sábado, 10 de dezembro de 2011

Imagens de satélite das luzes de cidades usadas para controlar o sarampo

O sarampo surge mais forte onde as pessoas migram em grandes quantidades. A boa notícia é que se pode dizer exatamente onde é que isso acontece - e onde deve incidir a vacinação -, olhando a partir do espaço para o brilho das luzes dos migrantes.
O sarampo mata cerca de 164 mil crianças não vacinadas por ano. Entre 2000 e 2008 uma agressiva campanha de vacinação nos países pobres reduziu as mortes em 80%, globalmente, e 92% em África.
No entanto, em 2008, os cortes económicos atingiram a vacinação, e o sarampo - o vírus humano mais contagioso que é conhecido - começou a recuperar, com um ressurgimento na África ocidental visto como uma especial ameaça.
Quando o sarampo era comum na Europa e América do Norte, era sabido que os picos da doença acompanhavam os calendários escolares, que juntavam as crianças. As pessoas no empobrecido oeste de África também se aglomeram durante as estações secas no inverno, mas isso não significa necessariamente que tal facto impulsiona o sarampo, que ocorre durante esta temporada, diz Nick Grassly do Imperial College de Londres: o vírus também sobrevive melhor em tempo seco.
Nita Bharti da Universidade de Princeton, e os seus colegas, estudaram as variáveis de aglomeração de pessoas e do tempo separados por imagens de satélite, através da análise do brilho da das fogueiras e luzes eléctricas à noite.

Iluminação frugal
Pesquisas anteriores descobriram que em regiões pobres, onde a iluminação noturna é escassa o suficiente para não saturar o sensor de um satélite, o seu brilho corresponde à densidade populacional. Sem as imagens, diz Bharti, "é muito difícil medir as mudanças na densidade populacional".
Usando imagens de satélite tiradas entre 2000 e 2004, a equipa de Bharti mapeou na estação seca um aumento no período noturno do brilho em três cidades no Níger: Niamey, Maradi e Zinder. Os períodos mais brilhantes correspondiam ao tempo de surtos de sarampo. Numa quarta cidade, Agadez, onde há um clima semelhante, mas a migração sazonal é pouca, não houve aumento de qualquer brilho ou do sarampo.
As observações por satélite foram detalhadas o suficiente para mapear a densidade populacional de três diferentes distritos de Niamey, capital do Níger. A cidade também teve a nível distrital contagem de casos de sarampo de um surto em 2003 e 2004. A luz permitiu rastrear com rigor os diferentes cursos dos surtos de sarampo nos três distritos.
Se as autoridades de saúde de Niamey tivessem tido esta informação nessa altura, poderiam ter agido mais cedo. Fizeram uma campanha de vacinação em resposta aos surtos, mas por causa de atrasos na notificação, a mesma só chegou a dois dos três distritos quando a doença já estava em declínio. No terceiro, no entanto, o brilho - e sarampo - ainda estavam a aumentar. As mortes foram menos, talvez porque a vacina chegou antes que muitas crianças fossem expostas.
"Estamos a trabalhar no sentido de tornar esta informação útil para ser aplicada em todo o mundo", diz Bharti. As imagens de satélite estão disponíveis em 48 horas.

Quem está em risco?Claude Muller, chefe do Instituto de Imunologia, no Luxemburgo, adverte que os surtos são afetados por mais do que apenas a densidade populacional - também importa quantas pessoas são suscetíveis ao sarampo. "O aumento da luz nem sempre significa um surto, se não houver indivíduos suscetíveis suficientes."
Porém, esta visão sobre o que torna o sarampo sazonal é importante, diz Muller. "Se entendermos isso melhor, poderemos melhorar a vacinação, para garantir que menos vírus conseguem atingir a época dos surtos ", diz ele. Se fizermos isso bem o suficiente "podemos, eventualmente, erradicar o sarampo".

Fonte: New Scientist

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