaron Bauer, da Universidade da Pensilvania, são cientistas respeitados. Por exemplo, Bickford já descobriu várias espécies previamente desconhecidas, incluindo o bizarro sapo sem pulmões que vive nas quedas de água de Borneo.
“A procura do desconhecido e estranho cativa muita gente”, afirma Mike Trenerry, um biólogo do Queensland Department of Environmen and Resource Management, que utiliza câmaras automáticas para procurar animais diferentes. “Queremos acreditar que existe mais lá fora do que é actualmente conhecido”.
A verdade é que, como é óbvio, apesar de estarmos no século 21, o mundo natural está repleto de mistérios. Muitas vezes mais de 50% das espécies de insectos capturadas pelos biólogos tropicais são novas. Peixes desconhecidos e outras espécies marinhas são vulgarmente identificados em águas profundas. Cerca de metade das plantas da Amazónia estão ainda por identificar.
Convém referir também que nem todas as novas espécies descobertas são pequenas e obscuras. Por exemplo, o morcego Mindoro, descoberto em 2007 nas Filipinas, tem cerca de 1m de comprimento com as asas abertas. No mesmo ano, uma nova cobra venenosa foi descoberta na Austrália, e uma raia eléctrica grande foi identificada pela primeira vez na África do Sul.
Portanto, globalmente o trabalho dos criptobiólogos tem um papel importante na ciência. Sim, eles procuram criaturas bizarras, mas têm contribuído significativamente para o desenvolvimento da Biologia.
Fonte: New Scientist
Sem comentários:
Enviar um comentário
Deixe aqui o seu comentário.