quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Bactérias ajudam ratos ansiosos

A maioria das pessoas sabe que o stress pode causar grandes problemas ao estômago. O que poucos sabem é que a relação acontece nos dois sentidos.
Bactérias intestinais benéficas, os famosos Lactobacillus, foram publicitados no passado como alívio para sintomas de stress e ansiedade, mas não ficou claro se os efeitos colaterais poderiam ter impacto sobre o cérebro. Agora, John Cryan, farmacologista da University College Cork, na Irlanda, e os seus colegas, descobriram que esses probióticos têm um impacto directo sobre os neurotransmissores de humor em ratos.
As novas descobertas sustentam a ideia de que uma maneira de curar problemas da mente pode ser através do estômago.
O grupo de Cyran alimentou 16 ratos saudáveis com uma estirpe de Lactobacillus rhamnosus – uma espécie encontrada em alguns iogurtes. A dose que eles usaram foi aproximadamente a mesma que a quantidade de culturas probióticas anunciadas numa embalagem de iogurte Actimel.
A equipa analisou os ratos, junto com 20 murganhos alimentados com uma mistura equivalente mas livre de bactérias (controlo). Num labirinto, os ratos que receberam os probióticos aventuraram-se em espaços abertos mais de duas vezes a mais que os outros, o que sugere que eram menos ansiosos.
E, quando forçados a nadar, os ratos alimentados com as bactérias foram ligeiramente mais propensos à luta – em vez de desistir – do que os irmãos alimentados pelo controlo. "Esses murganhos estavam mais relaxados", explica Cryan, acrescentando que os efeitos dos probióticos foram semelhantes aos observados em murganhos tratados por drogas antidepressivas. Cryan e os seus colegas publicaram os seus resultados no Proceedings of the National Academy of Sciences.

Confirmação químicaMurganhos tratados com probióticos também apresentaram diferenças na química do cérebro. Após o mergulho forçado, os ratos alimentados com as bactérias tinham cerca de metade de corticosterona, uma hormona do stress, no sangue em comparação com os outros ratos. A bactéria também pareceu causar redistribuição de receptores cerebrais para o neurotransmissor GABA (γ-aminobutírico) – os mesmos receptores afectados por medicamentos para combater a ansiedade, como o Valium. Quando os pesquisadores cortaram o nervo vago – que é importante no desencadeamento da coragem –, essas diferenças entre os ratos desapareceram.
"Não é apenas um comportamento e não é apenas a química do cérebro; é o pacote completo", diz Cryan.
“É muito convincente, hoje em dia a nossa microbiota está relacionada com quase tudo” diz Brett Finlay, microbiologista da University of British Columbia em Vancouver, Canadá.

Impulso mentalTrabalhos anteriores mostraram que os probióticos podem melhorar o humor de pacientes com síndrome de fadiga crónica ou síndrome do intestino irritável. E, num estudo publicado no início ano, um grupo de pesquisadores franceses mostrou que uma mistura de Lactobacillus helveticus e Bifidobacterium longum, administrada durante 30 dias, melhorou as notas de voluntários saudáveis em uma série de pesquisas destinadas a avaliar a saúde mental.
Cryan costumava consumir iogurtes probióticos, até suspendê-los pela quantidade de açúcar que contêm. Ele conta que é difícil transferir os resultados dos murganhos para as pessoas, e realça que precisam de ser feitos mais trabalhos para se determinar os efeitos precisos de diferentes estirpes bacterianas. Mas acrescenta: "Se eu fosse stressado, não me importava de tomar estas bactérias em forma de comprimido".
"Se se tomará probióticos para depressão ou não, só o tempo dirá", prevê Finla.

Fonte: Scientific American

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