quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Um elefante equilibrado sobre um lápis...

por Matt Collins

Um tweet postado em setembro de 2011 dizia: "Para atravessar uma folha de grafeno com espessura de um filme plástico seria necessário um elefante equilibrado sobre um lápis". A frase, que para muitos pode parecer estranha, teve origem numa fala do professor de engenharia James Hone, da Universidade de Columbia, que em 2008 disse: "A nossa pesquisa estabelece o grafeno como o material mais forte já demonstrado, cerca de 200 vezes mais forte que uma barra de aço. Para atravessar uma folha de grafeno com espessura de um filme plástico seria necessário um elefante equilibrado sobre um lápis". O comentário levantou várias questões como "O que é o grafeno?". O corretor automático de textos não sabe – ele coloca sempre uma linha vermelha debaixo da palavra, insinuando que se tentou dizer outra coisa.
Por sorte, alguns sites que falam sobre o grafeno incluem a definição de um artigo dos físicos Andre Geim e Konstantin Novoselov, vencedores do Prémio Nobel de Física em 2010 pelo trabalho sobre a substância milagrosa: "O grafeno é uma folha planar de átomos de carbono densamente compactados numa grade de duas dimensões e é um ingrediente para materiais de grafite de outras dimensões. Pode ser montado como fulerenos 0D, enrolados como nanotubos 1D ou colocados como grafite 3D." Imagine uma rede de arame, com a diferença de que cada ponto de ligação seria um átomo de carbono. O resultado dessa metamorfose mental é grafeno (bom, grafeno virtual).
Como o professor Hone tem coisas melhores para fazer – descobrir como juntar camadas suficientes de grafeno até chegarem à espessura de um filme plástico, por exemplo – do que lidar com as minhas perguntas, deixo esta parte para si. E assim vamos em frente: o lápis está na vertical ou na horizontal? Vamos considerar que esteja na vertical (afinal, na maioria dos casos um lápis na horizontal é inútil), de tal maneira que todo o peso do elefante fique concentrado num ponto único do grafeno. De que material é feito o lápis? Você não pode esperar que um simples lápis velho aguente o peso de um elefante, certo? Assim, a resposta óbvia seria grafeno enrolado num grande nanotubo (grande para um nanotubo, normal para um lápis). Para que realmente desse para escrever, o fabricante poderia incluir um cilindro fino de grafite dentro do rolo de grafeno – o que me parece pedante.
A próxima questão é: como é que você coloca o elefante sobre o lápis? Espere um segundo, voltemos. É um elefante africano pesando, digamos, quase sete toneladas ou é um elefante asiático, mais modesto, com umas muito mais manipuláveis 4,5 toneladas? Além disso, as duas criaturas têm feitios bem distintos. Talvez você consiga efectuar essa experiência usando o elefante asiático, mas eu não tentaria colocar o elefante africano sobre um lápis, especialmente um elefante-búfalo africano. Ele pode não partir o lápis de grafeno, mas, com certeza, destruiria o laboratório ao tentar livrar-se da experiência. Nem sabemos muito sobre o elefante em questão: ele é adulto ou filhote? Um “elefante-bebé” asiático seria a opção mais viável. Ao chegar perto do grafeno os pesquisadores tocariam o Baby Elephant Walk, de Henry Mancini? Se não, por que não? Afinal, oportunidades como essa não surgem todos os dias.
Outro ponto: o peso do filhote concentrado na ponta do lápis seria suficiente para perfurar o grafeno? Se fosse necessário o peso de um elefante africano adulto, duvido que o do bebé (cerca de 100kg), perfurasse o filme. O couro do nosso adorável elefantinho, porém, não resistiria ao lápis de grafeno superforte. Aí você teria um elefante-bebé asiático sangrando sobre o seu grafeno, uma mãe-elefante tendo um chilique e um protesto do grupo “Pessoas a Favor do Tratamento Ético com os Animais”. No fim, teremos de ir com um elefante asiático crescido – ele próprio dentro de uma lâmina de proteção de grafeno – em cima de uma folha de grafeno, equilibrado sobre um lápis de grafeno. E, ao contrário deste artigo, ele não pode perder o objetivo.

Fonte: Scientific American

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