segunda-feira, 30 de abril de 2012

A história de um rim que passou por três pessoas

Pela primeira vez, um rim foi transplantado em dois doentes – contando com o dador, passou pelo corpo de três pessoas. A história mostra que em alguns casos é possível voltar a transplantar um órgão.
O caso vem relatado esta quinta-feira na revista New England Journal of Medicine, e ontem os três “proprietários” do rim encontraram-se todos pela primeira vez.
Ray Fearing, de 27 anos, residente em Arlington Heights, perto de Chicago, sofria de uma glomerulonefrite segmentar focal, doença caracterizada pelo desenvolvimento de tecido cicatricial na zona que filtra o sangue nos rins e que leva este órgão a entrar em falência. A irmã, Cera Fearing, de 24 anos, doou-lhe (em vida) um dos seus rins, em Junho do ano passado. No entanto, poucos dias após o transplante, os sintomas da doença reapareceram em Ray Fearing: os médicos do Hospital Northwestern Memorial, em Chicago, informaram-no de que tinham de lho remover, caso contrário a sua vida estaria em risco.
“Em 50% dos casos, o transplante não trava a progressão da glomerulonefrite segmentar focal”, explica Lorenzo Gallon, director do programa de transplantes renais do Hospital Northwestern Memorial, citado num comunicado da sua instituição. “Quando os exames pós-cirurgia indicaram que Ray corria perigo de vida devido ao reaparecimento da doença, tivemos de remover o rim antes que se deteriorasse."
No entanto, o rim ainda era um órgão relativamente saudável e viável. "Podia ser transplantando em alguém que não tivesse glomerulonefrite segmentar focal”, acrescenta o médico, que é um dos autores do artigo publicado na revista médica norte-americana.
Duas semanas depois do primeiro transplante, o rim passou para Erwin Gomez, de 66 anos, um cirurgião na zona de Chicago cuja doença renal foi provocada pela diabetes. Não sem antes ter havido uma discussão sobre o procedimento e os seus riscos no comité de ética do hospital.
“Depois de numerosas discussões sobre este procedimento, apresentámos ao Ray a opção de doar o seu rim a alguém que estivesse na lista nacional de espera de rins, em vez de o deitar fora”, conta Lorenzo Gallon.
Tanto Ray Fearing como a irmã concordaram com o novo destino do rim. “Tinha de tirá-lo de qualquer forma, por isso não havia razão para não o doar”, diz Ray Fearing. “Foi uma bela surpresa. Pensava que o meu rim não prestava, porque não tinha funcionado no meu irmão. O facto de o salvarem e de ter beneficiado alguém deixa-me feliz”, acrescenta a irmã.
Tudo começou quando o norte-americano Ray Fearing, recebeu o rim da irmã, ao fim de uma longa batalha contra uma doença renal. Mas o transplante falhou e, em vez de o deitar fora, aos primeiros sinais do regresso da doença, os médicos decidiram dar o rim a outro doente, Erwin Gomez.
Quanto a Erwin Gomez, não pensou duas vezes e trocou vários anos de espera por um transplante por um rim parcialmente danificado. “Não tive dúvidas em aceitar logo”, disse, segundo o jornal Chicago Sun-Times.

Avanço médico

Um dos receios dos médicos antes da cirurgia era que os danos no rim enquanto esteve no corpo de Ray Fearing fossem irreversíveis. Os receios revelaram-se infundados: o rim recuperou a sua função pouco tempo depois de Erwin Gomez o ter recebido e, oito dias mais tarde, os exames mostraram que os danos desapareceram.
“Este é um avanço médico, porque sugere que é possível reverter os danos num rim provocados pela glomerulonefrite segmentar focal, depois de ser retransplantado num corpo com um sistema circulatório saudável”, comenta, no mesmo comunicado, outro cirurgião do hospital, Joseph Leventhal. “Não só salvámos um órgão viável de ser descartado, como demos um passo significativo na compreensão da causa da glomerulonefrite segmentar focal, que é relativamente desconhecida, para podermos tratá-la melhor no futuro. Isto prova que, quando um órgão falha num corpo, pode ter sucesso noutro.”
Ray Fearing voltou a fazer hemodiálise, enquanto não aparecer um dador compatível consigo. “A hemodiálise não é a situação ideal, mas permite-me continuar a viver.” Já Erwin Gomez não se cansa de agradecer a segunda oportunidade de vida que o rim de Ceria e de Ray lhe trouxe. “Estou-lhes muito agradecido e muito impressionado com a sua atitude.”

Fonte: Público

domingo, 29 de abril de 2012

Estudo revela sinais de resistência da malária a tratamentos

O parasita mais mortífero da malária em África revelou resistência a um dos medicamentos mais fortes disponíveis no mercado em testes de laboratório, revela um estudo, que alerta para o risco de perda de eficácia dos tratamentos.
Uma equipa britânica observou em laboratório a resistência do parasita Plasmodium falciparum ao arteméter (fármaco antimalárico) em análises sanguíneas realizadas a 11 dos 28 pacientes que ficaram doentes depois de terem viajado para países africanos, sobretudo da África Subsariana, o que consideram ser um "resultado estatisticamente significante".
Os resultados desta pesquisa foram hoje publicados no "Malaria Journal".
Os investigadores explicam que a resistência ao tratamento foi causada por mutações genéticas no parasita, transmitido por picadas de mosquitos infetados, o que poderá significar que "as melhores armas contra a malária poderão tornar-se obsoletas", mas alertam que esta situação carece de mais pesquisas e monitorização.
O parasita Plasmodium falciparum é responsável por 90 por cento das mortes por malária. E a África subsariana regista 90 por cento das mortes por malária ocorridas anualmente em todo o mundo.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 655 mil pessoas morreram em 2010 por malária, que é a quinta principal causa de morte nos países subdesenvolvidos.

Fonte: Diário de Notícias

sábado, 28 de abril de 2012

Detectada nova partícula no CERN

Ainda não foi a vez do bosão de Higgs, mas esta partícula, prevista pela teoria, nunca tinha sido vista até aqui.
Três investigadores da Universidade de Zurique anunciaram nesta sexta-feira ter detectado uma nova partícula subatómica, nas colisões de protões realizadas no Large Hadron Collider (LHC, o acelerador de partículas do Laboratório Europeu de Física das Partículas, ou CERN, perto de Genebra na Suíça). A partícula é mais precisamente um “barião”, que até aqui nunca fora observado.
Os bariões são partículas compostas por três partículas ainda mais pequenas, os quarks. Existem seis quarks: up, down, charm, strange, top, bottom (também chamado beauty). O up e o down, por exemplo, formam os neutrões e os protões dos núcleos atómicos. Mas os diversos quarks também se ligam entre si para formar uma série de outras partículas – e quando se ligam em trios dão origem, como já foi referido, aos bariões.
Os quarks possuem massas e cargas eléctricas diferentes – e todos os bariões formados pelos três quarks mais leves (o up, o down e o strange) já foram observados. Mas isso só tem acontecido com poucos bariões que contêm quarks pesados. Como são extremamente instáveis, estes bariões só podem ser gerados artificialmente nos aceleradores de partículas.
Agora, dados recolhidos no LHC, entre Abril e Novembro de 2011, pela experiência CMS (uma das duas que estão actualmente à procura do bosão de Higgs), foram analisados por Claude Amsler, Vincenzo Chiochia e Ernest Aguiló. E permitiram-lhes detectar um barião composto por um quark leve (up) e dois quarks pesados (strange e bottom/beauty). A massa desta partícula, designada Xi_b^*, é comparável à de um átomo de lítio, segundo um comunicado da Universidade de Zurique. Lê-se ainda, num comunicado do CERN, que o Modelo Padrão – o modelo que melhor descreve actualmente como funciona a física ao nível subatómico – prevê a existência de bariões Xi_b no estado carregado, neutro e excitado. E que, embora os dois primeiros tipos já tenham sido vistos em detectores, “esta é a primeira vez que um barião beauty excitado é observado.”
Os cientistas não “viram” directamente a partícula, mas puderam inferir, analisando os resultados de 530 milhões de milhões de colisões protão-protão a energias de 7 TeV, que tinham acontecido durante essas colisões 21 eventos de geração de bariões Xi_b^*. Isto é estatisticamente suficiente para afirmar que os sinais produzidos não eram meras flutuações aleatórias, mas partículas reais.
“A descoberta desta nova partícula confirma a teoria”, conclui o documento da Universidade de Zurique, “contribuindo portanto para a uma melhor compreensão da interacção forte, uma das quatro forças fundamentais da física, que determina a estrutura da matéria.” A interacção forte é efectivamente a responsável por manter os quarks ligados entre si.

Fonte: Público

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Agricultura espalhou-se na Europa com migrações do sul

Uma análise dos genes encontrados em ossadas humanas de há cinco mil anos, descobertas na Suécia, revelam que a agricultura espalhou-se no norte da Europa na Idade da Pedra, com as migrações vindas do sul do continente.
A maioria dos peritos concordam que a agricultura nasceu há onze mil ano, no Crescente Fértil (zona do Médio Oriente), chegando ao sul da Europa vários milhares de anos mais tarde, e finalmente alastrando-se a todo o continente.
Os emigrantes da bacia do Mediterrâneo não só revelaram às tribos de caçadores-recoletores do norte da Europa o que era preciso para cultivar a terra e criar gado, mas também se juntaram a eles criando as bases genéticas das populações europeias modernas.
"Analisámos as amostras genéticas provenientes de duas culturas, uma de caçadores-recoletores e outra de agricultores, que existiam na mesma época e viviam a menos de 400 quilómetros uma da outra" no que é hoje a Suécia, explicou Pontus Skoglund, da Universidade Uppsala, principal autor do estudo publicado na revista 'Science'.
"Depois de termos comparado as amostras genéticas com as das populações modernas na Europa, descobrimos que as características genéticas dos caçadores-recoletores da pré-história na Suécia estavam ausentes", acrescentou.
Por seu lado, o ADN proveniente dos esqueletos de indivíduos que pertenciam à povoação vizinha de agricultores era muito próxima do das populações mediterrâneas.
"Quando colocamos estes resultados genéticos num contexto arqueológico podemos ver realmente a migração de agricultores da Idade da Pedra do sul da Europa para o norte, através de todo o continente", acrescentou Skoglund.
"Essas migrações resultaram cinco mil anos mais tarde no que parece ser uma mistura desses dois grupos genéticos na atual população europeia", concluiu.

Fonte: Diário de Notícias

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Novo caso de doença das vacas loucas nos Estados Unidos

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos confirmou nesta terça-feira que foi detectado um novo caso de vacas loucas na Califórnia, o quarto no país. O primeiro caso nos EUA foi registado em 2003.
O novo caso de encefalopatia espongiforme bovina (BSE), muitas vezes referida como doença das vacas loucas, foi detectado numa vaca leiteira no centro da Califórnia. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) já notificou as autoridades mundiais responsáveis pela saúde animal e os seus parceiros comerciais.
John Clifford, responsável pela área de veterinária do USDA, adiantou que a descoberta não deverá afectar as exportações de carne dos Estados Unidos. “Não há preocupação ou alarme no que se refere a este animal. Tanto a saúde humana como a animal foram protegidas no que se refere a esta questão”, garantiu em declarações aos jornalistas numa conferência de imprensa.
A detectação do primeiro caso em 2003 nos Estados Unidos levou a uma forte diminuição do comércio de carne. Vários estudos mostram que as pessoas podem contrair uma doença semelhante ao ingerir partes do animal afectado pela doença.
Clifford garantiu que o animal infectado não chegou a entrar na cadeia de consumo e que a sua carcaça será destruída. Esta doença não se transmite através do leite de vaca.
Em 2011, foram registados 29 casos em todo o mundo de doença das vacas loucas, segundo as autoridades norte-americanas, uma redução de 99% quando comparado com os 37.311 casos em 1992, quando ocorreu um grande surto que fez soar o alarme em vários países, principalmente no Reino Unido.
No mundo, o primeiro caso foi detectado em 1985, na Grã-Bretanha. Mas só em 1988 as autoridades britânicas alertaram as autoridades internacionais para um problema sério de saúde pública. Em Portugal, identificaram-se os primeiros bovinos contaminados em 1990.
A BSE é uma doença neurológica fatal. Começa por causar descoordenação motora nos bovinos e acaba por resultar na incapacidade de se levantarem, na perda de peso e diminuição da produção de leite.

Fonte: Público

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ovelha transgénica com gordura "boa" para o coração

Cientistas chineses anunciaram hoje a criação de uma ovelha geneticamente modificada que tem no corpo gordura polinsaturada que normalmente só se encontra em peixes e verduras.
Para conseguir este animal, os cientistas clonaram uma ovelha mas no processo incluiram um gene retirado de um verme, noticia a Reuters.
O gene do verme da espécie 'Caenorhabditis elegans' foi inserido numa célula da orelha de uma ovelha adulta que depois foi usada para fertilizar um óvulo, colocado no útero de outra ovelha, onde foi gerado.
Daqui nasceu Peng Peng, no dia 26 de março, pesando 5,74 kg, num laboratório da cidade de Urumqi, oeste da China. "Está a crescer bem e está saudável, como uma ovelha normal", garantiu à Reuters Du Yutao, líder da equipa de investigadores do Instituto de Genética de Pequim.
A ideia, dizem os cientistas é criar animais cuja carne, por incluir um tipo de gordura mais saudável, ajude a combater os problemas cardíacos. Resta saber se o processo de manipulação genética não inclui outros efeitos secundários.

Fonte: Diário de Notícias

terça-feira, 24 de abril de 2012

Cientistas filmam orca branca adulta pela primeira vez

Só a barbatana mede dois metros. A sua imagem alva a despontar das águas geladas ao largo da península de Kamchatka, na costa oriental da Rússia, inspirou-lhe o nome: "Iceberg". É a primeira orca branca adulta avistada em estado selvagem.
O anúncio foi feito esta segunda-feira por uma equipa de investigadores das universidades de Moscovo e de São Petesburgo que há 12 anos estuda os hábitos sociais das baleias numa zona próxima das ilhas Commander, no âmbito do projecto FEROP (Far East Russia Orca Project).
Nos últimos anos, os cientistas já tinham avistado outras orcas brancas, mas apenas juvenis. “Iceberg” é, no entanto, um macho que já atingiu a maturidade e que poderá ter cerca de 16 anos ou mais. Está integrado num grupo de 12 orcas. Os cientistas têm vindo a estudar 61 grupos distintos que vivem na região.
Para Erich Hoyt, co-director do projecto FEROP, poder visualizar uma raridade da natureza como uma orca branca é um incentivo para manter intocável a área protegida marinha que a Rússia estabeleceu à volta das ilhas Commander. Planos para a sua expansão estão, no entanto, a colidir com outros interesses, como a pesca e a exploração de petróleo e gás natural.
“De muitas formas, ‘Iceberg’ é um símbolo de tudo o que é puro, selvagem e extraordinariamente excitante sobre o que o oceano nos reserva para ser descoberto”, afirma Erich Hoyt, num comunicado do projecto FEROP. “O desafio é manter o oceano saudável de modo a que estas surpresas sejam sempre possíveis”, completa.

Fonte: Público

domingo, 22 de abril de 2012

Abelhas também são "intelectuais"

Investigadores franceses ficaram surpreendidos com as habilidades destes insetos.
Ainda que de uma dimensão minúscula, o cérebro das abelhas é capaz de grandes e inesperadas proezas, como verificou um grupo de investigadores franceses do Centre National de Recherche Scientifique (CNRS), que descobriu que estes insetos conseguem estabelecer relações entre objetos, o primeiro passo para a elaboração de conceitos abstratos.
Num artigo publicado ontem na revista PNAS, o grupo coordenado por Martin Giurfa, da universidade Toulouse III Paul Sabater, afirma que as abelhas têm em conta as relações entre objetos, como a sua localização espacial - por exemplo, em cima, em baixo, ao lado -, uma capacidade que se pensava ser apenas possível para os cérebros maiores como são os dos mamíferos.
A descoberta, que é "totalmente inesperada", como a própria equipa a descreve, vem pôr em questão a ideia de que "a elaboração do conhecimento conceptual" implica necessariamente um cérebro tão elaborado como o cérebro humano.
"O que é notável", afirmou o coordenador do estudo à AFP, "é que elas [as abelhas] conseguem mesmo utilizar dois conceitos diferentes para tomar uma decisão perante uma situação nova".
Para chegar a esta conclusão surpreendente, os investigadores testaram abelhas que deviam chegar até um líquido doce ou amargo (este a evitar) através de orifícios colocados entre imagens, cuja posição variava, mantendo no entanto a relação "em cima" ou "ao lado", relativamente aos orifícios associados à recompensa, ou à punição.
"Depois de 30 ensaios, as abelhas reconheciam sem problema a relação espacial que as guiava para o orifício certo, mesmo quando as imagens mudavam", afirmou Martin Giurfa, sublinhando que "esta manipulação de conceitos é afinal possível na ausência de linguagem, e apesar de estarmos perante uma arquitetura neuronal miniaturizada".
Estes resultados, escrevem os autores no artigo, "colocam assim em causa numerosas teorias em domínios como a cognição animal, a psicologia humana ou as neurociências e a inteligência artificial", já que a exigência de um cérebro muito complexo para produzir esses conceitos muito elaborados cai por terra.

Fonte: Diário de Notícias

sábado, 21 de abril de 2012

Cientistas conseguem fazer crescer pêlos em ratinhos carecas

O elixir da eterna juventude vem aos pedaços. Agora, uma equipa japonesa conseguiu fazer crescer pêlos em ratinhos carecas, com todas as funções. Este desenvolvimento foi feito usando células estaminais adultas da pele, que têm capacidade de originar vários tipos de células. Publicado na última edição da revista Nature Communications, o trabalho é um passo para o fim da calvície.
O segredo foi apostar nas estruturas que dão origem aos folículos capilares - os pequenos invólucros, que existem na pele, de onde nascem os pêlos do corpo e da cabeça.
A formação dos folículos só ocorre durante o desenvolvimento do feto e, quando esta estrutura desaparece, a sua substituição não é possível e os pêlos deixam de crescer.
Mas, até lá, existem células que envolvem o folículo e que durante toda a vida vão produzindo pêlos ciclicamente. A equipa de cientistas, liderada por Takashi Tsuji, da Universidade de Ciências de Tóquio, utilizou as células dos folículos para fazer crescer pêlos. Os cientistas trabalharam com dois tipos de células estaminais dos folículos, umas que estão por baixo da raiz do pêlo e outras mais acima, ao lado do pêlo.
No laboratório, os cientistas juntaram as duas populações de células de ratinho e criaram uma bolinha de células que implantaram na pele de ratinhos carecas. Passados 14 dias, 74% dos 62 animais tratados tinham um tufo de pêlos a crescer saudavelmente no dorso.

Boa densidade capilar

Apesar da "plantação" ter resultado, quase todos os pêlos não tinham pigmentação. Ou seja, nasceram brancos. Mas a equipa conseguiu obter pêlos escuros, adicionando à bolinha células que produziam pigmentos.
Mais: os folículos capilares que se desenvolveram tinham ligações nervosas, glândulas sebáceas e fibras musculares associadas, o que permite que os pêlos se ericem, como acontece quando temos frio.
Tal como os folículos naturais, a equipa de Takashi Tsuji verificou ainda que os novos folículos originavam ciclos de crescimento e de morte dos pêlos. Estes ciclos, refere Tsuji num comunicado, mantiveram-se durante quase um ano.
"Pensamos que os folículos capilares construídos por bioengenharia podem funcionar durante o tempo médio de vida", diz. É assim uma plantação duradoura.
Numa outra experiência, os cientistas testaram o que aconteceria se construíssem bolinhas com células de folículos capilares de um homem com alopécia, o nome técnico da calvície, comum no sexo masculino.
Implantaram essas células nos ratinhos e, em 21 dias, cresceu cabelo escuro. Um resultado que é animador para o tratamento deste problema.
Para testar se seria possível ter uma densidade capilar boa, o que significa entre 60 a 100 pêlos por centímetro quadrado, a equipa fez ainda outra experiência: implantou 28 bolinhas de células de ratinho num centímetro quadrado da pele de três animais. E obteve bons números: em média, nasceram 124 pêlos.
"Estes resultados indicam que o transplante de folículos capilares feitos através da bioengenharia podem ser aplicados no tratamento da alopécia", conclui o artigo.
Num comentário feito na revista Nature, Mayumi Ito, dermatologista de Nova Iorque, sublinha que este é o primeiro relato da reconstituição de folículos capilares com células humanas. Para Mayumi Ito, falta agora a equipa mostrar que consegue disseminar os folículos capilares numa região maior.

Fonte: Público

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Falar sozinho não tem de ser mau sinal

Psicólogos verificaram que isso às vezes ajuda a encontrar o que se procura.
Falar sozinho não é necessariamente um sinal de que se está a ficar lunático. Quem o diz são psicólogos que estudaram este comportamento em crianças e adultos e verificaram que, em determinadas situações, como procurar um objeto em casa, ou um produto no supermercado, isso ajuda a encontrar mais rapidamente o que se procura, segundo um artigo publicado no Quarterly Journal of Experimental Psychology.
É claro que falar sozinho parece de repente um pouco bizarro. Então porque é as pessoas o fazem com tanta frequência?
Foi esta a pergunta que os psicólogos norte-americanos Gary Lupyan e Daniel Swingley, respetivamente das universidades de Wisconsin-Madison e da Pensilvânia, se propuseram responder e os resultados das suas investigações acabam por ser um alívio para quem às vezes se surpreende a si próprio nesses preparos.
Nas experiências realizadas pelos dois investigadoress, os participantes tinham de procurar determinados produtos num supermercado e numa das situações, deviam dizer alto os nomes desses produtos. Em resultado disso, verificaram os psicólogis, as pessoas conseguiam encontrar mais depressa o que procuravam.
Este comportamento é habitual nas crianças, por exemplo quando têm de desempenhar uma tarefa, e os psicólogos pensam que isso lhes serve para se concentrarem e poderem ser mais eficazes na realização da tarefa. Porvavelçmente, nos adultos, o princípio é o mesmo.

Fonte: Diário de Notícias

quarta-feira, 18 de abril de 2012

As camas dos orangotangos são obras de engenharia

Os orangotangos ganham aos chimpanzés e gorilas, pelo menos na questão das camas. Entre os grandes símios, os orangotangos são aqueles que fabricam as camas mais elaborados e que duram mais tempo. Mas nunca se tinha estudado aprofundadamente as suas camas, ou ninhos, que permanecem nas árvores da floresta tropical, no arquipélago da Indonésia, depois de os seus donos terem continuado viagem. Agora, uma equipa de cientistas britânicos descobriu que estas estruturas são uma obra de engenharia complexa, a começar na forma como os orangotangos utilizam os galhos das árvores na sua construção.
O estudo, publicado nesta semana na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Science, é da equipa de Roland Ennos, da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
Aparentemente há uma tradição nos grandes símios – chimpanzés, bonobos, gorilas, orangotangos –, para construírem ninhos complexos. “Assim que deixam de mamar, todos os grandes símios constroem ninhos quase diariamente”, explica a equipa no artigo. É um processo inato, cujo desempenho melhora quando os indivíduos têm a oportunidade de observar um adulto a fazê-lo. Normalmente, os ninhos são feitos nas árvores, onde o sono é mais descansado, há uma protecção acrescida contra os predadores e menos insectos parasitas.

Particularidades dos primos ruivos
Os orangotangos têm algumas idiossincrasias acrescidas. Evitam construir os ninhos em árvores de fruto, o que pode ser uma táctica para não terem de lidar com bichos que se alimentam destes frutos durante o sono, e têm preferências por certas árvores, talvez devido à sua forma.
Diariamente, sobem a árvores com alturas entre os 11 e 20 metros e em cerca de 15 minutos deixam a sua cama pronta, às vezes com uma versão símia de almofadas e lençóis. “Vimos orangotangos a construir ninhos seguros e confortáveis dobrando, mas não partindo totalmente, ramos grossos que entrelaçavam e a torcer e arrancar ramos mais pequenos para fazer uma espécie de colchão”, explica Roland Ennos, num comunicado. “Parece que aprenderam sobre as propriedades mecânicas da madeira e usam este conhecimento de forma hábil.”
A equipa passou um ano a observar e a filmar orangotangos-de-samatra no centro de investigação de Ketambe, no Parque Nacional de Gunung Leuser, que fica no Noroeste da ilha de Samatra, na região onde restam os últimos 6600 indivíduos da espécie Pongo abelii, criticamente em perigo de extinção.
Os cientistas mediram os ninhos enquanto ainda estavam intactos e observaram as suas formas. São ovais, côncavos e têm, em média, um metro de comprimento e 80 centímetros de largura. A equipa descobriu que, por exemplo, uma fêmea de 38,5 quilos, em média, dormiria uma noite confortável e segura, graças às escolhas criteriosas durante a construção do ninho.
“Os orangotangos escolhem ramos fortes e rígidos para as partes do ninho que suportam o peso, e ramos mais fracos e flexíveis para o revestimento – o que sugere que a escolha dos ramos para diferentes partes do ninho é baseada no diâmetro e na rigidez dos ramos”, defende Ennos. Além disso, a forma como os orangotangos partem os ramos depende também da sua finalidade. Os maiores ficam meio partidos e continuam agarrados às árvores, enquanto os mais pequenos são completamente arrancados.
Os resultados destas escolhas e a forma como os ramos são entrelaçados na estrutura do ninho resulta num centro que é mais flexível e numa região lateral mais rígida. Ou seja, eles dormem numa cama que é simultaneamente confortável e segura. “Isto demonstra que têm algum conhecimento de engenharia”, diz Ennos.
Para o cientista, esta descoberta nos também nossos parentes de pêlo ruivo tem implicações no aparecimento da inteligência, da cognição e no fabrico de ferramentas durante a evolução humana. “O nosso estudo é uma prova que o desenvolvimento destas características começaram nos símios, porque eles precisavam de compreender o ambiente mecânico e não só o ambiente social.”

Fonte: Público

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Demência afeta 35,6 milhões e triplicará até 2050

Mais de 35 milhões de pessoas são afetadas por demência em todo o mundo, número que pode duplicar em 2030 e mais do que triplicar em 2050, mas há falta de informação sobre o problema, alertou hoje a Organização Mundial de Saúde.
Esta doença atinge toda a população, porém, mais de metade (58%) das pessoas com demência vive em países com baixo ou médio rendimento e em 2050 esta percentagem deverá subir aos 70%.
Os custos de tratar e cuidar dos dementes estão estimados em 604 mil milhões de dólares (cerca de 460 mil milhões de euros) por ano, montante que inclui cuidados de saúde e sociais e o apoio aos cuidadores.
No entanto, somente oito países estão a desenvolver programas dedicados à demência, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Atualmente, são 35,6 milhões os dementes em todo o mundo, estimando-se que subam aos 65,7 milhões em 2030 e atinjam 115,4 milhões em 2050.
Um relatório publicado pela OMS e pela entidade internacional do Alzheimer denominado "Demência: uma prioridade de saúde pública" recomenda o diagnóstico preventivo tal como a sensibilização pública para a doença e a melhoria dos cuidados e do apoio aos cuidadores.
A OMS realça a falta de diagnóstico como o problema mais relevante mesmo para os países desenvolvidos nos quais somente entre um quinto e metade dos casos de demência estão reconhecidos e controlados.
E quando é feito o diagnóstico, muitas vezes é numa fase avançada da doença.
O relatório aponta ainda a falta de informação e de compreensão da demência, o que cria um estigma na sociedade e leva ao isolamento tanto dos doentes como de quem cuida deles.
"O cuidado público face à demência, os seus sintomas, a importância de ter um diagnóstico e a ajuda disponível para os doentes são muito limitados", uma situação que é necessário alterar, defende o diretor executivo da entidade internacional da doença de Alzheimer, Marc Wortmann, citado num comunicado da OMS.
A demência é normalmente uma doença crónica causada por várias patologias do cérebro que afetam a memória, o pensamento, o comportamento e a capacidade para desempenhar as atividades quotidianas.
A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência e as estimativas apontam para que seja responsável por cerca de 70% dos casos.

Fonte: Diário de Notícias

domingo, 15 de abril de 2012

Cientistas contam milhares de pinguins a partir do espaço

Um novo estudo usou satélites para descobrir que existem 595.000 pinguins-imperador na Antárctida, ou seja, duas vezes mais do que se pensava. As conclusões da investigação sobre o impacto das alterações do Ambiente nas populações desta ave icónica foram publicadas na revista PLoS ONE.
“Ficámos encantados por sermos capazes de localizar e identificar tantos pinguins-imperador”, disse o principal autor do estudo, Peter Fretwell, e membro do British Antarctic Survey (BAS). “Contámos 595.000 aves, quase o dobro das estimativas anteriores, entre 270.000 e 350.000 animais. Este é o primeiro censo completo de uma espécie, feito a partir do espaço”, acrescentou.
Uma equipa internacional de cientistas utilizou imagens de satélite de muito alta resolução para estimar o número de pinguins em cada colónia em redor da zona costeira da Antárctida. Com uma nova tecnologia que permite aumentar a resolução das imagens de satélite, a equipa conseguiu diferenciar aves, gelo, sombras e fezes de pinguins (chamado guano). Para calibrar a análise das populações, os cientistas fizeram contagens no terreno e tiraram fotografias aéreas.
O pinguim-imperador nidifica em áreas que são muito difíceis de estudar porque são muito remotas e muitas vezes inacessíveis, com temperaturas que podem descer até aos 50ºC negativos.
“Os métodos que usámos são um enorme avanço na ecologia da Antárctida, porque podemos fazer investigação de forma segura e eficiente, com poucos impactos ambientais”, disse Michelle LaRue, co-autora do trabalho e investigadora da Universidade do Minnesota.
No gelo, estes pinguins com a sua plumagem branca e preta destacam-se no branco da neve e as colónias são claramente visíveis nas imagens de satélite. Isto permitiu à equipa analisar 44 colónias de pinguim-imperador em torno da costa da Antárctida, descobrindo sete até agora desconhecidas.
Os cientistas estão preocupados que, em algumas regiões da Antárctida, Primaveras que chegam mais cedo estejam a fazer desaparecer o gelo no mar, habitat dos pinguins. “As investigações científicas actuais sugerem que as colónias de pinguim-imperador serão gravemente afectadas pelas alterações climáticas”, acrescentou o biólogo Phil Trathan, do BAS, e outro co-autor do estudo. “Um censo rigoroso à escala do continente pode ser facilmente repetido regularmente para nos ajudar a monitorizar os impactos das mudanças futuras nesta espécie icónica.”
A investigação resultou da colaboração do BAS, da Universidade do Minnesota/National Science Foundation, do Instituto de Oceanografia Scripps e da Divisão Antárctida Australiana.

Fonte: Público

sábado, 14 de abril de 2012

Cães são contagiados pelo bocejo dos humanos

Os cães também são contagiados pelo bocejo dos humanos e reagem mais se for o seu dono, uma característica que pode refletir empatia e ser útil na seleção dos animais para ajudar em determinadas situações.
A investigadora Joana Bessa, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, partiu de estudos já realizados sobre o bocejar contagiante, mas que tinham obtido resultados divergentes, e tentou encontrar provas de que estes animais podiam "apanhar" os bocejos humanos.
Com a colaboração de Karine Silva e Liliana de Sousa, a cientista conseguiu "resultados positivos" e concluiu que "havia contágio por parte dos cães mas também havia uma modelação social".
"Tentámos replicar os estudos para perceber se encontrávamos provas de que os cães podiam apanhar os bocejares dos humanos, mas tentámos também perceber se havia influência da empatia", explicou Joana Bessa à agência Lusa.
"Os cães bocejavam mais quando ouviam o bocejar de pessoas conhecidas, dos donos, face a pessoas desconhecidas, e surge a hipótese de que os cães poderão ter alguma empatia relativamente aos humanos", referiu Joana Bessa.
Participaram no estudo 29 cães que foram expostos a sons de bocejos. A opção por evitar o contacto visual teve como objetivo afastar a hipótese de ser uma simples imitação do gesto que viam na pessoa.
Os cães ouviram sons de pessoas diferentes, dos donos e de pessoa desconhecida, e um som de controlo (artificial), distribuídos por sessões separadas por sete dias.
A provar-se em futuros estudos determinadas características dos cães, como a personalidade ou a existência de relação com a empatia, será possível tentar utilizar essas formas para escolher animais mais adaptados a certas situações, como os cães de ajuda, avançou a investigadora.
Os cães ou os cavalos ajudam, por vezes, nos tratamentos de crianças ou adultos com deficiências criando uma relação de confiança, sendo os mais conhecidos os casos de cegueira.
Joana Bessa acrescentou que, se for provado que a empatia está relacionada com o bocejar contagiante, essa informação "pode ser aplicada a várias espécies".
O longo processo de domesticação dos cães poderá fazer com que tenham uma ligação mais próxima com os humanos, tendo igualmente influência nesta capacidade empática, admitiu.
Este trabalho será publicado na revista Animal Cognition e é uma das comunicações previstas para o 9ºCongresso Nacional de Etologia, que hoje se inicia em Lisboa e conta com a participação de vários especialistas em comportamento animal.

Fonte: Diário de Notícias

sexta-feira, 13 de abril de 2012

China promete curas com células estaminais apesar do cerco das autoridades

A China tornou-se num imenso mercado para as empresas que prometem curas com células estaminais para doenças como Alzheimer, Parkinson, diabetes, esclerose múltipla ou autismo. Apesar da inexistência de provas sobre a eficácia destas terapias, milhares de pessoas arriscam a sua sorte. Pequim está a tentar pôr cobro a esta farsa, mas até agora sem sucesso.
Três meses depois de o Ministério da Saúde chinês ter aumentado os seus esforços para erradicar o uso clínico de tratamentos não eficazes com células estaminais, uma investigação da revista “Nature” revela que múltiplas empresas e clínicas em vários pontos do país continuam a ficar com o dinheiro de doentes em troca de terapias cuja eficácia ainda está por provar.
Estas clínicas publicitam casos de doentes que dizem ter experimentado benefícios dos tratamentos e alguns destes centros até têm instalações associadas a complexos hospitalares, dando-lhes uma aparência de legitimidade que, de acordo com a Nature, é falsa. “Peritos em células estaminais contactados pela revista insistem que este estas terapias não estão em fase de poder ser usadas clinicamente e que algumas terapias poderão até pôr em risco a saúde dos doentes”, escreve a revista, sublinhando, porém, que o Governo chinês está a lutar contra este tipo de práticas.
As células estaminais têm a capacidade de originar vários tipos de células do organismo, o que as torna promissoras na regeneração de tecidos, nomeadamente em doenças neurodegenerativas. Mas até esses tratamentos serem uma realidade, ainda há muita investigação científica de base pela frente.
A partir de Janeiro deste ano, reconhecendo que esta situação estava a perder o controlo - apesar de, em 2009, já ter classificado estes tratamentos de “alto risco” -, Pequim anunciou um pacote de medidas para este tipo de actividade, obrigando as empresas e clínicas a registarem-se junto das autoridades para poderem levar a cabo as suas práticas. Paralelamente, o Ministério da Saúde pediu às autoridades sanitárias locais que pusessem cobro, nas respectivas regiões, a qualquer actividade não aprovada envolvendo células estaminais. O Governo lançou ainda uma moratória para novos ensaios clínicos e argumentou que os doentes já envolvidos em terapias não deveriam pagar esses tratamentos.
Até agora, porém, toda esta repressão por parte das autoridades tem-se revelado ineficaz, revela a Nature.
De acordo com um porta-voz do Ministério da Saúde, nem uma clínica se registou junto das autoridades da forma correcta e a Nature descobriu que muitas continuam no mercado, a oferecer este tipo de tratamentos.
A WA Optimum Health Care é uma destas clínicas. Está instalada numa das zonas mais prósperas de Xangai e oferece um tratamento entre quatro e oito injecções de células estaminais (o preço de cada injecção varia entre os 3600 e os 6000 euros) para tratar a doença de Alzheimer. A terapia contra o autismo pode ser ainda mais cara, revela David Cyranski, autor da investigação.
Outra clínica (Tong Yuan Stem Cell) assegura ter já tratado mais de 10 mil doentes que padeciam de diversas enfermidades e indica que a sua terapia para o autismo, por exemplo, dura um ano e tem por base quatro injecções de células estaminais de fetos abortados.
“Essas clínicas afirmam ter êxito, mas até agora nenhuma publicou dados com grupos de controlo”, frisou Cyranski.
O problema é tão grave que a Nature dedica um editorial ao assunto, chegando a comparar esta situação à prática da lobotomia, há quase um século.
Diversos peritos internacionais frisam que estes tratamentos poderão provocar doenças auto-imunes e até alguns tipos de cancros.
Precisamente porque as doenças que este tipo de tratamentos prometem resolver são muito graves, estas empresas e clínicas - que se anunciam livremente online - atraem milhares de pessoas de todo o mundo. Algumas delas até afirmam ter parcerias com centros de investigação norte-americanos, como a Universidade de Harvard ou a Universidade da Califórnia, que negam rotundamente semelhantes relações.

Fonte: Público

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Simpatia pode estar nos genes

Investigadores identificaram uma forte relação entre atitudes sociais e receptores das células.
Uma equipa de investigadores realizou uma experiência cujos resultados sugerem exitir uma ligação entre a simpatia das pessoas e a sua genética. Os cientistas têm o cuidado de avisar que não descobriram "um gene da simpatia", mas que o ADN ajuda a explicar os comportamentos ligados à generosidade, a preocupação pelos outros e a participação cívica.
A investigação teve como ponto de partida o conhecimento de que há hormonas (como a oxitocina ou vasopressina) a funcionar nestes comportamentos sociais e que estas moléculas funcionam ligando-se às células através de receptores, que têm várias formas, ditadas pela genética do indivíduo. Por exemplo, a exposição a oxitocina, presente nos comportamentos maternais, aumenta a sociabilidade.
Os cientistas recolheram a saliva de 711 voluntários e analisaram a forma dos receptores de oxitocina e vasopressina, associando esta informação a um questionário sobre se as pessoas consideravam o mundo ameaçador, mas também à sua participação comunitária e grau de envolvimento cívico.
A conclusão foi de que as pessoas que consideravam o mundo ameaçador eram menos solidárias, excepto se tivessem versões dos receptores que se sabe estarem associados à simpatia. Ou seja, certas versões dos receptores ajudavam a vencer a percepção do mundo ameaçador, levando as pessoas a ajudar mais os outros.
Chefiada por Michel Poulin, a equipa reuniu cientistas das universidades de Buffalo e da Califórnia, Irvine, nos EUA. O trabalho, "Neurogenética da Simpatia" foi publicado na revista especializada Psychological Science.

Fonte: Diário de Notícias

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cientistas identificaram genes associados ao risco de obesidade infantil

Não é novidade: há cada vez mais crianças com excesso de gordura corporal - "pneus" na cintura e rosto, braços e pernas demasiado acolchoados. Embora o estilo de vida sedentário e os maus hábitos alimentares, que começam cada vez mais cedo, contribuam para esta epidemia, pensa-se que, tal como no adulto, também aqui existe uma forte componente hereditária. Mas quais são os factores genéticos que predispõem uma criança, à partida saudável, a tornar-se obesa ainda na infância?
Tirando os casos de obesidade infantil devida a doenças raras, a genética da esmagadora maioria dos casos - ditos de obesidade infantil "comum" - ainda está por desvendar. Struan Grant, do Hospital Pediátrico de Filadélfia, e colegas do consórcio internacional EGG (Early Growth Genetics) descobriram agora dois genes e publicaram ontem os resultados na revista Nature Genetics.
Diga-se, antes de mais, que as bases genéticas da obesidade do adulto também têm sido esquivas. Estima-se que, no adulto, entre 40% e 70% da variabilidade do IMC (índice de massa corporal) depende de factores genéticos. Mas, até agora, apesar de ter sido identificada uma série de variantes genéticas associadas ao IMC nos adultos obesos, isso não chega sequer para explicar 2% da variabilidade do IMC. Ainda tem de haver uma multidão de factores genéticos desconhecidos.
Voltando à genética da obesidade infantil, até aqui, diz Grant num comunicado do seu hospital, "os estudos centravam-se nas formas mais extremas de obesidade, sobretudo associadas a síndromes raras". Mas, com base no novo estudo, "o maior de sempre ao nível de todo o genoma (...), conseguimos identificar claramente e caracterizar uma predisposição genética para a obesidade infantil comum".
Os cientistas reuniram 14 estudos anteriores - totalizando 5530 casos de obesidade infantil e 8300 crianças não obesas, todos de origem europeia. "Para termos dados suficientes, que fornecessem a potência estatística necessária para revelar novos sinais genéticos", explica ainda Grant, "foi preciso (...) combinar os resultados de estudos semelhantes vindos do mundo inteiro".
Conseguiram assim identificar duas variantes genéticas claramente associadas à obesidade infantil: uma situada na proximidade de um gene chamado OLFM4, no cromossoma 13, e outra num gene chamado HOXB5, no cromossoma 17. E também duas outras, embora menos claramente associadas.
O papel que estes genes desempenham no organismo poderá dar novas pistas para a compreensão da doença. "O que sabemos da biologia de três dos genes sugere que o intestino poderá estar envolvido [na genética da doença]", salienta Grant, "embora ainda se desconheça o papel funcional preciso desses genes na obesidade". Para ele, "ainda é preciso muito trabalho, mas estes resultados poderão um dia ajudar a desenvolver futuras intervenções preventivas e tratamentos para as crianças com base no seu genoma individual".
Para Pedro Teixeira, da Faculdade de Motricidade Humana, perto de Lisboa, "um longo caminho ainda resta percorrer até podermos aplicar este conhecimento ao diagnóstico de risco em indivíduos". "Estou certo que esse dia ficará cada vez mais próximo e há muitas linhas promissoras, nomeadamente na interacção entre genes, ambiente e estilo de vida", diz ao PÚBLICO. Contudo, "a prudência nesta matéria deve ser a norma neste momento", acrescenta. "Não na investigação, mas nas expectativas que podem ser criadas."

Fonte: Público

terça-feira, 10 de abril de 2012

Composto de óleo essencial pode tratar osteoartrose

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) identificou um composto natural, extraído do zimbro, com elevado potencial para o tratamento da osteoartrose, a principal causa de incapacidades motora e laboral a partir dos 50 anos.
O composto identificado é o afla-pineno, também presente no eucalipto e pinheiro, que, para a investigação em causa, iniciada em 2007, foi extraído do juniperus oxycedrus, vulgarmente conhecido por zimbro, cedro-de-espanha, oxicedro ou cade.
A osteoartrose, conhecida também por reumatismo ou artrose, é uma doença que atinge fundamentalmente a cartilagem das articulações - que funciona como amortecedor e lubrificante para garantir os movimentos - e provoca dor, rigidez, limitação de movimentos e, em fases mais avançadas, deformações.
"Não existe um medicamento eficaz para o tratamento da artrose, que afeta milhões de pessoas e cada vez mais, porque a população está a envelhecer", disse hoje à Lusa Alexandrina Mendes, coordenadora da avaliação farmacológica do estudo, que visa desenvolver um medicamento "capaz de travar a doença e promover a regeneração do tecido da cartilagem".
A investigadora sublinha que o composto identificado pela equipa demonstrou uma "forte seletividade para a cartilagem, não atuou num leque de outras células do organismo", o que é "um bom indicador de que não provoca efeitos colaterais".
"São resultados bastante promissores, mas são ainda necessários muitos passos até podermos chegar a um medicamento", disse, sublinhando a "importância da realização de ensaios com animais, para comprovação da eficácia e de que não há efeitos tóxicos".
Para o avanço para os ensaios pré-clínicos, com animais, é necessário financiamento que ainda não está assegurado, afirmou Alexandrina Mendes, referindo que o projeto foi submetido à Fundação para a Ciência e Tecnologia e estão em curso contactos com a indústria farmacêutica.
Além do alfa-pineno, a investigação permitiu ainda a identificação de um "conjunto de óleos essenciais de plantas da flora ibérica", mais concretamente de plantas endémicas de algumas regiões de Portugal (como Quiaios, na Figueira da Foz, e Serra da Estrela), "com moléculas bastante ativas sobre a doença articular crónica mais comum".
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a osteoartrose é "uma das 17 doenças prioritárias na área da prevenção e tratamento", refere a nota hoje divulgada pela UC.
"A evolução da doença é um processo longo com custos diretos (consultas, medicamentos, cirurgia) e indiretos (produtividade reduzida e absentismo laboral) muito elevados, tanto para o doente como para o Serviço Nacional de Saúde", conclui Alexandrina Mendes.
O estudo em curso tem a colaboração do Serviço de Ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra/Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e envolve sete investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Farmácia da UC, com a vertente da obtenção dos óleos essenciais e sua caracterização química a ser liderada por Carlos Cavaleiro.

Fonte: Diário de Notícias

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pais e investigadores dividem-se quanto à importância dos TPC

Em Portugal, pais, psicólogos e professores dividem-se: há os defensores dos trabalhos para casa (TPC) e há quem não veja vantagens em obrigar as crianças a fazê-los.
Uns consideram-nos fundamentais para incutir hábitos de trabalho e autonomia no estudo, outros acham-nos excessivos, contraproducentes e até potenciadores de desigualdades entre as crianças na medida em que umas podem beneficiar da ajuda dos pais e outras não.
O debate reacendeu-se com o recente boicote de uma associação de pais franceses aos TPC. Alegam estes pais que são cansativos e, se a criança já aprendeu a matéria na escola, então mais vale ler um livro em casa. Se não aprendeu, não vai ser em casa que o vai fazer. Vai daí declararam uma greve de duas semanas aos deveres para casa. Dias depois uma associação espanhola de pais subscreveu a posição. Os trabalhos para casa estão proibidos em ambos os países para as crianças com idades compreendidas entre os seis e os 11 anos. Apesar disso, os professores franceses e espanhóis continuam a insistir nessa prática.
Para o professor de Psicologia da Universidade do Minho e autor de livros sobre educação, Pedro Sales Rosário, os TPC têm uma função instrutiva e de promoção de autonomia: "As aulas são importantes, ensinar é importante, mas aprender é apropriarmo-nos dos conhecimentos. E essa apropriação é pessoal", sustenta, notando que tal acontece no estudo e nos TPC. E estes são um "termómetro": "Quando um aluno se empenha e não consegue fazer, leva as dúvidas para a aula. Existe um feedback do trabalho do aluno e do professor".
Pedro Santos, com uma filha de sete anos, questiona se ter os pais "à mão" não será "a pior das formas de promover a autonomia". Em casa vê o que a Mafalda sabe ou não fazer e ajuda "com dúvidas simples". "Não creio que caiba aos pais - não me cabe certamente a mim, que não tenho competências pedagógicas para tal - substituir o papel da professora".

Cultura de trabalho

Pedro Sales Rosário concorda que "os pais não têm de ser professores": "Pode explicar-se coisas mínimas, mas é melhor dizer-lhes para perguntar ao professor no dia seguinte do que dar-lhes a solução".
Importante é perceber "por que é que a criança não sabe fazer aqueles trabalhos de casa". "Não apanhou a matéria? Esteve desatento? A pensar em quê? Por que é que não perguntou à professora? É tímido?"
Luís Marinho, coordenador do projecto "Estudar dá Futuro" - iniciativa da associação de pais do Externato de Penafirme que se organizou para apoiar voluntariamente alunos no estudo -, não vê "drama" nos TPC. Pelo contrário: "Se tiverem desde cedo uma cultura de esforço e de trabalho, mais preparados vão estar para enfrentar a realidade".
Marinho considera que as desigualdades no nível cultural e económico das famílias não acabam com o fim dos TPC e não vê razões para "embaraços". "O pai até pode nem saber ler nem escrever, mas sabe se o filho está no Facebook ou com um livro nas mãos. Há um sinal de disciplina que os pais têm de passar", defende este pai, que tem uma filha no ensino básico e outra no 8.º ano.
Também a presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação, Maria José Viseu, entende que os TPC "obrigam as crianças a organizarem-se".

Ritmo de vida
Há porém a questão do tempo que as famílias têm para dedicar a estas tarefas. Pedro Sales Rosário admite que os pais chegam cansados a casa, mas insiste no esforço: "Também posso optar pela comida pré-feita, é mais rápida, estou sem tempo para cozinhar, mas depois os miúdos engordam. Também nos TPC há uma dieta de trabalho para que não tenham problemas depois".
Quem se revê na posição dos pais franceses é Eduardo Sá, professor universitário e psicólogo clínico especializado em psicologia infantil e juvenil: "É um levantamento muito bonito". Em 2005, Eduardo Sá foi um dos promotores do Sindicato das Crianças e uma das iniciativas foi precisamente uma greve aos TPC. Pretendia-se alertar para a importância do tempo para brincar.
Eduardo Sá frisa que "mais escola não é obrigatoriamente melhor escola". "As crianças têm blocos de aulas de 90 minutos, muitas actividades extracurriculares. É penoso chegarem a casa e, entre o banho e o jantar, fazerem TPC. Exaustos, não vão aprender, mas desenvolver um ódio de estimação à escola". O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais, Albino Almeida, também questiona: "Se na sala de aula não conseguem consolidar os conhecimentos, se no estudo acompanhado não fazem os TPC, vão fazer em casa?".
Apesar de não ter uma posição "fundamentalista", o coordenador do departamento de Psicologia Educacional do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, José Morgado, não simpatiza com os TPC. Sobretudo nas idades mais baixas, "o bom trabalho na escola" devia dispensá-los: "É uma questão de saúde e qualidade de vida", escreve no blogue Atenta Inquietude. Morgado distingue o Trabalho para Casa e o Trabalho em Casa: "O TPC é trabalho da escola feito em casa, o trabalho em casa será o que as crianças podem fazer em casa que, não sendo tarefas de natureza escolar, pode ser um bom contributo para as aprendizagens dos miúdos".
Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, garante que os professores são incentivados a não mandarem todos os TPC "em simultâneo" e a evitarem tarefas que os alunos "não consigam fazer sozinhos e que possam potenciar as desigualdades".

Fonte: Público

Comentário EvoluCiência: Em relação a este tema não resisto a dar a minha opinião... Atualmente penso que há algum exagero em relação aos TPC, pois os miúdos passam o dia inteiro na escola e ainda têm que vir para casa trabalhar (muitas vezes 1 hora ou mais!). No entanto, também reconheço que os TPC são importantes para consolidar o conhecimento adquirido, portanto não é um assunto de fácil resolução. Qual é a minha solução?... Só deveria haver TPC ao fim de semana e nas férias, e assim havia tempo para descansar a cabeça no final de cada dia de aulas e rever a matéria nas alturas em que os miúdos têm mais tempo livre. :)

domingo, 8 de abril de 2012

Plataforma Larsen na Antártida diminui de tamanho

Satélite Envisat, da ESA, acompanha o fenómeno há 10 anos.
Quando a secção principal da plataforma Larsen B, na Antártida, se quebrou no dia 1 de Março de 2002 e depois se desfez em pedaços de gelo, em poucos dias, o satélite Envisat, da ESA, a agência espacial europeia, tinha acabado de ser lançado para órbita, e aquele foi um dos fenómenos resultantes do aquecimento do planeta que ele captou em direto, enviando as imagens para a Terra.
Desde então, cumprem-se agora 10 anos, o Envisat tem acompanhado de perto o recuo sistemático daquela plataforma de gelo, um fenómeno que os cientistas atribuem às alterações climáticas. Com o aquecimento da atmosfera, as massas de gelo enfraquecem e são afetadas por instabilidades mecânicas que ditam a sua desintegração.
A plataforma de gelo Larsen é uma série de três plataformas que se estendem de norte para sul, ao longo da zona leste da Península da Antártida. A plataforma A desintegrou-se em Janeiro de 1995. A Larsen B (3200 quilómetros quadrados de área) foi-se em 2002 e a Larsen C, a maior de todas, que se tem mantido estável, revela agora uma diminuição na espessura do seu gelo, de acordo com as medições feitas.
A península Antártica registou na sua zona norte um aumento de 2,5 graus Celsius no último meio século e é isso que explica a evolução negativa da plataforma Larsen. "As plataformas de gelo são muito sensíveis ao aquecimento atmosférico e às alterações nas correntes e na temperatura dos oceanos", afirma Helmut Rott da Universidade de Innsbruck, na Áustria, que tem acompanhado o problema.

Fonte: Diário de Notícias

sábado, 7 de abril de 2012

Resistência ao último fármaco eficaz contra a malária está a alastrar

O Sudeste asiático tem sido o melhor berço para o aparecimento de parasitas resistentes aos medicamentos contra a malária. Quando foram relatados casos de resistência à artemisinina no Camboja, em 2008, as organizações internacionais de saúde esforçaram-se para matar o parasita no país. Agora, uma investigação revela os primeiros sinais do mesmo fenómeno na Tailândia. O trabalho desta equipa — que resultou em dois artigos diferentes publicados nesta quinta-feira, um na revista The Lancet e outro na Science — associou a resistência a regiões do ADN do parasita.
A artemisinina é a última bóia de salvação contra a malária, que, em 2010, matou 655 mil pessoas. A doença é causada por várias espécies do Plasmodium, sendo o Plasmodium falciparum a mais violenta. O parasita é injectado no sangue pelo mosquito anófeles, reproduz-se primeiro no fígado e depois passa para o sangue, onde infecta os glóbulos vermelhos e se multiplica, causando febres altas, dores de cabeça e mal-estar.
O Sudeste asiático, a África Subsariana e América do Sul são as regiões mais atingidas pela malária. A mortalidade recai nas crianças até aos cinco anos, mas a doença ataca toda a população e é um dos responsáveis pela improdutividade em África, em conjunto com a sida e a tuberculose. Devido à complexidade do parasita, tem sido difícil produzirem-se novos medicamentos e não há uma vacina eficaz. A artemisinina, identificada na China na década de 1960, é administrada com outros fármacos e tem evitado muitas mortes até agora.
Liderada por François Nosten, da Unidade de Investigação da Malária de Shoklo, na Tailândia, e Timothy Anderson, do Instituto de Investigação Biomédica do Texas (EUA), a equipa analisou 3202 pacientes no Noroeste da Tailândia com malária, entre 2001 e 2010, que foram tratados com um derivado da artemisinina. Nestes anos, o tempo médio de vida dos parasitas no sangue aumentou de 2,6 para 3,7 horas. No foco do Camboja, o primeiro, a 800 quilómetros da região agora analisada, este período é de 5,5 horas. Os dados, consideram os especialistas, obrigam a que o esforço de luta contra a doença no Camboja se intensifique.
“A resistência à artemisinina apareceu na fronteira da Tailândia com a Birmânia há pelo menos oito anos e, desde aí, tem aumentado substancialmente. A este ritmo, em dois a seis anos vai alcançar os níveis do Oeste do Camboja”, conclui o artigo na The Lancet.
Esta resistência não é total, por enquanto só atrasa a letalidade do fármaco. Mas os cientistas temem que se repita o que aconteceu com a cloroquina e o fansidar, dois antimaláricos a que os parasitas ganharam resistência na Ásia e que se alastraram para África. Embora a resistência à artemisinina tenha sido detectada numa fase inicial, um cenário semelhante no futuro “seria uma tragédia sanitária que resultaria em milhões de mortos”, resume Standwell Nkhoma, da equipa do Texas.
Por que é que as mutações que dão ao parasita resistência contra os antimaláricos aparecem no Sudeste asiático? “Pensa-se que os parasitas desta região possam ter uma constituição genética que lhes confere uma maior predisposição para adquirir resistência”, responde Pedro Cravo ao PÚBLICO. O português, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa, está agora a trabalhar no Brasil, na resistência da malária à artemisinina. Não se sabe se a população de parasitas da Tailândia emergiu independentemente da do Camboja. Mas a equipa conseguiu agora associar as resistências a várias regiões do genoma do parasita, em especial a dez genes no cromossoma 13. De seguida, a equipa quer perceber melhor como surgem estas mutações, para evitar o aparecimento de novos focos de resistência.

Parasita entra em dormência
A forma como o Plasmodium adquire resistência à artemisinina ainda é desconhecida, mas pensa-se que os parasitas (na imagem ao lado, dentro de glóbulos vermelhos) podem alterar o seu metabolismo.
“Uma das hipóteses é que os parasitas resistentes entram numa fase dormente durante o tratamento da artemisinina, param de crescer e esperam que o fármaco seja degradado pelo organismo, antes de continuarem a infecção”, diz num podcast da Science Ian Cheeseman, um dos autores do artigo na mesma revista. Um dos dez genes do cromossoma 13, agora associados à resistência, é de uma família activada em caso de stress térmico ou químico e pode ter um papel neste processo.

Fonte: Público

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Cancro da mama mortal revela ser, já de início, um ecossistema em evolução

Por que é que um mesmo tipo de cancro da mama pode reagir de forma tão diferente aos tratamentos? Por que é que alguns tumores são sensíveis às terapias, enquanto outros teimam em lhes resistir? Os resultados de uma equipa internacional liderada por dois portugueses, que são publicados esta quarta-feira online na revista Nature, desvendam o enigma.
Recorrendo a avançadas técnicas de sequenciação do ADN, mostram, pela primeira vez, que na altura do primeiro diagnóstico do cancro da mama dito “triplo negativo”, o tumor de cada doente já possui uma história “pessoal”, porque já sofreu, mesmo nesta fase muito inicial, uma evolução genética individualizada.
“A possibilidade de estudar e descodificar a diversidade [genética] de uma forma sistemática, em tumores nos doentes, está a revolucionar a capacidade de entender os tumores como miniecossistemas”, diz ao PÚBLICO Samuel Aparício, cientista português radicado no Canadá, onde trabalha na Agência do Cancro da Columbia Britânica em Vancôver — e co-autor principal, com Carlos Caldas, da Universidade de Cambridge, Reino Unido, dos resultados agora publicados.
Os cancros da mama triplo negativos são assim chamados porque as suas células não apresentam, à superfície, nenhum de três receptores habituais: o dos estrogénios e o da progesterona (as hormonas sexuais femininas) e o da herceptina, uma proteína também associada aos cancros da mama. Este tipo de cancro representa 16% dos casos, afecta sobretudo mulheres com menos de 40 anos e é particularmente agressivo. Para mais, os próprios cancros triplo negativos demonstram uma grande variabilidade, de doente para doente, na sua resposta aos tratamentos — cirurgia, quimioterapia, radioterapia — que lhes são aplicados.
Os cientistas sequenciaram agora o ADN de 104 tumores primários de cancro da mama triplo negativo e descobriram que eram todos diferentes. “No nosso estudo”, diz-nos Samuel Aparício, “a evolução presente em cada tumor, no momento do primeiro diagnóstico, revela uma grande variação entre doentes, embora do ponto vista clínico os tumores sejam considerados a mesma doença.” Isto permite explicar, segundo ele, por que é que a resposta dos cancros triplo negativos aos tratamentos é tão variável.
O futuro do tratamento do cancro passa portanto pela personalização das terapias? “Esperamos que sim e a possibilidade de perceber, eventualmente ao nível das células individuais, quais são os ‘clones’ [grupos de células descendentes de uma única célula] e as mutações que respondem [às terapias] em cada ecossistema será uma arma potente para estudar o impacto dessas terapias. Já estamos a trabalhar nessa direcção”, responde Samuel Aparício.
“Estamos a construir o mapa do cancro da mama”, diz-nos por seu lado Carlos Caldas, colega e amigo de longa data de Samuel Aparício, com quem trabalhou quando este último ainda estava em Cambridge — e com quem continua a colaborar estreitamente, apesar de haver hoje um oceano entre eles. “O facto de caracterizarmos todos os genes mutados num tumor é o primeiro passo na determinação dos padrões de mutações e das melhores terapias para combater a doença”, explica Carlos Caldas. “É como um código de barras do tumor, que também poderá servir para monitorizar a resposta do tumor à terapêutica”, através de análises ao sangue que detectem a quantidade de ADN mutado na circulação das doentes.

Fonte: Público

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Novas bactérias multiresistentes surgem em Portugal

Uma equipa de Investigadores de Coimbra descobriu que em Portugal estão a surgir bactérias que além de multiresistentes aos antibióticos são também agressivas, um dado considerado preocupante tendo em conta a elevada taxa de infeções hospitalares.
"Recorrendo a estudos genéticos, temos verificado que estão a emergir estirpes simultaneamente resistentes e virulentas (violentas, agressivas), o que é preocupante", sustenta Gabriela Jorge da Silva, coordenadora da investigação, que está a ser desenvolvida, há uma década, na Universidade de Coimbra (UC).
Com a capacidade que as bactérias têm de transferir o seu material genético para outras famílias de bactérias, "a resistência à ação de antibióticos é cada vez maior", daí que "identificar estirpes bacterianas de origem animal ou hospitalar e os genes de resistência e de virulência, e a forma como estes se disseminam em vários ambientes, é de extrema importância para a compreensão do impacto na saúde pública da resistência aos antibióticos», afirma.
Gabriela Silva alerta, por isso, para a "necessidade urgente de um melhor controlo da infeção hospitalar e para a racionalização do uso dos antibióticos".
"O custo do tratamento de infeções provocadas por bactérias resistentes aos antibióticos é muito elevado, impõe novas consultas médicas, prolonga a hospitalização do doente, obriga à utilização de antibióticos mais caros e contribui para o aumento da taxa de mortalidade", conclui.
Segundo um estudo realizado em 28 países europeus, divulgado em setembro de 2011, a taxa de infeções em doentes internados em hospitais portugueses é de 11 por cento, muito acima da média total, que se ficou pelos 2,6 por cento.
Para diminuir as infeções hospitalares, a Organização Mundial de Saúde instituiu o Dia Mundial da Higiene das Mãos, que se assinala a 05 de maio, tendo Portugal aderido à campanha em 2008.
A investigação em curso abrange bactérias de origem hospitalar, animal e ambiental, resistentes a vários grupos de antibióticos, nomeadamente derivados da penicilina, incidindo na avaliação molecular da resistência e virulência de "Acinetobacter sp.", "E.coli, Klebsiella sp." e "Salmonella sp.".
Os investigadores conseguiram identificar "estirpes emergentes de Acinetobacter multirresistentes aos antibióticos, e de E.coli, assim como genes e novas estruturas genéticas envolvidas na disseminação da resistência aos antibióticos".
O objetivo dos estudos, "bastante complexos", é "abrir portas ao desenvolvimento de novas estratégias de combate a infeções hospitalares", e à descoberta de "novos antibióticos capazes de travar as novas resistências das bactérias".
Ao conhecer a forma como se propaga, "é possível implementar medidas de prevenção atempadas, nomeadamente através da melhoria do controlo da infeção, de forma a reduzir as infeções adquiridas no hospital e a mortalidade associada a infeções causadas por bactérias multirresistentes», sustenta a investigadora.
Os estudos em curso envolvem uma equipa multidisciplinar, têm a colaboração dos Hospitais da Universidade de Coimbra e das Universidades de Tromso (Noruega) e de Leiden (Holanda) e são financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela "European Society of Clinical Microbiology and InfectiousDiseases".

Fonte: Diário de Notícias

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Os oceanos estão a ficar mais quentes há pelo menos um século

A viagem do navio britânico Challenger, entre 1872 e 1876, não é só histórica pelas descobertas que permitiu sobre os oceanos: as informações recolhidas nessas deambulações são também valiosas para perceber quando é que as alterações climáticas começaram a fazer sentir os seus efeitos nos oceanos. A primeira comparação global entre esses registos do século XIX e as temperaturas actuais mostrou que o aquecimento global chegou aos oceanos há mais tempo do que se supunha.
Publicado na edição online da revista Nature Climate Change, o estudo, de uma equipa da Instituição de Oceanografia Scripps, nos EUA, e do Centro Nacional de Oceanografia, em Southampton, no Reino Unido, conclui que o excesso de calor na atmosfera — devido às alterações climáticas originadas pelas actividades humanas, que estão a lançar para o ar dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa desde a Revolução Industrial — está a ser transferido para os oceanos há pelo menos mais de cem anos.
Nas primeiras camadas do oceano até aos 700 metros de profundidade, a água aqueceu, em média, 0,33 graus Celsius desde a década de 1870. À superfície, o aumento foi maior: mais de meio grau (0,59 graus). Já a 900 metros de profundidade, a subida foi mais pequena (0,12 graus).
“Esta primeira comparação global de dados modernos e do Challenger mostra que o aquecimento médio de 0,59 graus Celsius à superfície é consistente com as anteriores estimativas da subida média das temperaturas globais”, escrevem os autores do artigo, Dean Roemmich e John Gilson (da Instituição de Oceanografia Scripps) e John Gould (do Centro Nacional de Oceanografia britânico). “O aquecimento é maior no oceano Atlântico do que no Pacífico”, frisam ainda.
A equipa seguiu os passos do Challenger, que recolheu mais de 300 registos de temperatura, desde a superfície até ao fundo do mar. Embora as medições do Challenger não tenham sido muitas, essa informação histórica é uma referência para os estudos da temperatura nos oceanos. Permite saber que evolução ocorreu entre o último quartel do século XIX e o início do século XXI, agora comparando com os registos de mais de 3500 bóias do sistema Argo, lançado em 2000 e que integra dois programas de observação da Terra das Nações Unidas (o Sistema de Global de Observação do Clima e o Sistema Global de Observação dos Oceanos).
As bóias do Argo andam à deriva a registar, a cada dez dias, a temperatura e salinidade da água, até quase dois mil metros de profundidade, e os dados são depois enviados por satélite para terra. Por ano, o Argo faz mais de cem mil medições.
Para as mesmas localizações, profundidades e altura do ano, a equipa comparou os registos do Challenger e do Argo. Até 1800 metros de profundidade, encontraram-se sinais de aquecimento, diz ainda a equipa.
Até agora, a comunidade científica estava convencida de que quase todo o excesso de calor (90%) acrescentado à Terra tinha começado a ser armazenado nos oceanos a partir da década de 1960, também alvo de análise neste estudo. “Além de sublinhar a importância científica da expedição do Challenger e do programa Argo, este estudo indica que, do ponto de vista global, os oceanos estão a aquecer pelo menos desde o final do século XIX ou início do século XX”, acrescentam os cientistas.
Para Dean Roemmich, que é vice-presidente da equipa de coordenação internacional do Argo, esta descoberta contribuiu para deslindar o quebra-cabeças do clima da Terra. Citado numa nota de imprensa da sua instituição, o cientista considera que este artigo ajuda a interpretar os registos do aumento do nível do mar, a par do degelo: ao aquecer, a água do mar expande-se, o que se traduz também numa subida do mar.

Fonte: Público

terça-feira, 3 de abril de 2012

Plano de prevenção contra praga do escaravelho vermelho

A praga do escaravelho vermelho está a contaminar rapidamente as palmeiras portuguesas e a falta de uma estratégia de combate à doença está a alarmar os especialistas, que temem a destruição irreversível de milhares de plantas em todo o país.
"Se não houver um plano integrado que seja aplicado por entidades públicas e privadas, dificilmente vamos conseguir controlar a praga", afirmou à Lusa Maria Cristina Duarte, diretora do Jardim Botânico Tropical, uma instituição que já abateu esta semana a primeira palmeira infetada.
O escaravelho vermelho alimenta-se do interior das palmeiras, especialmente das espécies Canárias e Phoenix, secando-as e provocando a sua morte. O grande problema é a rápida contaminação da zona envolvente, já que o inseto pode percorrer áreas entre os quatro e cinco quilómetros em pouco tempo, principalmente quando o tempo está quente.
No início de março, o Jardim Botânico detetou a primeira presença do escaravelho vermelho e os danos foram já irreversíveis: "vimos os primeiros sintomas e depois confirmamos com casulos dos insetos no chão. Em três, quatro semanas a planta ficou com a coroa das folhas completamente morta, naquele aspeto típico de chapéu de chuva" fechado, esclareceu Maria Cristina Duarte.
Já Maria Amélia Martins-Loução, bióloga especialista em ecologia, teme que "a pouca capacidade financeira, de recursos humanos e a falta de conhecimento e/ou cuidados levem à devastação de certas espécies de palmeiras".
As "palmeiras afetadas não podem ser recuperadas. Antes, rapidamente retiradas e cortadas para não permitir a continuidade do inseto. O grande problema é que todas estas ações são caras e exigem constante monitorização", esclarece a bióloga à Lusa.
A Biostasia, empresa responsável pela manutenção de palmeiras na cidade de Lisboa, também não tem mãos a medir. O sócio-gerente, Carlos Gabirro, reconhece que a praga tem vindo a alastrar rapidamente.
"Em dois anos [em Lisboa] conseguimos ter um prejuízo que no Algarve tivemos em cinco anos. A praga, em princípio devido à temperatura, tem vindo a propagar-se mais rápida que o normal", afirma o especialista.
Sem prevenção, a cura torna-se mais difícil: "a única altura em que poderemos ter alguma vantagem sobre a praga é na altura do inverno, porque com o frio [os insetos] não fazem voos, mas só se houver meios. Sem meios acaba por ser uma luta inglória", esclarece.
O Jardim Botânico Tropical é constituído por 23 espécies de palmeiras, mais de 230 plantas, algumas delas com mais de 100 anos e outras raras. Para a diretora do jardim, perder exemplares da coleção "seria um aborrecimento muito significativo" para a instituição.
Com origem no norte de África, a praga do escaravelho vermelho surgiu em 2007 no Algarve, devido à contaminação de viveiros de comercialização de palmeiras.

Fonte: Diário de Notícias

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A energia escura ligou o turbo do Universo e tudo acelerou

Há cerca de 7700 milhões de anos algo mudou: a bolacha cósmica que é o Universo começou a esticar-se cada vez mais depressa, com as suas pepitas de chocolate, os agrupamentos de galáxias, a afastarem-se umas das outras a velocidades cada vez maiores. Esta mudança terá ocorrido quando a força gravítica ficou em segundo lugar em relação à componente mais comum do Universo: a energia escura, que entrou em cena e ligou o turbo. Ninguém sabe o que é esta energia, mas uma equipa internacional de cientistas apresentou ontem o primeiro mapa de quase 300.000 galáxias da altura em que ela tomou as rédeas do cosmos, para tentar desvendar a sua natureza.
"Fizemos medições rigorosas de estruturas a grande escala de como era o Universo de há cinco a sete mil milhões de anos", explica David Schlegel, o principal investigador deste projecto, chamado BOSS, que quer ao todo mapear um milhão de galáxias ao longo de seis anos. Para já, este mapeamento já resultou em quatro artigos submetidos à revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
"Estamos a olhar para distâncias no Universo na altura em que a energia escura se activou, onde pode começar-se a fazer experiências para descobrir o que causou a aceleração da sua expansão", disse o investigador, que trabalha no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, Califórnia, Estados Unidos, em comunicado. "O resultado é fenomenal. Temos apenas um terço dos dados do projecto e já conseguimos medir a velocidade a que o Universo estava a expandir-se há 6000 milhões de anos", sublinhou ainda Will Percival, outro membro da equipa, da Universidade de Porthsmouth, no Reino Unido.
Em 1998, quando a observação de estrelas distantes mostrou que o Universo continuaria a expandir-se para sempre, um mar de questões atravessou os físicos. Qual era o papel da gravidade na expansão do Universo? Que força era responsável por esta expansão acelerada? Afinal, Einstein tinha razão e havia uma constante cosmológica, como ele a chamou, que contrariava a força da gravidade e o resultado era um Universo em expansão?
Desde então, foram-se abrindo algumas portas. As observações têm revelado que cerca de três quartos do Universo são constituídos pela energia escura que permeia o espaço entre as galáxias e é responsável por esta expansão desmedida. O resto é matéria escura invisível (também ninguém conhece a sua natureza), que parece agarrar as estrelas e os agrupamentos de galáxias entre si, e apenas 4% do Universo é o que conseguimos ver, os átomos, moléculas e outras partículas.
Mas a energia escura continua a ser um mistério. A equipa multinacional do BOSS, que utilizou um telescópio do Observatório Apache Point no Novo México, mediu a radiação emitida pelas galáxias, ou seja a luz que elas libertam. "Podemos identificar picos de emissão e "vales" de absorção característicos, que correspondem a riscas de elementos químicos presentes nas estrelas. Como o Universo está em expansão, a luz sofre um desvio para o vermelho, isto é, o comprimento de onda aumenta", explica ao PÚBLICO Mário Santos, físico e investigador do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Esta medição permite conhecer a que distância é que estas galáxias se encontram.
"Ao medirmos a posição das galáxias no céu, bem como o desvio para o vermelho, podemos medir como essas galáxias estão distribuídas no Universo. Esta distribuição não é aleatória, existe um pico na distribuição de galáxias para distâncias de cerca de 500 milhões de anos-luz", acrescenta o investigador.
Segundo o cientista português (que não está envolvido no projecto), este dado ajuda a identificar com muita precisão a distância às galáxias, assim como o efeito da energia escura nestas ilhas de matéria do Universo.
Até agora, todas as observações apontam para uma direcção. "A matéria normal é apenas uma pequena percentagem do Universo. A maior componente é a energia escura - uma energia irredutível associada ao próprio espaço que está a acelerar a expansão do Universo", disse Ariel Sanchez, do Instituto Max Planck, na Alemanha, também da equipa. A investigação vai continuar para o resto do milhão de galáxias que falta analisar.
"Estamos apenas a começar a explorar a altura em que a energia escura se ligou. Se houver surpresas à espreita, esperamos encontrá-las", diz David Schlegel.

Fonte: Público

domingo, 1 de abril de 2012

Privação de sono aumenta risco de doenças

A neurologista Teresa Paiva alertou hoje, no Porto, para os efeitos da redução do sono ou do dormir em excesso, associando-os a um risco aumentado de hipertensão arterial, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, cancro, depressão e de acidentes.
"O que as pessoas têm de perceber é que para além destes efeitos orgânicos sobre a saúde, reduzir o sono tem outros efeitos muito mais complicados ao nível da cognição. As pessoas começam a pensar mal, a ter graves problemas de memória, a ter lapsos e, fundamentalmente, perdem os seus equilíbrios emocionais", afirmou em declarações à Lusa.
Teresa Paiva, que hoje aborda no Simpósio Aquém e Além do Cérebro as "Relações mútuas entre sono, sonhos e sociedade", salientou que "tanto a parte cognitiva, como a emocional são altamente recicladas e reorganizadas no sono e, portanto, não dormir é extremamente perigoso".
Segundo a investigadora, os portugueses são os que se deitam mais tarde no mundo. "Setenta por cento da população vai para a cama depois da meia-noite, mas o grave não é deitarem-se tarde, é deitarem-se tarde e levantarem-se cedo", considerou.
Na atual situação de crise, Teresa Paiva citou a sua experiência clínica e existencial para afirmar que os casos de insónia têm vindo a aumentar e as queixas apresentadas também são diferentes.
"As coisas que lhes são lesivas são diferentes das que apresentavam anteriormente. Agora, é muito mais a ameaça de desemprego, o desemprego dos filhos, o trabalho instável, o trabalho em excesso com medo de perder o emprego, os encargos financeiros ou os créditos, às vezes de familiares de quem foram fiadores", explicou.
De acordo com a sua experiência, uma vez que ainda não há estudos científicos sobre o assunto, "os paradigmas são agora bastante diferentes dos que eram anteriormente". Teresa Paiva considera que o clima que se vive no país é "extremamente negativo para a saúde das pessoas, que ficam deprimidíssimas com tudo o que ouvem".
Defende, por isso, a necessidade de transmitir "mensagens de esperança", porque "não se cura um doente dizendo-lhe que está muito mal e vai morrer. Os mecanismos de cura são iguais quer nos indivíduos quer nas sociedades, tem de se abrir a caixinha de pandora para saírem os demónios, mas também a esperança".
"Se calhar eu e uma pessoa com insónia dormimos da mesma maneira. A única diferença é que eu não me importo minimamente e gosto da forma como durmo e ela importa-se imenso. Esta perspetiva pessimista em relação ao seu sono, vida ou ao seu país é que é lesiva e leva à doença", exemplificou.
Assim, insiste a investigadora, "a perspetiva que se tem sobre as coisas e a mudança de comportamentos são muito importantes. Devem assumir-se bons comportamentos de saúde, como dormir as horas necessárias e de forma regular, comer bem, fazer exercício físico, que não seja à noite, e reduzir a atividade excessiva".
"Se eu quisesse via doentes até a meia-noite, mas não aguentaria. A pressão da sociedade não nos tornou mais ricos nem nos tornou felizes", frisou.
As perturbações do sono situam-se entre as perturbações cerebrais mais dispendiosas na Europa. Em 2010, foram gastos 35,4 mil milhões de euros, ocupando a 9.ª posição num grupo de 19 perturbações.
A neurologista defende que a sociedade e os serviços de saúde são obrigados a prestar atenção aos números atuais.
"No caso de não ser desencadeada qualquer ação, as atuais influências entre sociedade, sono e sonhos podem resultar num cenário dramático: os indivíduos esforçados e lutadores podem tornar-se depressivos, esquecidos e doentes e transformar-se em cidadãos incapazes de agir e cooperar de modo eficiente com a sociedade atual, altamente exigente", sustentou.
Esta investigadora tem-se manifestado contra o excessivo consumo de medicamentos para dormir. "Há estudos que provam que quem toma regularmente hipnóticos sofre um aumento do risco de morte precoce e de cancro", afirmou.

Fonte: Diário de Notícias