quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Uma semana de pouco sono perturba centenas de genes e essa mensagem fica-nos "gravada" no sangue

Não dormir as horas suficientes pode ter um impacto muito negativo na saúde - e agora começa a perceber-se porquê.
Sabe-se que quem tem por hábito não dormir um número suficiente de horas por dia aumenta os seus riscos de obesidade, doenças cardiovasculares e disfunções cognitivas. Mas os mecanismos subjacentes a esta relação sono/doença têm permanecido misteriosos. Hoje, um estudo com base em amostras de sangue humano, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, sugere fortemente que, no ser humano, a falta crónica de sono começa por perturbar a actividade dos genes.
Em cada tecido do organismo, os genes apresentam padrões de actividade - ou "expressão" - diferentes e específicos do tecido em causa. Isso permite, a partir da uma mesma molécula de ADN, gerar a grande diversidade das células, das hepáticas às nervosas passando pelas sanguíneas. E a expressão de cada gene reflecte-se na quantidade dos vários tipos de moléculas de ARN (parecidas com o ADN) que são transcritas pela célula de forma a fabricar as proteínas de que ela precisa.
Experiências no ratinho já mostraram que tanto a falta de sono como o seu desfasamento no tempo alteram esse padrão de ARN, chamado "transcritoma", no fígado e no cérebro desses animais. E agora, para determinar o impacto da falta de sono no ser humano, Derk-Jan Djik e colegas, da Universidade de Surrey, no Reino Unido, analisaram o transcritoma do sangue de uma série de voluntários em função do número de horas que dormiam.
"Tanto quanto sabemos, somos os primeiros a ter investigado, no ser humano, os efeitos de um nível ecologicamente relevante de falta de sono sobre o transcritoma", disse Djik ao PÚBLICO. Os cientistas estudaram o transcritoma do sangue porque a sua recolha não é invasiva e porque fornece, argumentam, uma visão global do que está a acontecer.
Durante uma semana, 26 adultos dormiram menos de seis horas - e durante uma outra semana dormiram quase nove horas. No fim de cada semana de "tratamento", tiveram de ficar acordados durante 40 horas a fio, numa situação de privação total do sono - e foi durante esse período que foram efectuadas as colheitas de sangue, ao ritmo de uma de três em três horas. Diga-se ainda que as duas partes da experiência decorreram com um intervalo de dez dias.
A análise do ARN do sangue revelou claramente os efeitos da falta de sono sobre a actividade de... 711 genes! Por outro lado, a privação de sono levou a uma nítida queda - de 1855 para 1481 - do número de genes que possuíam naturalmente ritmos de actividade circadianos (isto é, que ao longo de cerca de 24 horas, em sintonia com a alternância do dia e da noite, viam a sua actividade passar por um mínimo e um máximo). E mesmo nos genes cuja actividade continuou diariamente a oscilar, a amplitude das oscilações foi mais pequena. Além disso: a privação total de sono alterou só por si a expressão de uma série de genes, mas o número dos genes alterados durante esse período foi sete vezes maior após uma semana de privação crónica do que depois de uma semana de sono normal: 856 contra 122.
Entre os genes afectados há genes implicados nos processos imunitários, inflamatórios, no metabolismo celular e na resposta das células ao stress oxidativo.
Se uma semana de sono curto surte estes efeitos, não é difícil imaginar as consequências para a saúde de uma vida com horas de sono a menos, noitadas, insónias - decorrentes da actividade profissional e social típica das sociedades modernas. Segundo os dados dos Centros de Prevenção e Controlo de Doenças norte-americanos, 30% da população adulta dos EUA (mais de 40 milhões de pessoas) dorme seis horas ou menos por dia. E em Portugal, a proporção poderá ser superior a 50%.
Agora, os cientistas querem saber "se as alterações [do transcritoma] variam com a idade e relacioná-las com as perturbações fisiológicas e hormonais da obesidade e das doenças cardiovasculares", diz Djik.

Fonte: Público

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ratos treinados para detetar minas terrestres

Nova técnica, mais simples e barata que as anteriores, tem dado resultados nas regiões em que está a ser utilizada. Os 'ratos-heróis' são treinados pela ONG belga Apopo, que investiga, desenvolve e implementa tecnologia de deteção por ratos para fins humanitários, como a remoção de minas.
As minas terrestres podem ficar enterradas durante décadas, mas o seu poder destrutivo não diminui com o passar do tempo. Segundo a Apopo, cerca de 66 países e 7 territórios pós-conflito ainda enfrentam o drama dessas armas perigosas. Uma situação que limita o desenvolvimento dessas regiões ao impedir a agricultura, limitar o acesso à água e restringir a circulação de pessoas.
Para combater o problema, a organização combina a tecnologia de desminagem já existente com o uso inovador dos seus Ratos de Deteção de Minas (MDR, sigla em inglês). No ano passado, 64 animais foram acreditados após passarem pelo centro de treinamento da instituição na Tanzânia. Ao todo já são 300 ratos gigantes africanos, espécie encontrada em grande parte do continente, capacitados para detetar as minas terrestres de forma rápida e eficaz.
Primeiro, ainda filhotes, os ratos são socializados para acostumarem-se com a interação com os humanos. Depois, são treinados e condicionados a associar um clique com o que estão a cheirar, explosivos, para ganhar uma recompensa, comida. Por último, eles aprendem a identificar a opção correta, entre três alternativas, quando ouvem o clique e ganham a recompensa quando acertam.
Veja o vídeo dos funcionários da Apopo a treinar os animais (em inglês):
A parte mais difícil do processo de desminagem é detetar os artefactos, centenas de milhões de dólares já foram gastos em investigações para melhorar a deteção de minas terrestres e salvar vidas. Além das técnicas manuais, com humanos a utilizar detetores de metais e cães treinados, diversos institutos científicos trabalharam no desenvolvimento de deteção por análise térmica, química e por lasers, durante as últimas décadas.
Utilizar essas tecnologias para limpar campos minados pode ser um processo muito lento e caro. "Pode-se gastar muito tempo e dinheiro para descobrir que não há nada. E é ai que esses animais são importantes. Os ratos são ferramentas muito rápidas para aumentar a confiança de que não há mais minas numa grande área", disse à BBC Guy Rhodes, do Centro Internacional para Desminagem Humanitária de Genebra.
Após décadas de conflitos, Moçambique é um dos países que mais sofre com as minas terrestres remanescentes. Em parceria com o Programa Nacional de Desminagem do país, em 2008, a organização tornou-se a operadora de desminagem responsável pela limpeza da província de Gaza, uma das mais afetadas pelo artefacto de guerra. Utilizando o novo método, a Apopo terminou o seu trabalho na região um ano antes do prazo, que terminaria em 2014, e agora o mesmo também será feito nas províncias de Manica, Sofala e Tete.
Segundo dados da entidade, 6.423.361 metros quadrados de campos minados foram devolvidos à população moçambicana. Os ratos-heróis, como ficaram conhecidos, encontraram 2.406 minas terrestres, 13.025 pequenas armas e munições e 992 bombas que foram neutralizadas e destruídas.

Fonte: Diário de Notícias

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Poderia o nosso Universo acabar engolido por outro?

Há quem defenda que a recente determinação da massa do bosão de Higgs torna possível um cenário de destruição do Universo. Mas também há quem duvide...
"É possível que o Universo em que vivemos seja intrinsecamente instável e que, a dada altura, daqui a dezenas de milhares de milhões de anos, venha de repente a ser varrido sem deixar rasto", afirmou, em Boston, um físico teórico norte-americano, Joseph Lykken, do Fermilab (EUA). O cientista fez esta declaração aos jornalistas na segunda-feira, quase no fim do congresso anual da AAAS (American Association for the Advancement of Science), à margem da sua conferência sobre os mais recentes resultados acerca do bosão de Higgs, noticiou a Reuters.
O fim do Universo não constitui propriamente uma ameaça para nós ou o planeta, visto que a Terra terá desaparecido muito antes, quando o Sol esgotar o seu combustível, daqui a uns 4,5 mil milhões de anos. Porém, isso não tem impedido os especialistas de imaginar uma série de possíveis cenários. E embora o mais provável seja que a expansão e a diluição do Cosmos prossigam sem sobressaltos até nada dele ficar, existem teorias mais apocalípticas, entre as quais se inclui a que foi agora evocada por Lykken.
Lykken falou do fim do Universo no mesmo dia em que o LHC - o grande esmagador de protões do CERN, perto de Genebra, na Suíça, onde o bosão de Higgs foi descoberto no ano passado - fechou por dois anos para uma renovação de fundo. E de facto, a "profecia" deste cientista, que também faz parte da equipa do LHC, tem tudo a ver com a descoberta do Higgs, uma vez que a estimativa da massa desta partícula é hoje muito mais certeira. A massa do bosão de Higgs ronda, sabe-se agora, graças aos dados produzidos pelo LHC, os 126 GeV (giga-electrão-volts).
O bosão de Higgs era a única partícula que faltava detectar para completar o elenco previsto pelo chamado Modelo-Padrão - a teoria que actualmente melhor descreve o mundo das partículas elementares. Teorizado há cerca de 50 anos, o Higgs só existe materialmente durante brevíssimos instantes, quando é criado numa colisão de protões dentro do LHC. No entanto, desempenha um papel no mínimo fundamental: confere massa às outras partículas, sendo por isso directamente responsável pela existência da matéria tal como a observamos todos os dias - nas galáxias, nas estrelas e nos planetas, mas também em nós próprios e em todos as coisas que nos rodeiam.
Mas acontece que, conhecendo-se a massa do bosão de Higgs - e daí, o valor de todos os parâmetros do Modelo-Padrão -, torna-se possível utilizar esse modelo para "calcular" o destino do Universo. Foi o que motivou as declarações de Lykken: "Esse cálculo diz-nos que, daqui a muitas dezenas de milhares de milhões de anos, vai acontecer uma catástrofe", explicou o cientista. "Uma pequena bolha de algo a que poderíamos chamar de universo "alternativo" irá surgir algures, expandir-se e destruir-nos." O fenómeno, que segundo a teoria em causa se verifica ciclicamente devido à instabilidade inerente do vácuo (designado por isso de "falso vácuo") irá desenrolar-se à velocidade da luz, dando origem a outro Universo que nada terá a ver com o actual.
Mas qual é, na realidade, a probabilidade de que as coisas se passem efectivamente dessa maneira? Peter Woit, físico e matemático da Universidade de Columbia (Nova Iorque), acha que se trata de um cenário muito pouco realista. "Para acreditar que este cálculo reflecte a realidade", disse Woit ao PÚBLICO, "seria basicamente preciso acreditar que não existe uma nova física, ainda desconhecida, muito para além dos níveis de energia acessíveis ao LHC. E também seria preciso acreditar que o cálculo [de Lykken] não será afectado pela gravitação quântica, que não percebemos mas que sabemos deve tornar-se importante a níveis de energia muito elevados". É um facto que a generalidade dos físicos acha que o Modelo-Padrão é um modelo incompleto, que está longe de conseguir prever tudo.
"O cenário de que Lykken fala", diz ainda Woit, "deriva de uma extrapolação para níveis de energia milhões de milhões de vezes superiores a tudo o que somos capazes de medir, utilizando um cálculo que temos todas as razões de pensar não é fiável a esses níveis. Portanto, as pessoas podem ficar descansadas..."

Fonte: Público

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Abelhas e flores comunicam por campos elétricos

As abelhas e as flores comunicam através de campos elétricos, revela um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido, publicado na revista 'Science'.
Segundo o artigo da equipa chefiada por Daniel Robert, os métodos de comunicação das flores são pelo menos tão sofisticados com os de uma agência de publicidade, utilizando as cores, os padrões e o cheiro para atrair os seus polinizadores.
Agora, os cientistas descobriram que a estas formas de comunicação se junta uma outra: a emissão de sinais elétricos, semelhantes a um sinal de néon, que permitem às abelhas distingui-los de outros campos e encontrar as reservas de pólen e néctar.
Os investigadores explicam que as plantas têm normalmente uma carga negativa e emitem campos elétricos fracos. As abelhas, por seu lado, adquirem uma carga positiva de até 200 volts à medida que voam no ar.
Embora não haja qualquer descarga elétrica quando uma abelha se aproxima de uma flor, surge um pequeno campo elétrico que potencialmente transmite informação.
Ao colocar elétrodos em Petunias, os investigadores demonstraram que quando uma abelha (Bombus terrestris) aterra, o potencial elétrico da flor muda e permanece assim durante vários minutos.
"Poderá isto ser uma maneira de a flor dizer às abelhas que uma outra abelha a visitou recentemente", questionam os cientistas, que concluíram que as abelhas conseguem detetar e distinguir dois campos elétricos distintos.
Os cientistas não sabem ainda de que forma as abelhas detetam os campos elétricos, mas admitem que os seus pelos possam reagir da mesma forma que o cabelo das pessoas reage à eletricidade estática de um ecrã de televisão antigo.
"Este novo canal de comunicação revela como as flores podem potencialmente informar os seus polinizadores sobre o verdadeiro estado das suas reservas de néctar e pólen", disse Heather Whitney, coautora do estudo.
E Daniel Robert explicou: "a última coisa que uma flor quer é atrair uma abelha e depois não conseguir fornecer-lhe néctar. É uma lição de publicidade honesta, já que as abelhas são boas aprendizes e rapidamente perderiam o interesse de uma flor tão pouco remuneradora".
"A coevolução entre as flores e as abelhas tem tido uma história longa e benéfica, por isso talvez não seja inteiramente surpreendente que estejamos ainda hoje a descobrir quão sofisticada é a sua comunicação", acrescentou.

Fonte: Diário de Notícias

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Descoberta pirâmide onde pode estar túmulo do ministro de Ramsés II

Uma equipa de arqueólogos belgas descobriu na cidade egípcia de Luxor uma pequena pirâmide que poderá conter o túmulo de um ministro do faraó Ramsés II, que morreu no ano 1237 A.C.
Segundo um comunicado do ministro do Estado egípcio de Antiguidades, Mohamed Ibrahim, a pirâmide calcária mede 15 metros de altura e 12 de largura e nela aparece gravada uma imagem do ministro Jay adorando a divindade Ra-Hor Ajti, que simboliza união dos deuses do sol e do céu.
As pirâmides calcárias costumavam ser construídas sobre os túmulos dos homens de Estado na era de Ramsés, em cujo reinado Jay foi ministro durante 15 anos.
Ibrahim acrescentou que se espera que, terminadas as escavações, seja descoberto o túmulo do ministro, situado junto ao templo de Ramsés II.
Segundo o responsável pelas antiguidades em Luxor, Mansur Burik, o ministro de Ramsés II supervisionou os trabalhadores que ergueram os túmulos reais no Vale dos Reis e no Vale das Rainhas, na margem ocidental do rio Nilo.
Burik salientou a importância da descoberta do túmulo de Jay, até agora desconhecido, embora o ministro de Ramsés seja referido em muitos documentos egípcios.

Fonte: Correio da Manhã