quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Como o nariz de um homem paralisado lhe permitiu voltar a andar

Um doente conseguiu recuperar de uma coluna vertebral cortada. Darek Fidyka, um búlgaro de 38 anos, ficou paralizado há quatro anos. Depois de um período de tratamento longo, já consegue conduzir e mesmo caminhar com a ajuda de um andarilho.
A cirurgia que permite a Fidyka andar, cujo método foi publicado na revista Cell Transplantation, é, segundo o dirigente da equipa britânica, Geoff Raisman, "mais impressionante do que o Homem andar na Lua", disse à BBC.
A técnica baseia-se no uso de células olfatórias retiradas no nariz, que são transplantadas, após um período de tratamento no laboratório, para a coluna vertebral, em 100 micro-injeções acima e abaixo do local da quebra. Na falha onde a coluna vertebral tinha sido cortada, os cirurgiões colocaram quatro tiras nervosas.
Uma técnica que já era usada em Portugal desde 2001, por uma equipa do Hospital Egas Moniz, em Lisboa. O método deu origem a dois artigos científicos escritos em 2009 e 2010, publicados no Journal of Spinal Cord Medicine.
Segundo os cientistas, citados pela BBC, as células retiradas dos bulbos olfatórios incentivaram as células da espinal medula a regenerarem-se, e estas usaram as tiras de tecido nervoso como caminhos para crescer e reunir as duas partes da coluna que tinham ficado separadas.
Apenas seis meses depois desta cirurgia experimental, Fidyka já conseguia dar alguns passos ao longo de barras paralelas. Também recuperou alguma sensibilidade na parte de baixo do corpo.
As células olfatórias foram usadas nesta experiência por serem a única parte do sistema nervoso que continua a regenerar-se ao longo da vida adulta, uma capacidade que os cientistas procuraram explorar, levando essas células a incentivar as circundantes a regenerar-se também.
Segundo o que Geoff Raisman explicou ao The Telegraph, as fibras nervosas estão sempre a tentar regenerar-se, mas são impedidas pelo processo de cicatrização e pelos espaços grandes deixados pelas feridas. "Para que as fibras nervosas expressem essa capacidade que sempre tiveram de se reparar a si próprias, primeiro é preciso abrir a cicatriz, e depois é preciso providenciar um canal que as deixe ir onde precisam de ir."
Os cientistas envolvidos não pretendem lucrar com a pesquisa que realizaram. Raisman disse mesmo à BBC: "Seria o meu maior orgulho se eu pudesse dizer que nenhum paciente teve que pagar um cêntimo por nenhuma da informação que encontrámos."
A pesquisa foi apoiada pela Nicholls Spinal Injury Foundation e pela UK Stem Cell Foundation, que juntas contribuíram mais de 3 milhões de libras para as equipas de investigação no Reino Unido e na Polónia.
Em 2005, Susan Fajt, uma norte-americana operada também em Lisboa já mostrava sinais de recuperação da mobilidade. Depois de operada em 2003, começou a fisioterapia e dois anos mais tarde dava já alguns passos com ajuda de um andarilho. Foi descrita, na época, pelo neurocirurgião Hasse Ferreira, membro da equipa, como um dos casos de maior sucesso.

Fonte: Diário de Notícias

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