segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Células T preparadas para destruir tumores

Cientistas usaram pela primeira vez terapia génica com sucesso para destruir células tumorais em pacientes com doença avançada - um objectivo que levou 20 anos para alcançar.
Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia criaram células T dos próprios pacientes para reagirem contra uma molécula encontrada na superfície de células de leucemia.
As células T alteradas foram cultivadas fora do corpo e infundidas de volta em pacientes que sofriam de leucemia linfocítica crónica (LLC) em fase terminal, uma doenças que afecta a medula óssea e sangue e é a forma mais comum de leucemia.
Dois participantes do estudo de Fase I têm estado em remissão há um ano. Um terço teve uma resposta anti-tumoral forte, e o seu cancro permanece sob controlo. O grupo de pesquisa pretende tratar mais quatro pacientes com LLC antes de prosseguir para um estudo maior de Fase II.
"Nós colocamos uma chave na superfície de células T que se encaixa numa fechadura que apenas as células cancerosas possuem", diz o Dr. Michael Kalos, da Universidade de Pennsylvania e um dos investigadores do estudo.
Os resultados fornecem "um roteiro de ataque de tumor que poderá ser aproveitado para outros tipos de cancro", incluindo os do pulmão e ovários, bem como mieloma e melanoma, segundo os investigadores. As descobertas foram publicadas simultaneamente no New England Journal of Medicine e Science Translational Medicine.
Kalos diz que os esforços do passado para usar a técnica, conhecida como "transferência de célula T adoptiva", falharam tanto porque a resposta das células T foi muito fraca, ou porque provou ser muito tóxica para o tecido normal.

Nova metodologiaA técnica difere de outras terapias projectadas para aproveitar o próprio sistema imunitário do organismo para combater tumores, como vacinas terapêuticas para o cancro.
"Estamos a dizer para esquecer a estimulação de uma resposta do sistema imunitário. Vamos é fornecer uma resposta imunitária", afirma Kalos.
O tratamento parece ser seguro, mas os investigadores dizem que mais estudos são necessários. Os pacientes com leucemia na Fase I do estudo tiveram que ser tratados com uma droga estimuladora do sistema imunitário, uma vez que a molécula-alvo, CD-19, também está presente em certas células normais desse sistema.
Para efectuar a terapia génica, os pesquisadores usaram um vírus que só pode infectar as células uma vez. Foi utilizado para transportar um receptor quimérico para o antigénio CD-19 em conjunto com receptores de dois outros componentes da actividade das células T.
Cerca de duas semanas após a terapia génica, os pacientes começaram a apresentar 'síndrome de lise tumoral' - calafrios, náuseas e febre - causada pelos produtos de degradação de células de cancro que estavam a morrer.
As células T modificadas foram detectadas no sangue dos pacientes durante vários meses depois, e uma parte delas transformou-se em células T de memória, que poderão fornecer protecção contínua contra a recorrência do cancro, conforme suspeitam os investigadores.

Efeitos laterais, viabilidade ainda desconhecidaO dr Walter Urba do Providence Cancer Center, em Portland Oregon, adverte que a presença contínua de células T activadas e células de memória podem ser mais um problema em outros tipos de cancro, onde os efeitos tóxicos sobre os tecidos normais poderiam ser mais graves.
Além disso, a viabilidade a longo prazo do tratamento ainda é desconhecida.
"Uma das grandes perguntas é se as células T persistentes continuam a sua actividade de evitar que o tumor regresse", diz Urba, que não esteve envolvido no estudo.
Todos os financiamentos para o trabalho desenvolvido eram provenientes da comunidade académica, mas o trabalho é caro.
"Estamos à procura de parceiros corporativos à medida que ponderamos desenvolver os ensaios clínicos de Fase II", diz o dr. Kalos.
Um estudo mais aprofundado irá mostrar se os últimos resultados "reflectem um avanço em direcção a uma autêntica terapia clinicamente aplicável e eficaz, ou se não passam de mais um avanço promissor que encontra uma barreira que não pode ser facilmente superada", diz Urba num editorial do NEJM.

Fonte: ABC Science

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