sexta-feira, 9 de março de 2012

Sequenciado o genoma de um gorila, um passo importante para o estudo da evolução humana

Chama-se Kamilah, é uma fêmea da subespécie Gorilla gorilla gorilla, conhecida como “Gorila-do-ocidente”, e em 15% do seu genoma está mais próxima dos humanos do que os chimpanzés. O projecto de sequenciação do genoma do gorila foi completado e uma parte dos resultados, importantes para o estudo da evolução da espécie humana, foi publicada nesta quarta-feira na edição online da revista Nature.
Foi a primeira vez que os cientistas compararam os genomas dos quatro grandes primatas: humanos, chimpanzés, gorilas e orangotangos. “O genoma do gorila é importante, porque nos dá mais informação sobre o momento em que os nossos antecessores se diferenciaram dos nossos parentes mais próximos. Também nos permite explorar as semelhanças e diferenças entre os nossos genes e o gorila, o maior primata vivo”, explica Aylwyn Scally, do Wellcome Trust Sanger Institute, Hinxton, Reino Unido.
Estudos prévios mostraram que os humanos são mais próximos dos macacos africanos do que dos orangotangos e que somos mais próximos dos chimpanzés do que dos gorilas. O artigo publicado na Nature por cientistas do Wellcome Trust Sanger Institute e outros investigadores envolvidos no projecto internacional confirmam estas conclusões. No entanto, as autores revelam que em 15% do genoma do gorila as semelhanças com os humanos são maiores do que se nos compararmos aos chimpanzés. “Analisámos mais de 11 mil genes em humanos, chimpanzés e gorilas à procura de alterações importantes na evolução da espécie. Os humanos e chimpanzés são geneticamente mais próximos na generalidade do genoma, mas a equipa encontrou excepções a essa regra. Em 15% do genoma os humanos são mais próximos do gorila do que dos chimpanzés e em 15% do genoma os chimpanzés são mais próximos do gorila do que dos humanos”, acrescenta Scally, numa nota de imprensa divulgada sobre este trabalho.
O estudo revela ainda que há cerca de 500 genes que mostram uma evolução acelerada nas linhagens do gorila, humanos e chimpanzés e defendem que é possível afirmar que, em determinados aspectos, este processo de evolução aconteceu de forma muito semelhante, especialmente nos genes responsáveis pela audição. “Alguns estudos científicos sugerem que a rápida evolução nos genes responsáveis pela audição nos humanos está ligada à evolução da linguagem. Os nossos resultados colocam isso em causa, dado que os genes da audição evoluíram de uma forma muito semelhante nos gorilas e humanos.”
Os autores do artigo referem ainda que estes primatas se separaram dos humanos e chimpanzés há 10 milhões de anos. Já a separação do gorila nas duas subespécies (da ocidente e do oriente) terá ocorrido há apenas 1,75 milhões de anos. Além dos dados obtidos com a descodificação do genoma de Kamilah, os investigadores quiseram fazer comparações nesta espécie e também reuniram informação sobre outros três gorilas (dois da mesma subespécie – o macho Kwanza e a fêmea EB(JC) – e um da subespécie do oriente – o macho Mukisi).
“A nossa investigação consegue o retrato final que possibilita a comparação entre os grandes primatas”, resume Richard Durbin, outro dos autores do artigo. Os homens e os chimpanzés foram os primeiros primatas a terem a sua informação genética analisada letra a letra. O trabalho do genoma do macaco Rhesus, realizado por um consórcio internacional de cientistas e publicado na revista Science em 2007, revelou que os homens, os chimpanzés e os macacos partilham 97,5% dos seus genes. Uma nota da Universidade de Washington adiantava ainda nessa altura que, se confrontássemos o genoma humano com o do macaco Rhesus – um primata usado como modelo animal em diversas investigações –, podíamos constatar que as diferenças genéticas são da ordem dos 7%.
Nas conclusões do artigo publicado na Nature, os investigadores sublinham: “Além de nos ajudar a perceber a evolução humana, o estudo dos grandes primatas remete-nos para um tempo em que a nossa existência era mais frágil, e, fazendo isto, destaca a importância da protecção e conservação destas impressionantes espécies.”

Fonte: Público

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